*Bruno Varella
O presente artigo é inspirado nesse espírito. Mais especificamente, buscamos dialogar com o texto publicado por Juliano Tarabal, intitulado “O ‘X’ da Questão”. Muito nos interessou o apelo ali encontrado, de que é necessário aumentar a integração da cadeia, a fim de suavizar os momentos de dificuldade e planejar o futuro do setor. É justamente sobre este tópico que queremos falar nos próximos parágrafos, partindo da seguinte pergunta: qual é a natureza dessa integração com a qual sonhamos?
Concordamos plenamente com qualquer demonstração de apoio a uma maior coordenação entre os distintos elos da cadeia. Gostaríamos, porém, de fazer uma ressalva ou, melhor dizendo, complementar um ponto que o Juliano não explora tão a fundo. Pois bem, mais integração é melhor para o setor apenas se os seus participantes estiverem plenamente conscientes dos desafios a serem enfrentados e das características do arranjo em que estão inseridos.
Em outras palavras, precisamos nos preocupar com a qualidade da informação que chega a cada um dos agentes da cadeia. O que sentimos na atualidade é que muitos não têm consciência das consequências das transformações ocorridas na cafeicultura nas últimas duas décadas. Não por acaso, teriam dificuldade para inserir-se em qualquer ação coletiva e, ao mesmo tempo, assumir uma postura propositiva. Se fomos tão eficientes da “porteira para dentro”, devemos nos perguntar o porquê essas mesmas pessoas que promoveram tais transformações foram tão tímidas na exploração de novas oportunidades de negócio.
Apesar de uma resposta única não existir – são muitas as variáveis envolvidas -, enxergamos considerável heterogeidade nos resultados colhidos pelos produtores. Em certa medida, essas diferenças se devem à percepção dos indivíduos acerca das oportunidades disponíveis e da natureza do negócio. Graças a um maior nível de informação, foram capazes de utilizar as ferramentas existentes e, principalmente, propor novas saídas. Ora, é isso o que queremos: que um número crescente de produtores, por exemplo, possa utilizar a sua imaginação e ajudar a transformar a cadeia.
Esperar que todos os agentes tenham a mesma informação é ilusório. Entretanto, se conseguirmos que estes possuam ao menos um mínimo homogêneo, já teremos dado um grande passo. Uma integração imposta por um pequeno número de indivíduos ou organizações, sejam elas privadas ou públicas, pode ser tão danosa para o setor quanto a “desorganização”. O Brasil, que já possui uma governança relativamente avançada quando se trata de cafeicultura – basta compararmos com outros países, bem mais pobres –, precisa principalmente aprofundar o nível da participação e a construção de consensos.
A fim de assegurar essa dispersão da informação, o mercado pode ser um enorme aliado. Uma das principais vantagens dos mercados “impessoais” – talvez a maior delas – é o fato de permitir a coordenação entre milhões de indivíduos a um custo relativamente baixo. Afinal, não há arranjo melhor para garantir a dissipação de dados relevantes aos agentes. A soma entre um bom funcionamento dos mercados impessoais e o estabelecimento de arranjos inovadores entre os agentes pode contribuir muito para a integração progressiva dos cafeicultores brasileiros às últimas novidades do setor.
Não é segredo para ninguém que oscilações formam a rotina dos mercados, muitas vezes prejudicando alguns de seus participantes. Em certa medida, porém, depende de nós respondermos às oscilações bruscas dos mercados. A natureza do negócio “café” é conhecida de todos os que dele participam, de modo que planejamento de médio prazo é fundamental para o êxito na atividade. Quanto aos movimentos especulativos, concordamos que algo precisa ser feito, embora reconheçamos que uma resposta para essa questão é mais complexa do que gostaríamos de admitir.
Lemos com grande interesse o artigo do Juliano e consideramos que dali nascia uma interessante oportunidade para o debate. Que prospere, assim, o diálogo de ideias entre todos os que desejam um futuro melhor para a nossa cafeicultura. Como diz o título de nosso texto, coordenar é preciso; precisamos discutir, porém, qual a forma como cada um dos participantes desse complexo arranjo participará de sua construção.
*Bruno Varella Miranda- Mestre em Administração pela USP