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A busca por um novo enfoque na pós-colheita (ou "um gargalo chamado terreiro")

GUILHERME JULIANO BRAGA DA ROSA

EM 20/07/2012

5 MIN DE LEITURA

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Apesar de todos os avanços em diversos elos da cadeia café, das tecnologias genéticas no melhoramento, das técnicas de cultivo e mecanização e até das novas e surpreendentes modalidades de preparo da bebida, existe um gargalo, um ponto extremamente frágil do processamento, onde o trabalho de todo um ano de cultivo pode se perder: a pós-colheita.

Por pós-colheita entende-se o tratamento, conservação e armazenamento dos produtos agrícolas logo após a operação de colheita até o consumo ou processamento. No caso do café brasileiro, a quase totalidade do café ainda passa, ao menos por alguns dias, por uma etapa em que a capacidade de ação do homem é limitada e a exposição às intempéries do clima é total: o terreiro. Não me lembro de nenhum outro produto agrícola de alto valor que tenha ainda um processo de pós-colheita tão dependente da rudimentar secagem ao sol. A excessão talvez seja o cacau, que utiliza amplamente os terreiros, embora muitos sejam cobertos.

Apesar do baixo custo energético da secagem em terreiros, as chuvas deste 2012 mostraram mais uma vez o quão frágil e exposto fica nosso produto durante sua passagem por estas estruturas a céu aberto. Além disto, apresentam outros inconvenientes:

  • Alta imobilização de capital
    Uma fazenda cafeeira do sul de Minas tem 1,5 a 2,0 m2 de terreiro para cada saca de café produzido num ano de bienalidade alta. Esses são valores médios, mas podem variar grandemente em função da velocidade que se pretende imprimir à colheita e da presença ou não de secadores, bem como de sua quantidade.
    Um bom terreiro de concreto usinado acabado (terraplanagem, concretagem e acabamento) custa cerca de R$ 40,00 por metro quadrado. Seu similar de asfalto não fica por muito menos que isto. Existem opções de materiais de baixo custo, como lama asfáltica e lama-cimento, mas têm lá seus inconvenientes: vida útil limitada, restrição ao trânsito de máquinas e caminhões pesados, manutenção constante. Quanto ao de terra nem se fale, haja visto a dificuldade de operação e a depreciação do café em regiões com frequentes chuvas outonais.



  • Alto custo de operação
    Também não é nada barata a operação de secagem em terreiros, dada a necessidade de revolvimento constante da massa de café sobre sua superfície. Com o aumento brutal do custo da mão de obra, muitas propriedade têm optado pela mecanização do terreiro com microtratores ou motocicletas, o que melhora a relação m2/homem. Ainda assim são elevados os seus custos, tendo em vista que, para uma boa secagem, deve se rodar o café 8 a 10 vezes ao dia e colocar apenas 30 a 35 litros1 de café por m2, o que resulta em grande área para se percorrer diariamente com o implemento.



  • Pouca gestão sobre pontos críticos
    Existe pouca possibilidade de gestão numa operação do porte de um terreiro, normalmente com milhares de metros quadrados. Agentes externos têm alto impacto sobre o café neste tipo de estrutura. Chuvas e sereno são inimigos da qualidade e, a não ser em terreiros cobertos (que são exceção), agem diretamente sobre o produto. Devido à sua área extensa, é difícil também a restrição ao acesso de animais e pessoas estranhas.
    Um bom exemplo de gestão da pós-colheita são as packing houses modernas (galpões de processamento de frutas). Possuem plantas e operações parcialmente automatizadas, com gerenciamento de pontos críticos e estabelecimento de “áreas limpas”: locais onde todos os controles são mais rigorosos.


Terreiro sob chuva: ponto de estrangulamento da cadeia.


Não há como não se pensar em alternativas efetivamente mecânicas de revolvimento e de secagem, onde ventiladores, centrífugas, motores, polias e engrenagens façam todo trabalho no interior de galpões, operados apenas por um trabalhador qualificado – lidando com grandes quantidades de produto.

Para que isto chegue ao café é preciso que a água livre do grão seja retirada rapidamente, ou que as cerejas fiquem em constante revolvimento, a fim de que não tenha início qualquer tipo de fermentação anaeróbica, indesejável à qualidade do produto. Há no mercado máquinas que se propõem a retirar rapidamente a água externa por centrifugação, ventilação, bem como diferentes tipos de silos secadores, em que os grãos podem ir com umidade mais alta (20 a 22%) devido ao fluxo forçado de ar (SILVA, NOGUEIRA & MAGALHÃES, 20082). Em nenhum dos dois casos consegue-se ainda prescindir totalmente do terreiro, especialmente quando se trata de cafés mais úmidos, mas reduz-se bastante o tempo de permanência do produto sobre ele. O cereja descascado (CD) sem dúvida contribuiu muito para o avanço deste conceito, na medida em que diminuiu o volume a secar e acelerou a velocidade da secagem. Entretanto, a rapidez com que passa de estágio na árvore é grande (cereja a seco), principalmente em regiões quentes ou em anos de períodos de colheita chuvosos. Isto obriga a uma “compressão do tempo de colheita” e ao aumento das estruturas de via-úmida para se retirar a maior % de CD possível. Portanto as soluções completas de intensificação da pós-colheita devem focar também nos demais cafés, especialmente no bóia.

Entendo que as saídas que hoje se tem para este imbróglio são parciais. Ou não estão 100% conectadas. Sem dúvida uma área que deve imperiosamente avançar, sob duas perspectivas: 

  • Redução do custo energético e de equipamentos das soluções mecanizadas de pós-colheita;

  • Manutenção da qualidade do café na pós-colheita mesmo em anos atípicos, de alta precipitação e umidade no período de manipulação.


A pós-colheita de cereais, oleaginosas e mais tardiamente de frutas e hortaliças, já trilhou o caminho da automação e seus procedimentos foram totalmente internalizados em galpões e barracões. Isto evitou a manipulação dos produtos em lugares expostos às intempéries. Além disto, resultou em ganho de escala, aumento da eficiência e melhoria da gestão dos processos. Já não é sem tempo que tais avanços sejam levados à cafeicultura, pois o cafeicultor não pode cuidar de seu produto na árvore por 270 dias com tanto esmero para que uma chuva de apenas 15 minutos sobre o terreirão o deprecie.

1: 30 a 35 litros/m2 de terreiro para café natural. No caso do CD este número é ainda menor.

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ELMO GUIMARÃES BUENO

CASTELO - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 02/10/2012

Estes artigos e comentários vêm despertando o interesse e a curiosidade das pessoas para a solução dos problemas enfrentados para a melhoria da qualidade dos produtos após a colheita. Outros tipos de grãos também precisam de cuidados especiais, no pós colheita.
É preciso experimentar outros tipos de dispositivos para diminuir o tempo de secagem e manter a qualidade dos produtos.
Um grande abraço
Elmo.
VIAVERDE CONSULTORIA AGROPECUÁRIA

SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 14/09/2012

Professor Juarez

Suas contribuições são valiosas.
Acredito no silo secador como parte importante da solução da dependência do cafeicultor frente aos terreiros.
Vale realmente a pena divulgar!!
Forte abraço!

JUAREZ DE SOUSA E SILVA

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 13/09/2012

Prezados amigos: Sou o prof. Juarez de Sousa e Silva (UFV/Embrapa-café). Já demos um grande passo para solucionar esse grave problema. Concordo plenamente que o terreiro tradicional é mesmo o gargalo da cafeicultura. Publicamos um material simples, dedicado ao pequeno cafeicultor e que é de igual importância para o grande. Trata-se do livro "Infraestrutura Mínima para Produção de Café de Qualidade" Nesse livro você encontrará as soluções sugeridas por nossa equipe. Vale a pena divulgar. Veja o material no link abaixo:
https://issuu.com/juarezufv/docs/infraestrutura_m_nima_para_caf__de_qualidade_final
Um abraço para todos
Juarez de Sousa e Silva
VIAVERDE CONSULTORIA AGROPECUÁRIA

SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/09/2012

Caro Dr. Albino Rocchetti

Satisfação tê-lo por aqui!
Tal centrífuga é uma das alternativas a que me refiro quando falo de "retirar água por centrifugação".
Pude conhecer a máquina na última Expocafé e entendo que é um mecanismo interessantíssimo - e de baixo custo energético! Portanto deve ser uma das boas opções para retirada da água livre - reduzindo tempo de secador e eliminando substancialmente a necessidade de terreiros!
Grande abraço!
ALBINO JOÃO ROCCHETTI

FRANCA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/09/2012

Prezado Guilherme, saudações,
concordando com você a respeito das dificuldades pós colheita, e do gargalo "terreiro",
a título de colaboração, lembro que o colega Andréas Nick, criou r está patenteando uma centrífuga que retira a água externa do cereja descascado, bem como dos grãos naturais, após lavagem.
Esta centrífuga consegue reduzir consideravelmnete o tempo de secagem, pois ao reduzira a água externa, já enxuga os grãos e estes não molham o terreiro quando esparramados.Já é um avanço.
contatos: nicknickorigem do brasil.com.br
Abraços, Eng. Agro. Albino João Rocchetti - Franca - SP
VIAVERDE CONSULTORIA AGROPECUÁRIA

SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 13/09/2012

Prezado Elmo

Obrigado pelas considerações.
Concordo contigo: a estufa é parte da solução para pequenos produtores, principalmente em regiões mais sujeitas às chuvas de outono, como a zona da mata e
resolve muito bem a questão climática.
Forte abraço.
ELMO GUIMARÃES BUENO

CASTELO - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 13/09/2012


Uma das soluções para as pequenas propriedades é a estufa de plástico trasnparente que apresenta um custo mais baixo. Além de confinar grande quantidade de calor oferece a proteção contra a chuva e o sereno da noite. Apresenta um inconveniente de ser muito quente,para quem vai mexer o café. Não disponho de informação sobre a durabilidade da instalação.
Atenciosamewnte
Elmo Guimarães Bueno
BÉRTHALO FRANCO

CARATINGA - MINAS GERAIS

EM 08/08/2012

Guilherme,
obrigado pelo retorno e pelas importantes informações. Como pequeno produtor, estou em busca constante de aprendizado para melhoria de qualidade e maiores retornos.
VIAVERDE CONSULTORIA AGROPECUÁRIA

SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/08/2012

Prezado Bérthalo

As soluções de que dispomos hoje passam em primeiro lugar pelo descascamento ou pela degomagem do café, que são os primeiros passos para se acelerar a perda de umidade. O gargalo desta etapa é o consumo excessivo de água, mas os equipamentos tem melhorado substancialmente quanto a isto.
O segundo passo é a rápida secagem da água livre; a centrifugação tem se mostrado promissora para este fim.
O terceiro passo requer fluxo forçado de ar com alta temperatura e/ou baixa umidade, para retirada da água fortemente retida. Portanto secadores num primeiro momento; e silos-secadores de fluxo contínuo de ar logo após. Os modelos desenvolvidos pela Universidade Federal de Viçosa são um bom exemplo.
Um processo que se utilize de todas estas vias combinadas tem potencial para reduzir drasticamente o uso de terreiros. E aproveitando o que cada equipamento tem de melhor em economia de energia e manutenção da qualidade em cada etapa para a qual se destina.

Atenciosamente,
BÉRTHALO FRANCO

CARATINGA - MINAS GERAIS

EM 01/08/2012

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