A cafeicultura é uma das atividades ligadas à agricultura brasileira e possui grande importância econômica, pois em sua cadeia produtiva milhões de empregos são gerados, assim como elevado capital de giro por meio das negociações pertinentes ao agronegócio café. Sobretudo, a produtividade da cultura ainda é baixa, oscilando na casa de 22 sacas de 60 kg beneficiados por hectare, ou seja, muito aquém do que se espera do Brasil. Neste sentido, diversos fatores interferem na produtividade, sendo eles a nutrição, a incidência de pragas e doenças, o clima, entre outros fatores. Desta forma, cada vez mais são necessárias tecnologias que visem elevar a produtividade nacional e otimizar o sistema de produção de toda a cadeia do café.
Dentre os fatores anteriormente citados, a praga de maior importância agronômica na cafeicultura é o bicho-mineiro. Desta forma, esta praga é caracterizada por ser uma mariposa pequena, com ciclo de vida completo (metamorfose completa), ou seja, seu ciclo se inicia na fase de ovo evolui como lagarta, pupa ou crisálida e posteriormente se torna adulta. Cada mariposa põe em média 36 ovos em um período de até 25 dias, justificando assim sua importância, pois devido ao ciclo curto, a infestação é muito rápida e severa.
Como características a mariposa pertencente a ordem Lepdoptera, sendo da espécie Leucoptera coffeella. Os hábitos do inseto são noturnos, onde os mesmo se escondem nas folhagens durante o dia, e ao entardecer realizam suas atividades de postura e predação das folhas.
Figura 1. Mariposa que origina as larvas do bicho-mineiro
Sintomas
O bicho-mineiro possui esse nome pelo fato das larvas penetrarem nas folhas e se alimentarem do tecido, deixando um vazio entre as duas epidermes da folha, conhecidas como “minas”. Essa região posteriormente se transformará em manchas necróticas reduzindo assim a área fotossintética da planta. Outro dano que pode ocorrer é a desfolha interferindo na produção, na formação de botões florais e no pagamento da florada. Dessa forma, dependendo da intensidade dessa praga além de afetar a produção do ano de infestação, ela pode afetar também a safra seguinte, isto por que devido aos danos à atividade metabólica da planta, o ramo vegetativo terá seu crescimento reduzido, e consequentemente menor produção no segundo ano do biênio.
Figura 2. Crisálida e larva do bicho-mineiro nas folhas de cafeeiro
Regiões com maior incidência
O clima é um fator de enorme influência nos ataques desta praga, sendo mais ocorrente em regiões com temperaturas elevadas associadas a estiagens e baixa umidade relativa, período que vai de março a setembro. Outros fatores também afetam a incidência dessa praga, dentre eles podemos citar o uso excessivo de inseticidas que podem interferir no equilíbrio de inimigos naturais do bicho-mineiro, adubações insuficientes deixando as plantas mais sensíveis ao ataque e espaçamentos mais largos, que propiciam maior circulação do ar, sendo o vento um fator de disseminação dessa praga.
Figura 3. Ramo de cafeeiro infestado pelo bicho-mineiro
Prejuízos
A mosca do bicho-mineiro na sua fase larval se alimenta apenas nas folhas do cafeeiro, causando lesões (minas), que evoluem para o aspecto necrótico, com coloração escura. Como consequência do ataque, a área foliar da planta reduz, o que implica diretamente na redução da taxa fotossintética produzida pela planta. Isso é um fator que acarreta em prejuízos ao desenvolvimento vegetativo e também menor produtividade da cultura.
Outro dano causado pelo bicho-mineiro é a queda das folhas. De acordo com a intensidade do ataque da praga pode ocorrer desfolhas drásticas no cafeeiro, começando do terço superior para as regiões baixeiras da planta. Nas plantas em produção, a infestação é maior no terço superior da planta. Em caso de intensa desfolha do cafeeiro a sua recuperação pode durar até dois anos. Esses prejuízos acarretam queda na produção da lavoura, diminuindo o lucro e aumentando gastos com a recuperação para o produtor. Por fim, vale ressaltar que mesmo em diferentes épocas do ano, onde ocorre o ataque da praga, a produção cafeeira será afetada, como principalmente na fase de formação dos botões florais onde as perdas atingem até 50% da safra.
Monitoramento
Cabe ressaltar que o bicho-mineiro é a praga de maior importância na cultura do café, e que a atenção por parte dos cafeicultores deve ser redobrada de modo que esta praga não interfira na produtividade da cultura. Dentre os diversos meios de controle que os cafeicultores podem utilizar, a eficácia de cada um irá depender da época de controle, a forma com o mesmo será realizado e também a dosagem utilizada. Contudo, a integração dos métodos é a forma mais eficiente de controle para este patógeno.
O monitoramento é uma das práticas de maior importância para o controle e manutenção da praga na cultura, visto que o mesmo deve ser realizado sistematicamente, de modo que a quantificação dos níveis de infestação irá servir como tomada de decisão para o momento correto de se iniciar o controle químico.
Sobretudo, o monitoramento deve ser feito seguindo algumas recomendações, onde o mesmo é dividido em duas partes, sendo o planejamento e a execução da amostragem.
A etapa de planejamento é muito importante, pois é nesta hora que o cafeicultor vai dividir as glebas da lavoura quanto às suas características, obtendo áreas homogêneas com cerca de 5 a 10 hectares cada uma. A elaboração de um mapa com a divisão dos talhões a serem monitorados também é muito importante, pois anualmente este processo irá se repetir. Por fim, planilhas de anotações devem ser elaboradas para a coleta dos dados que servirão de suporte para as decisões dos cafeicultores. Estes dados históricos também podem servir como ferramenta para os anos posteriores, indicando locais onde a infestação é antecipada ou com maior intensidade.
A partir do planejamento, é hora da execução da amostragem para levantamento das informações da área de cultivo. Sobretudo, para o monitoramento do bicho-mineiro as folhas amostradas devem estar localizadas no terço médio das plantas (Figura 4), pois é neste local onde os níveis de infestação são mais severos.
Figura 4. Local de amostragem dos principais patógenos na cultura do café
A escolha das plantas a serem utilizadas para a amostragem deve ser ao acaso, totalizando cerca de 20 plantas por gleba homogênea, e coleta de uma folha adulta (expandida), localizada entre o terceiro (3º) ou quarto (4º) par de folha, em 5 galhos de um lado da planta. O caminhamento deve ser em zigue zague de forma que a amostragem seja o mais representativa possível.
A época de amostragem também é de grande importância, pois há períodos estratégicos de coleta em campo, isto devido aos picos de infestação do patógeno na cultura. Neste sentido, o monitoramento do bicho-mineiro é realizado em duas épocas do ano (Figura 5), sendo a primeira compreendida entre os meses de setembro e outubro, pois o tempo está seco e propício a disseminação desta praga, assim como o período de março à abril. Portanto, cabe aos cafeicultores maior atenção ao bicho-mineiro nestas épocas do ano, garantindo assim, maior eficiência no controle em caso de infestação, isto devido ao controle no momento correto.
Figura 5. Épocas de amostragem dos principais patógenos da cultura do café
Após a obtenção das informações da época ideal de se iniciar o monitoramento, assim como a metodologia a ser utilizada, o próximo passo é qual a forma de se avaliar o material coletado. No caso do bicho-mineiro, as anotações devem estar divididas em duas colunas, uma com o número de folhas com minas ativas (NFCMA) e a outra com o número de folhas com minas rasgadas (NFCMR). Sobretudo, estas informações são utilizadas no cálculo de infestação, que é a principal ferramenta indicadora para o momento de iniciar o controle.
Figura 6. Cálculo do nível de infestação de bicho-mineiro no cafeeiro
A partir da obtenção do nível de infestação de bicho-mineiro na lavoura o cafeicultor pode lançar mão de estratégias de controle, sendo que em situações onde os níveis de infestação chegam a 30 % no terço médio das plantas ou 20 % no terço superior, o produtor deve iniciar o controle pois já está no nível de dano econômico à cultura. Em lavouras novas, o cálculo de infestação é desnecessário, e a partir da constatação das primeiras folhas minadas o controle deve ser realizado. Vale ressaltar que o cafeicultor deve analisar cada talhão separadamente, e somente realizar o controle naqueles que atingiram os níveis de dano econômico, visando assim preservar os inimigos naturais situados no local.
_____________________________________________________________
Quer saber mais sobre Controle, Relação nutricional com o surgimento da praga e Problemas com incidência atípica nos últimos anos? LEIA agora a Parte 2 deste artigo.
______________________________________________________________
AUTORES
*Giovani Belutti Voltolini – graduando em agronomia pela Universidade Federal de Lavras – Ufla, membro do Grupo de Estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD e Núcleo de Estudos em Cafeicultura – Necaf.
giovanibelutti77@hotmail.com
**Larissa Cocato da Silva – graduanda em agronomia pela Universidade Federal de Lavras – Ufla, membro do Núcleo de Estudos em Cafeicultura – Necaf.
lari.cocato@hotmail.com
***Danyanne Mariano Dias – graduanda em agronomia pela Universidade Federal de Lavras – Ufla, membro do Núcleo de Estudos em Melhoramento e Clonagem – NEMEC e Núcleo de Estudos em Cafeicultura – Necaf.
danymarianoAV@hotmail.com