Os dejetos até a década de 70, não constituíam fator preocupante, pois a concentração de animais era pequena e o solo das propriedades tinha capacidade para absorvê-los, na forma de adubo orgânico. O desenvolvimento das criações intensivas trouxe a produção de grandes quantidades de dejetos, de forma concentrada, que são lançados ao solo, na maioria das vezes, sem critério e sem tratamento prévio, quando não lançados diretamente nos cursos de água, causando severas poluições.
Há um consenso de todos os setores da sociedade que o agronegócio deva ter uma postura de respeito ao meio ambiente, quando planeja utilizar dejetos animais como insumo para sua produção. As informações suficientes e adequadas sobre a fonte de nutrientes disponível na sua propriedade, constituem-se em condições indispensáveis para a eficiência produtiva e econômica da propriedade agrícola. O conhecimento da real disponibilidade de recursos produtivos na propriedade passa pelo adequado sistema de coleta, manejo e tratamento dos resíduos provenientes dos diversos sistemas de produção.
Todos estes resíduos corretamente manejados e utilizados, poderão garantir a sustentação da produção agrícola, pela substituição de grande parte dos fertilizantes químicos, além de reduzir a poluição do meio ambiente. Podem ser aplicados de forma líquida e/ou sólida, fornecendo nutrientes para produção de alimentos e melhorando as condições físicas, químicas e biológicas do solo.
As produções animais (bovinos, suínos e aves) recebem seus alimentos através das plantas nativas e/ou cultivadas. Somente uma parte destes elementos contidos nos alimentos ingeridos pelos animais resulta em ganho de peso, crescimento e produção (40 a 60%), sendo a maior parte eliminada através do esterco e da urina. Os estercos de animais, geralmente, apresentam boa quantidade de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e matéria orgânica (Gráficos 1; 2 e Tabela 1).
Figura 1. Aproveitamento dos alimentos pelos animais (Ruminantes)
Fonte: KIEHL, 1985.
Figura 2. Aproveitamento dos alimentos pelos animais (Monogástricos)
Fonte: LIMA et al., 2002.
Tabela 1. Conteúdo médio de nutrientes (NPK) de diversos resíduos orgânicos.
Fonte: Embrapa Milho e Sorgo, MG (1998/04). Asa Alimentos, DF e FESURV, Rio Verde, GO (2002/08). *Campos (1997). Sediyama et al.(1995).
Os estudos iniciais da fertilização de café já em produção com dejetos de suínos foram realizados pela EMATER-MG em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo, na região de Patos de Minas, no período de 1986 a 1989. Utilizaram-se 180 m3/ha em duas aplicações de 90 m3, nutrientes equivalentes a recomendação de adubação normal do café. As produções da adubação orgânica foram 15% superiores aos da química. Dados recentes de produtores de Patrocínio/MG mostram que a fertilização com Biofertilizante de suínos nas doses de 150 m3/ha economizaram em média 25% da adubação e mantiveram a produtividade de 37 sacas por hectare (Figura 3).
Figura 3. Café fertilizado com biofertilizante de suínos e complementado com adubação química
Fonte: Bartholo, R.; Patrocinio, MG (2005/ 2007)
A adubação dos cultivos de café com cama-de-frango é praticada desde a década de 1990, sem, no entanto atentar para aspectos de eficiência nutricional e desconfortos ambientais causados pelo uso da cama sem a adequada estabilização. As camas-de-aves sem fermentação propiciam a proliferação de moscas, possíveis vetores de doenças e contaminantes, além de causar grande incômodo ao gado leiteiro, que geralmente está associado à cafeicultura.
A disponibilidade maior dos elementos nutricionais dos resíduos agropecuários é alcançada pela estabilização em sistemas de tratamento que podem ser de compostagem simples, em câmaras próprias, em sistemas automatizados e ainda em biodigestores, especialmente dejetos de suínos e de bovinos.
A eficiência relativa dos nutrientes de Nitrogênio alcança a 78%, do Fósforo a 50% e do Potássio a 92%, dos resíduos devidamente tratados. Tomando por base a equivalência de exportação de nutrientes pela produção das culturas de grãos e também do café, os resíduos orgânicos permitem substituir parcial e mesmo totalmente os nutrientes provenientes de adubos químicos.