Como principal organismo intergovernamental responsável por abordar os desafios enfrentados pelo setor cafeeiro mundial, a Organização Internacional do Café (OIC) realizou a 114ª Sessão do Conselho Internacional do Café entre os dias 2 e 6 de março, em Londres.
A Comissão Nacional do Café da CNA, através da assessora técnica Natália Fernandes, fez parte da delegação brasileira que representou o Brasil na referida Sessão. Além da CNA, a delegação brasileira foi composta por: Rodolfo Osório de Oliveira, diretor do Departamento do Café do MAPA; João Cruz Reis Filho, secretário de Agricultura de Minas Gerais; deputado federal Evair Vieira de Melo; deputado federal Silas Brasileiro, presidente executivo do Conselho Nacional do Café (CNC); Márcia Chiarello assessora do CNC; Embaixador Claudio Frederico de Matos Arruda; e pelos representantes da Embaixada do Brasil em Londres, Conselheiro Joaquim Pina e Paulo Márcio Rodrigues.
2. Reunião de alinhamento de posição e reunião do Conselho Internacional
Antes do encontro, a CNA participou de reunião na Embaixada do Brasil no dia 1º de março, a fim de alinhar a posição brasileira em relação aos diversos assuntos que seriam debatidos na 114ª Sessão do Conselho Internacional do Café da OIC. Na ocasião, destacou-se a necessidade de que, através do Embaixador Claudio Frederico de Matos Arruda, o Brasil pedisse a palavra durante reunião do Conselho para informar que mesmo diante das adversidades climáticas que atingiram as regiões produtoras de café no Brasil, o País terá condições de suprir a demanda mundial pelo produto.
Durante a reunião do Conselho Internacional, o Embaixador apresentou um vídeo institucional que promove a sustentabilidade do setor cafeeiro no Brasil. O material mostrou às delegações dos países importadores e exportadores a pujança da cafeicultura nacional, enaltecendo o caráter familiar da produção, a rígida legislação ambiental, a rica biodiversidade, a preocupação social, a proteção à infância e o maior volume de produção certificada/verificada do planeta. Garantindo a divulgação global deste trabalho, o link para acesso ao vídeo foi disponibilizado no site e nas redes sociais da OIC e também pode ser conferido no Youtube, em suas versões em português e inglês.
3. Perspectivas do mercado cafeeiro
O chefe de operações da Organização Internacional do Café, Sr. Mauricio Galindo, apresentou o atual cenário do mercado mundial, destacando que, após duas temporadas consecutivas de excedente na oferta, em 2014/15 será registrado déficit, frente à produção global prognosticada em 142 milhões de sacas e ao consumo de 149 milhões de sacas. Segundo Galindo, a produção de arábicas será 2,8% inferior, e a produção de robustas 3,7% inferior ao registrado na safra 2013/14. Ele reportou que os estoques acumulados ajudarão no abastecimento do mercado, mas não indefinidamente, o que deve resultar em alta nos preços, haja vista que a demanda continua aquecida, especialmente nos mercados tradicionais, e há grande potencial de crescimento nos países emergentes e nos produtores.
Dentre os principais exportadores de café do mundo, os seguintes países devem apresentar redução de produção: Brasil (-7,8%); Indonésia (-23%); México (-0,4%); e Peru (-21,6%). Colômbia deve produzir 3,1% acima da safra anterior, enquanto Etiópia, Índia e Honduras devem aumentar o volume colhido em 1,5%, 8,7% e 18,2%, respectivamente.
Em relação ao consumo, prevê-se que a taxa de crescimento de consumo dos mercados tradicionais deve se manter em 1,6%.
Galindo explicou que a queda brusca dos preços ao longo de fevereiro ocorreu em função do retorno das chuvas no Brasil — ainda que não permitam a recuperação das perdas ocasionadas pelo grave cenário de falta d’água, altas temperaturas e déficit hídrico registrado em 2014 e janeiro de 2015 no País —, o que acelerou as vendas e fez as exportações mundiais somarem um volume recorde de aproximadamente 112 milhões de sacas, superando as 108,9 mi/scs de 2013 e o maior volume anterior, de 2012, com 110,8 mi/scs. Ele apresentou que todos os indicadores do arábica recuaram, enquanto o do robusta subiu levemente, fato que deve criar certa resistência para a continuação das quedas nos preços dos arábicas.
4. 5º Fórum Consultivo sobre Financiamento do Setor Cafeeiro
O 5º Fórum Consultivo sobre Financiamento do Setor Cafeeiro promoveu uma troca de opiniões sobre como estruturar um projeto com eficácia para obter financiamento, aprofundando as questões discutidas na edição anterior, em setembro de 2014. O evento contou com apresentações de diversos bancos multilaterais e de agências financiadoras sobre a mecânica do financiamento de projetos de desenvolvimento do setor cafeeiro e os fatores chaves para a elegibilidade ao crédito. Estiveram presentes representantes do Banco Mundial, Banco de Desenvolvimento da Ásia, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco de Desenvolvimento Africano, IDH, DEG, USAID, Fundo de Desenvolvimento de Commodities, Fundo Comum para Commodities e Rabobank.
O Grupo Central notou que não haveria tempo suficiente para realizar o 6º Fórum Consultivo em Milão, em setembro de 2015, nem na Etiópia, em fevereiro de 2016. O Fórum, portanto, se realizaria em Londres, em setembro de 2016. Como isso em mente, discussões detalhadas para o 6º Fórum foram adiadas até a próxima reunião. Os Membros do Grupo Central, porém, foram convidados a encaminhar à Secretaria ideias sobre o tema e os oradores para o evento até 30 de agosto de 2015.
5. Junta Consultiva do Setor Privado
a. Ferrugem do café: o representante da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) atualizou as informações sobre o trabalho da Agência sobre a ferrugem do café na América Central, enfatizando que a crise da ferrugem não acabou, mas, sim, que ela estava aparecendo menos nas notícias. Ainda havia necessidade de pesquisa, financiamento, assistência técnica e coordenação. A USAID vinha trabalhado em parceria com organizações e fundações como a World Coffee Research, Root Capital, Smuckers e TechnoServe para equacionar os problemas, além de financiar o cargo de um coordenador no PROMECAFÉ na Costa Rica. Na discussão deste item, observou-se que, no 5º Fórum Consultivo sobre Financiamento do Setor Cafeeiro ficara claro que havia uma quantidade considerável de recursos disponíveis para projetos, mas parecia haver uma desconexão entre a disponibilidade e a efetiva disponibilização dos recursos à agricultura.
b. Visão 2020: representante da Associação 4C fez uma apresentação sobre o trabalho da força tarefa Visão 2020, enfatizando o uso de ação coletiva para unir os segmentos da cadeia produtiva e combinar recursos. Tratava-se de uma iniciativa contínua, com um workshop agendado para abril de 2015, para prosseguimento das discussões sobre esse trabalho, e a Junta era convidada a participar. A SCAA e a Speciality Coffee Association of Europe (SCAE) confirmaram que gostariam de estar representados no workshop. A JCSP também discutiu o Memorando de Entendimento que se propunha a OIC firmasse com a Associação 4C e a Iniciativa de Comércio Sustentável (IDH) e conveio em que o Memorando seria um passo significativo na promoção de colaboração.
6. Comitê de Projetos
Promover o desenvolvimento sustentável como meio de alcançar o progresso social e econômico nos países produtores de café, bem como promover o consumo do produto, tem sido um dos principais objetivos da Organização. Nesse sentido, a OIC assinou um Memorando de Entendimento com a Associação 4C e a Iniciativa de Comércio Sustentável (IDH), como forma de promover a sustentabilidade do mercado mundial de café em longo prazo, mantendo o foco no produtor rural.
Um dos objetivos dessa cooperação é dimensionar de forma eficiente as iniciativas existentes nos países-membros produtores e preencher as lacunas existentes. A criação e estabelecimento de níveis de sustentabilidade, por exemplo, pode trazer maior transparência ao mercado mundial do produto.
Uma parceria com a IDH e a Associação 4C acrescentaria instrumentos ao processo de seleção de projetos pela OIC, e qualquer proposta de projeto seria comentada e, se apropriado, apoiada não só pela OIC como também pela IDH. Os projetos, assim, se beneficiariam da perícia do setor privado e do setor público. Esse trabalho seria feito concomitantemente com o que o Comitê de Projetos faz atualmente e de forma alguma substituiria o trabalho do Comitê.
7. Comitê de Estatísticas
Também visando a transparência, outro tema bastante discutido foi o aperfeiçoamento das estatísticas do setor. Recentemente foi criada uma Mesa-Redonda de Estatísticas para melhorar a qualidade dos levantamentos da Organização. Durante reunião do Comitê de Estatísticas, um representante da Mesa-Redonda, o Sr. Euan Mann, da Complete Commodity Solutions, apresentou as inconsistências dos dados de produção e dos estoques publicados pela OIC a partir de informações dos países-membros produtores.
Conforme apresentado, dos 40 países-membros exportadores apenas 5 (representando 51,4%) cumpriram os requisitos estatísticos da OIC, enquanto 8 (6,4%) tiveram boa adesão e 9 países (11,3%) tiveram cumprimento parcial. Além disso, 15 países não cumpriram inteiramente com a suas obrigações estatísticas, sendo um deles o Vietnã. As exportações totais por estes países representam 20,7% da média das exportações de café nos últimos quatro anos.
A Delegação da Indonésia informou que estão buscando uma nova metodologia para o levantamento dos dados no país e solicitou o apoio da OIC. Quanto ao Vietnã, não houve esclarecimento, já que nenhum representante estava presente no plenário.
Os resultados mostram uma grande lacuna nas estatísticas produzidas e fornecidas pelos países-membros produtores, o que afeta a credibilidade da OIC, além de intensificar a volatilidade das cotações e comprometer o planejamento dos negócios cafeeiros.
Até a próxima Sessão do Conselho Internacional do Café que será realizada em setembro de 2015, o Comitê de Estatísticas ficou estudar uma forma de incentivar os países a se empenharem no aperfeiçoamento de suas estatísticas.
Posteriormente, o Chefe de Operações apresentou o relatório sobre as assinaturas das publicações estatísticas da OIC. Notou-se que a Secretaria conseguira um aumento significativo da receita proveniente das publicações estatísticas o ano passado. Recomendou-se que ela levasse adiante sua atual política de divulgação de dados estatísticos.
Vale destacar a importância de que o Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, invista no aprimoramento de suas estatísticas de produção e estoque, visando corrigir as inconsistências, subsidiar as tomadas de decisões pelo setor e transmitir credibilidade ao mercado mundial.