*Bruno Varella
A curiosa analogia que intitula o presente artigo foi feita por um cafeicultor familiar mineiro, em conversa ocorrida há apenas algumas semanas. Antes, a seguinte pergunta lhe havia sido feita: é possível obter renda da floresta sem que, para isso, as árvores sejam derrubadas? Embora reconhecesse a importância da mata nativa para garantir o suprimento de água e para o embelezamento da paisagem, o produtor concluiu que do “verde” é impossível obter dinheiro.
É essa frase que desejamos usar para inspirar o texto da quinzena. Nosso principal argumento é o de que temos falhado na criação de instrumentos efetivos para socializar os custos da preservação ambiental. Em outras palavras, fomos incapazes de, até o momento, aproximar o indivíduo que preserva o pedaço de mata nativa daqueles que se beneficiam dessa ação; ou seja, todos nós. Como resultado, a polarização em discussões como a do Código Florestal acaba sendo maior do que deveria.
Um interessante debate inicial diz respeito à conveniência de transformar o patrimônio ambiental em uma espécie de mercadoria. Mais especificamente, faz sentido colocar preço em uma nascente, apenas para citar um exemplo? A resposta, ao menos no curto prazo, parece ser “sim”. Em uma sociedade tão guiada por incentivos baseados na lógica econômica, seria difícil produzir uma transformação em larga escala sem a adoção de mencanismos inspirados em princípios semelhantes.
Iniciativas interessantes já existem no Brasil com o objetivo de proporcionar uma alternativa de renda àqueles que preservam um serviço ambiental. Exemplo é o programa “Produtor de Água”, que indica uma rota a ser aprofundada no futuro. Dado o tamanho de nosso desafio para as próximas décadas, porém, estamos atrasados. Nossa dificuldade em consolidar um mercado de carbono efetivo ilustra o quanto precisamos avançar. Informação aos indivíduos é igualmente fundamental; dito de outra forma, precisamos de conscientização acerca das potencialidades associadas à preservação ambiental e da responsabilidade por seus custos.
Desejar que o Brasil cuide de seu valioso patrimônio ambiental deve equivaler a lutar para que todo o conjunto da sociedade reconheça a sua importância e aceite investir em um ativo que fará toda a diferença no futuro. Isso significa, entre outras coisas, convencer o produtor rural que uma árvore em pé pode resultar em uma oportunidade de negócio interessante. Obviamente, palavras bonitas são insuficientes; se não criarmos mecanismos consistentes para a preservação dos chamados “serviços ambientais”, seremos obrigados a dar razão ao produtor que inspirou esse texto, ainda que com uma ressalva: “árvores deitadas”, sobretudo em exagero, podem ser ainda mais perigosas para os humanos no longo prazo.
*Sylvia Saes - Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)
*Bruno Varella Miranda- Mestre em Administração pela USP