Assim como nas espécies animais, também nas plantas existe uma forte interrelação entre o estado nutricional e a resistência às doenças. Plantas bem nutridas, com adubação equilibrada em macro e micronutrientes são naturalmente mais resistentes às doenças, como comprovam inúmeros trabalhos científicos.
Os elementos minerais exercem forte influência na incidência e severidade das doenças. A efetividade e magnitude desta influência dependem das funções que cada elemento tem no metabolismo e nos mecanismos naturais de defesa das plantas, na sua disponibilidade no solo, na interação com outros nutrientes, entre outras coisas.
Para fins didáticos, podemos separar seu efeito sobre a resistência de plantas às doenças em efeitos estruturais e efeitos metabólicos. Vale dizer que em plantas bem nutridas diversos processos e mecanismos podem agir simultaneamente.
Efeitos estruturais – diz-se quando o elemento proporciona aumento da resistência ou da espessura da parede celular, da integridade da membrana plasmática - ou ainda de outras estruturas das plantas - dificultando a penetração dos fungos patogênicos. Os principais nutrientes envolvidos neste tipo de resistência são Cálcio, Boro e Silício.
O Cálcio é essencial à formação de compostos responsáveis pela estabilidade da parede celular e reduz a intensidade de inúmeras doenças nos mais diversos cultivos.
O Boro tem importante papel na estabilidade da membrana plasmática, reduzindo o extravasamento de potássio, açúcares e aminoácidos para fora da célula. Deste modo, plantas mal nutridas em boro, em tese, facilitam a proliferação de fungos e bactérias, pois tendem a apresentar mais substâncias nutritivas livres no espaço intercelular.
O Silício fica depositado entre a cutícula e a epiderme das folhas, promovendo barreira física à penetração de fungos e pragas. Também aumenta a cerosidade e a espessura da cutícula foliar, responsáveis pela maior resistência à penetração de fungos.
Efeitos metabólicos – é o nome que se dá quando os nutrientes participam de “rotas metabólicas”, ou seja, de reações químicas em cadeia dentro das células das plantas que propiciam a formação de compostos químicos que inibem a infecção por patógenos, notadamente os compostos fenólicos. Neste grupo encontram-se principalmente os micronutrientes: Manganês, Zinco, Cobre e ferro. Outros compostos também têm importância na redução da severidade das doenças e sua adequada produção no interior das espécies vegetais está diretamente associada a uma boa nutrição de plantas: são as fitoalexinas, os flavonóides e as auxinas.
Além disto, Boro e Magnésio têm notória função no transporte e metabolismo de açúcares no interior da planta. São responsáveis, portanto, por reduzir a disponibilidade de sacarídeos de baixo peso molecular, bem como de amido nas células que, em altas concentrações, podem propiciar a infecção por patógenos.
O Fósforo, como bem se sabe, está intimamente ligado ao metabolismo energético da planta. Plantas bem nutridas em fósforo tendem a apresentar respostas mais satisfatórias ao manejo integrado de doenças. Há relatos da redução da permeabilidade das membranas celulares e da exsudação radicular, com redução da severidade de podridão radicular (R. solani) em soja com alto teor de fósforo.
Também Nitrogênio e Potássio têm se mostrado importantes indutores de resistência às mais diversas doenças.
Em cafeeiro, inúmeros trabalhos evidenciam a redução da cercosporiose com adequada relação N:K. Também que a adubação nitrogenada tornou mais eficiente o controle químico da cercosporiose, bem como reduziu a severidade da ferrugem.
A experiência de campo tem demonstrado que até mesmo a temível mancha aureolada (bactéria Pseudomonas syringae pv. garcae), doença cuja ocorrência e intensidade têm aumentado nos últimos anos, pode ser significativamente reduzida com bom manejo nutricional.
Vale lembrar que alguns nutrientes têm mobilidade extremamente limitada no floema, sendo necessária a aplicação de fontes de boa disponibilidade no solo e não apenas na adubação foliar.
Em síntese: teoria e prática têm demonstrado que, com conhecimento e acompanhamento técnico, é possível estabelecer criterioso programa de nutrição mineral que reduza a intensidade do ataque de patógenos, aumentando a eficácia do manejo integrado de doenças e maximizando produtividade e lucro.
Texto adaptado e modificado do Boletim Técnico no 73/2004 da Epamig (Interação entre as doenças e o estado nutricional do cafeeiro), cuja referência encontra-se abaixo.
REFERÊNCIAS:
MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. New York: Academic Press, 1995. 889p.
POZZA, A.A.A et al. INTERAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS E O ESTADO NUTRICIONAL DO CAFEEIRO – Belo Horizonte: EPAMIG, 2004. 84 P. (EPAMIG. Boletim Técnico, 73).