*Bruno Varella
Nesse sentido, é interessante reproduzir as palavras de um produtor rural mineiro. Nas palavras desse indivíduo, cafeicultor familiar, a antena parabólica foi uma benção na vida dos agricultores, já que permitiu a descoberta dos preços de cada cultura. Até então, era preciso esperar que alguém chegasse e informasse. Essa pessoa podia ser um viajante desinteressado – algo raro – ou um comerciante, que, como é de se esperar, geralmente usava essa assimetria informacional em benefício próprio.
Aos poucos estamos vencendo as barreiras que impediam a chegada da informação aos pedaços mais “isolados” do nosso Brasil. Quando usamos o termo “isolado”, com aspas, o fazemos porque consideramos que essa situação se devia muito mais a variáveis econômicas e tecnológicas do que a um determinismo geográfico. As maiores possibilidades oferecidas a milhões de brasileiros nas últimas décadas, somadas ao desenvolvimento recente nas áreas de telefonia e informática, explicam essa progressiva transformação.
Esse texto, portanto, começa com uma boa notícia: ainda que falte muito a ser feito, é cada vez maior o nível de informação do cafeicultor em relação ao mundo ao redor. Abundam dados sobre o mercado, tendências, entre outros assuntos, e uma rápida pesquisa na Internet é capaz de fornecer opiniões valiosas aos interessados. Não é preciso ir muito longe; o surgimento de sítios como o CaféPoint é uma evidência dessa realidade.
Nem tudo são flores, entretanto. Se estamos avançando nessa conexão entre os cafeicultores e o mundo exterior, a impressão é a de que ainda estamos engatinhando quando o assunto é o conhecimento dos limites e potencialidades “da porteira para dentro”. Em outras palavras, o mesmo produtor que conhece as tendências do mercado e é capaz de identificar as cotações do café nos últimos meses não raramente é incapaz de especificar quais são os seus custos.
Evidentemente, a origem de cada uma dessas informações é absolutamente distinta. O preço é resultado da interação de milhões de indivíduos, utilizando-se de estruturas organizacionais e institucionais complexas. O cafeicultor que liga a televisão em busca da cotação do dia talvez não saiba muito bem a razão daquele “número mágico” ter sido apresentado, mas isso pouco importa. O que buscam os agentes, no final das contas, é uma referência.
O cálculo do custo, por outro lado, depende da aplicação de ferramentas pelo próprio cafeicultor. Da mesma forma, exige um esforço de adaptação à realidade de cada propriedade. Enfim, estamos aqui diante de um exercício mais complexo, porém igualmente fundamental. Logo, a pergunta que fica é: até que ponto adianta saber quanto vale, se muitos não sabem exatamente quanto custa produzir o café?
Quais os desafios para tornar a geração de informação no interior das propriedades mais efetiva? Tratam-se de questões que merecem discussão e, quem sabe, outros textos no futuro próximo.
*Bruno Varella Miranda- Mestre em Administração pela USP