Importância e utilização do glifosato no café
A cafeicultura atual dispõe de grandes investimentos no que diz respeito à mecanização de suas atividades, visto que, devido a dispendiosidade do serviço manual, associada ao custo e a falta de mão de obra, se faz necessário o uso de tecnologias que otimizem a realização dos manejos na lavoura.
Entre estes manejos, podemos citar, principalmente, o manejo de plantas daninhas, que é de grande importância no café, pois as mesmas podem competir com o cafeeiro por elementos essenciais ao seu desenvolvimento, como água, luz, espaço e nutrientes.
O controle das plantas daninhas pode ser realizado de diversas formas, sendo mais comuns os tipos de controle manual, mecânico e também por meio da utilização de herbicidas (químico). Este último surgiu para revolucionar e viabilizar o controle do mato no cafeeiro, pois sua eficiência no controle do mesmo é elevada, assim como sua praticidade.
Neste sentido, a utilização do herbicida glifosato no cafeeiro, tanto em lavouras adultas como em lavouras novas, passou a ser muito recorrente, visto que, seu espectro de controle é elevado, sendo muito eficiente no controle das plantas daninhas, com baixo custo de aplicação.
Ocorrência da “deriva”
O glifosato é um herbicida de ação sistêmica, não seletivo e utilizado em pós-emergência de plantas daninhas. Sobretudo, se fazem necessárias corretas tecnologias de aplicação visando que as gotas aspergidas na aplicação atinjam somente a superfície foliar das plantas alvo, ou seja, as plantas daninhas.
Dentre estas tecnologias, podemos citar o uso correto dos equipamentos de pulverização, associados a condições climáticas adequadas. Também é de grande importância a correta calibragem do pulverizador, assim como o tipo de aplicação, que está diretamente relacionado com o bico e as pontas de indução utilizadas. A altura da barra de aplicação também deve ser verificada, sendo que a recomendação é de aproximadamente 40 cm do solo ou da extremidade superior do dossel vegetativo das plantas daninhas. Os bicos devem estar dispostos na barra de maneira deslocada, evitando assim a sobreposição dos jatos.
Quanto às condições climáticas, recomenda-se a realização da aplicação de herbicidas com temperaturas amenas, não excedendo 30ºC, podendo haver volatilização do herbicida pelo calor demasiado. A ocorrência do vento também deve ser observada, não podendo exceder 10 km/h. Por fim, a técnica do operador é determinante para que a aplicação seja realizada da melhor forma possível, possuindo assim, maior eficiência no controle das plantas daninhas.
Entretanto, nem sempre é possível realizar a aplicação deste herbicida nestas condições citadas, visto que a necessidade de realização deste manejo pode fazer com que o cafeicultor realize a aplicação fora das condições adequadas. Também pode ocorrer por falta de orientação aos operadores, fazendo com que a aplicação não seja eficiente.
A não utilização das corretas tecnologias de aplicação, além de reduzir a eficiência no controle das plantas daninhas, pode também ocasionar um fenômeno que ocasiona grandes prejuízos as plantas de café recém-implantadas, que é denominado “deriva”.
Figura 1. Acerte o alvo.
Fonte: Adaptado de Guilherme Popolin, 2013
A deriva consiste no arraste (deslocamento) das gotas aspergidas na pulverização, fazendo com que, parte do produto utilizado atinja plantas não-alvo, ou seja, plantas que não deveriam receber o produto, que neste caso, são as plantas de café.
Sintomas
Os sintomas evidenciados pela ocorrência da deriva do herbicida glifosato nas plantas de café são muito característicos, exibindo ramos plagiotrópicos com super brotamento na região apical do ramo, sendo que as folhas apresentam formato diferente do normal, estando mais finas. Em alguns casos, a folha também pode apresentar clorose e aspecto coriáceo. Em casos de severa intoxicação, a planta apresenta folhas necróticas que podem evoluir para a morte da planta.
Os sintomas de fitotoxidez deste herbicida podem se assemelhar aos sintomas característicos da deficiência de zinco no cafeeiro, sendo necessária a utilização de técnicas para diferenciar e identificar qual problema está ocorrendo. A anamnese, prática realizada visando o levantamento de informações, pode ser utilizada visando solucionar este problema, onde o levantamento de informações a cerca dos manejos realizados na área, poderão levar a possível solução do questionamento.
Como exemplo pode-se questionar sobre os sintomas, se são generalizados, se ocorrem em todas as folhas da planta, se foram realizadas aplicações com defensivos agrícolas, ou seja, uma caracterização do problema e a contextualização dos manejos realizados na área de cultivo.
Figura 2. Sintomas da deriva de glifosato no cafeeiro.
Fonte: Giovani Belutti Voltolini, 2015
Prejuízos
Os prejuízos causados aos cafeicultores pela ocorrência da deriva do herbicida glifosato são grandes, visto que, uma parte do produto não atinge a planta alvo, reduzindo a eficiência da aplicação, assim como a elevação dos custos de produção.
Além de uma possível fitotoxidez das plantas de café, ou também de regiões vizinhas, o prejuízo ao cafeicultor acontece pela redução da eficiência no controle das plantas daninhas. Isto por que, após a pulverização, as plantas daninhas não receberam a dose recomendada do herbicida, devido a erros de aplicação, requerendo uma nova pulverização para o controle.
Figura 3. Danos causados no desenvolvimento do cafeeiro.
Fonte: Giovani Belutti Voltolini, 2015
A ocorrência de sub-doses pode ter relação direta com o surgimento de plantas daninhas resistentes ao herbicida. Sobretudo, o surgimento de plantas que não são controladas por este herbicida pode ser um grande problema para o manejo das plantas daninhas nesta área. Neste sentido, a buva (Conyza sp.), o capim amargoso (Digitaria insularis) e outras plantas daninhas estão se mostrando resistentes a este herbicidas, exigindo assim novas estratégias de manejo para a realização do controle.
Também é observado em campo o “travamento” no crescimento das folhas e dos brotos do cafeeiro, havendo uma perda, no período de fitotoxidez, de 2 a 3 pares de folhas, e consequentemente, influenciando no desenvolvimento inicial do cafeeiro.
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Autores
Giovani Belutti Voltolini1 – Graduando em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras – Ufla, Membro do Grupo de estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD e Núcleo de Estudos em Cafeicultura – Necaf.
giovanibelutti77@hotmail.com
Tiago Gonçales Cardeal Naves2 – Graduando em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras – Ufla, Membro do Núcleo de Estudos em Cafeicultura – Necaf.
tiago_navesoo@hotmail.com
Ademilson de Oliveira Alecrim3 – Mestrando em Agronomia - Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras – Ufla, Membro do Grupo de estudos em Herbicidas, Plantas Daninhas e Alelopatia – GHPD e Núcleo de Estudos em cafeicultura – Necaf.
ademilsonagronomia@gmail.com