Nascido e criado em Bela Vista de Goiás, município pacato mesmo num Estado como Goiás, Amarildo viveu uma infância como muitos hoje pelo mundo afora. Família do meio rural o futuro nem sempre é promissor. Assim, aos 15 anos era servente de pedreiro. Profissão nobre. Mas, sem dúvida, sem muita perspectiva em termos de renda e de cultura acadêmica. Bastante jovem ainda, percebeu que se quisesse crescer teria que mudar para a Capital. Foi o que fez. Em Goiânia já ensaiou os primeiros estudos. Arrumou emprego no banco – ou o Agrobanco, para ser mais preciso. Nem datilografia sabia então.
Na época, um bancário não saber operar uma máquina de datilografia era vergonhoso. Em termos comparativos é como se atualmente não soubesse operar um computador. Pelo menos o básico. Oriundo do interior do Maranhão, João Alves Barros, seu chefe imediato, compreendeu a situação. Sentiu no funcionário o interesse em progredir, deu-lhe a sugestão do aprendizado de datilografia. Curso rápido e a vontade em aprender, logo Amarildo superaria a dificuldade. Seguiu carreira num banco que depois seria fechado, a exemplo de muitos outros, pelo Banco Central.
Amarildo nunca se deixou abater pelas adversidades. É como atualmente ele diz. “Nunca andei em trilhas. Sempre fui de desbravar o meu próprio caminho em busca de meu espaço”, ensina. Na região onde nasceu ele resolveu comprar umas terras, o que agradou bastante seus pais, que sempre preferiram manter suas raízes na Bela Vista de Goiás, onde todo mundo conhece todo mundo.
Na Estância Tamburil, Amarildo, casado com dona Rita de Cássia, uma companheira de todas as horas, e com o filho Bruno Anderson, cuida de cerca de 300 cabeças de Gir top de linha. A propriedade é modelo e, por isso mesmo, atrai dezenas de criadores de Goiás, Brasília, Minas Gerais e São Paulo. Seus índices de produção alcançam níveis surpreendentes. A produção média de uma matriz leiteira é de 20 quilos por dia, quase três vezes a média brasileira.
Seu pai é o seu ídolo maior, motivado pelo exemplo de dignidade. Num universo onde a prática comum é a busca sem limites pelos bens materiais, Amarildo aprendeu com o “velho” o respeito e a relevância da amizade. Ao lembrar de sua infância difícil do pacato interior, Amarildo agradece os esforços de seu pai por sua educação. As lágrimas correm em seus olhos contagiando os familiares e amigos.
“Eu não esperava chegar aonde cheguei hoje”, confessa o novo mago das finanças que tentará conviver com o cenário de sua pacata fazenda, onde os pássaros praticam verdadeiro balé nas pastagens ao mugido das dóceis vacas Gir e do assobio do vento nas frondosas árvores da Estância Tamburil. O outro cenário será da movimentada Avenida Paulista, a Manhattan brasileira, onde as aves nem as matrizes zebuínas têm vez. Mas, onde parte do dinheiro do mundo é movimentado confirmando a opulência econômica e financeira.
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Wandell Seixas é jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, bolsista pela Histradut em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste.