O sucesso empresarial é resultado de esforços múltiplos e permanentes. A capacidade de gerar lucro constrói-se através da adaptação contínua ao mercado que se encontra em constante evolução. Perante essa perspectiva, a pecuária está prestes a realizar um salto qualitativo em todas suas frentes de negócio. Para não desperdiçar energias e para envolver outros parceiros na ampliação e modernização da atividade, a abordagem da questão sucessória deve começar com a definição do novo posicionamento da bovinocultura num ambiente de forte transformação.
O cenário
O nosso tempo é marcado pela globalização, pelo progresso tecnológico acelerado e pela sofisticação cada vez maior de tudo ao nosso redor. Complexidade, dinâmica e individualização passaram a ser as principais referências para a modernização dos planos de negócio. Isto vale para todos os setores e, assim, também para o setor da carne.
No entanto, a pecuária de corte diferencia-se da maioria dos outros negócios. Sendo tomador de preço antes e depois da porteira, a margem de manobra fica limitada à gestão de custos na fazenda. Os frigoríficos, pressionados pelo varejo, porta voz das exigências do consumidor, ditam as regras no que diz respeito a critérios mínimos de qualidade, sanidade e práticas de manejo. Nessa frente o produtor tem que se adaptar ao padrão do mercado. De outro lado da porteira, as indústrias de insumos oferecem tecnologias, produtos e soluções que permitem a melhora da qualidade e, ao mesmo tempo, o aumento de produtividade que resultará em menores custos unitários.
Esse é o cenário para a produção bovina dos próximos tempos. Além desse panorama, haverá a concorrência de novos entrantes na pecuária, nomeadamente de agricultores e processadores de matérias vegetais que procuram na bovinocultura a redução de seus custos fixos com outras atividades.
O desafio
A elevação dos níveis tecnológicos e de comercialização obriga o produtor a promover a modernização contínua dos múltiplos processos que ocorrem simultaneamente no sistema produtivo da sua fazenda. A cada mês somos confrontados com novos produtos, soluções mais integradas e modelos sofisticados de gestão de risco (opções) e de financiamento da nossa atividade (créditos para investimento e de custeio, troca de produtos por insumos – barter, etc.). O que é necessário para ganhar essa batalha contra a avalanche de novidades e pressões do mercado?
A solução
Situações complexas dificilmente podem ser resolvidas com soluções simples. Se os desafios tecnológicos, gerenciais e comerciais estão crescendo, temos que procurar aliados para a condução do nosso negócio. A ampliação das opções tecnológicas desde as genéticas de plantas e animais até o novo enquadramento jurídico do Código Florestal exige a atualização contínua da nossa atividade. Somente uma nova divisão de trabalho conseguirá atender a esses desafios de toda ordem.
Como nos outros setores, a estrutura de comando da produção bovina precisa migrar da tradicional forma hierárquica em direção de uma estrutura mais aberta e a gestão em rede. O proprietário precisa aprender a substituir o estilo de gestão ‘com a mão na massa’ para a gestão de interfaces de conhecimentos. Esse novo conceito requer a delegação de grande parte de decisões do negócio para terceiros. Esses podem ser os possuidores de conhecimentos tecnológicos avançados (técnicos) ou o pessoal da nossa equipe que está mais perto do trabalho com pasto, animais e máquinas (gerente e capatazes). O proprietário volta a ser empreendedor e deixa de ser gerente!
O gráfico sobre a rede das pessoas que constituirão o novo modelo de negócio da pecuária competitiva realça o futuro papel do dono, que evolui de gestor de fazenda para gestor de negócio. Pois, devemos sempre lembrar que numa situação de tomador de preço, a principal forma de assegurar lucro é através de alianças estratégicas com os profissionais que são especialistas nos diversos campos do conhecimento.
O dinheiro ganha-se com a produtividade e produtividade é sinônimo de incorporação contínua de novas tecnologias e práticas gerenciais modernas (inclusive formas avançadas de financiamento e gestão de risco). O proprietário observa o mercado, elege tecnologias compatíveis com sua realidade e providencia os meios que permitam a aplicação dessas novas práticas por sua equipe de campo. Trata-se de um novo patamar de conduzir o negócio do boi.
A sucessão
Todavia, o ser humano é produto do seu ambiente. Se durante a maior parte da nossa vida nossa maneira de pensar tem sido linear e sequencial (ou seja, lógica) dificilmente estamos preparados para uma realidade em que ‘ tudo muda o tempo todo’ e com velocidadecada vez maior. O nosso filho recém-formado, especialista nos ‘vídeo-games’ de aplicações virtuais que aprendeu num curso da BM&F, é capaz de ganhar mais dinheiro com a blindagem dos nossos bois do que nós com o trabalho na fazenda. Isso não quer dizer que ele esteja certo e nós errados, ou vice-versa. Quer dizer que hoje, e ainda mais no futuro, o lucro precisa ser buscado em todas as interfaces de nosso negócio com os outros parceiros da cadeia da carne e não apenas dentro da porteira. Devemos, assim, aproveitar a nova inteligência da chamada ‘geração Y’ que nem sempre compreendemos em seus pensamentos e atitudes.
Quando falamos da ‘sucessão’ focamos na convergência de conhecimentos e na complementação de modos de encarar o mundo e o negócio. Nada melhor do que concretizar essa parceria entre gerações na própria casa. É mais do que evidente a chegada do apagão de mão de obra no campo. Assim, convêm combinar o útil (acesso a pessoal qualificado e comprometido) com o desejável (manter e desenvolver um negócio familiar).
Por existir uma visão equivocada que confunde sucessão com herança, torna-se importante iniciar o processo de integração de jovens familiares na gestão do negócio 10 a 15 anos antes de provável retirada do atual dono para a bem merecida terceira idade que, hoje, é muito mais excitante do que antigamente. São principalmente dois motivos que recomendamessa passagem de bastão gradual e em tempo de pleno funcionamento da fazenda. Primeiro, a geração dos produtores que hoje tem filhos que estão se formando dificilmente terão a vontade e o embasamento técnico para acompanhar as inovações que se avizinham em todas as frentes da atividade. Aí a combinação da sabedoria de conduzir pessoas e processos do pai com a capacidade de entender e adaptar tecnologias de ponta do filho representa a solução ideal para promover a modernização contínua.
O segundo aspecto é a gestão de interesses dos futuros herdeiros no contexto do legado familiar do negócio. Nem todos os herdeiros possuem vocação ou interesse para assumir a fazenda. Além disso, uma propriedade de porte médio normalmente não comporta mais de um executivo. Por outro lado, o filho (ou sobrinho) sucessor encontra-se numa situação bem diferente do atual dono. Ele não poderá tomar decisões sem consultar os outros ‘sócios’. Ou seja, além de ser mais complexo gerenciar a pecuária moderna, existe o outro desafio de prestar contas e resolver conflitos objetivos e subjetivos entre os herdeiros.
Tudo isso é possível, mas precisa ser treinado. Todos, que são pai, filho sucessor e outros herdeiros, podem e devem contribuir para a reestruturação da empresa familiar. Mesmo com ventos mais ferozes de competitividade a terra e o boi continuarão a existir. Serão os pecuaristas que não se adaptam ao novo ambiente de negócio que deixarão a atividade, entregando seu potencial para outros produtores. Estatísticas nacionais e de outros países indicam que esse processo de abandono costuma ser acompanhado de perdas patrimoniais e desentendimentos familiares.
Tanto o novo modelo mais aberto do gerenciamento da bovinocultura como a diminuição gradual do envolvimento do pai e do envolvimento crescente com filho sucessor são os desafios a serem vencidos. Por estes motivos, parece valer a pena tentar, com a devida antecedência, implementar o novo conceito da ‘gestão compartilhada’ entre as gerações e com oselos antes e depois da porteira.
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