Em continuação a nosso artigo anterior "Manejo da lavoura visando à recuperação de propriedades cafeeiras depauperadas", abordaremos alguns tipos de poda que podem ser utilizados na recuperação de propriedades cafeeiras depauperadas. Ressaltamos que estas se referem a café arábica. Para o conilon, em função das diferenças na arquitetura das plantas e do próprio ciclo produtivo da espécie, os sistemas de poda são diferentes e feitos com maior freqüência.
O esqueletamento
O Esqueletamento consiste no corte lateral dos ramos produtivos a uma distancia de 20-30 cm do tronco principal. O cafeeiro não apresenta produção de café no ano do corte, o que pode ser uma vantagem, pois não se gasta com colheita, e, no segundo ano após o corte, costuma apresentar altas produtividades que muitas vezes compensam o ano sem produção. Essa pode ser uma grande vantagem desse tipo de poda que, tornando-a economicamente viável ao reduzir os custos de colheita.
O esqueletamento deve ser feito associado a um corte superior (1,7- 2,0 m) para quebrar a dominância apical e estimular a brotação lateral. É uma modalidade de poda que exige muito da planta após o corte por isso uma nutrição adequada e cuidados com doenças, principalmente ferrugem, Phoma e Aschochyta são importantes.
Foto 1: Lavoura recém esqueletada.
Foto 2: A mesma lavoura da foto 1 renovada, após um ano.
Conforme o estudo ilustrado na tabela 1, os resultados iniciais permitem concluir que nem sempre a poda por esqueletamento traz benefícios, podendo, em função de um ano sem café fazer a média dos anos cair para menos que a testemunha (não podada). Sendo assim, a prática do esqueletamento que vem ganhando grande adesão em diversas regiões, nem sempre aumenta a produtividade devendo-se ser aplicada somente quando houver as condições favoráveis.
Tabela 1 - Produção de café na média de 2 safras, em cafeeiros sob diferentes ciclos de esqueletamento e níveis de adubação N, K. Martins Soares, MG, 2005.
O decote
O decote é uma poda menos severa que o esqueletamento. Oferece como vantagem reduzir o tamanho das plantas e renovar a parte superior, mas para ser realizada a lavoura deve apresentar boa conformação de ramos produtivos inferiores ("saia"). O decote pode ser alto (2-2,5 m) realizado apenas para reduzir o tamanho de uma copa bem formada, ou baixo (1,2 a 1,8 m) indicado quando se pretende renovar a parte aérea da planta, devendo-se nesse caso conduzir uma a duas hastes por meio de desbrotas.
Foto 3: Lavoura recém decotada.
No ano após a poda a lavoura produz uma carga, em geral, menor e dependente da altura do decote. Esta é uma desvantagem do decote já que teremos que colher uma safra pequena de café no ano da poda o que significa produtividade baixa e resulta em alto custo de colheita. No segundo ano após o decote a lavoura apresenta boa conformação de copa que permitirá sucessivas safras de produtividade alta.
A recepa
É a mais drástica das podas, pois são retirados todos os brotos incluindo o tronco que é cortado a uma altura que varia de 0,3 a 0,4 m (receba baixa) a 0,5 - 0,8 m (receba alta ou com pulmão). A grande vantagem da recepa é possibilitar uma renovação total da parte aérea da lavoura. É recomendada quando houve grande depauperação da lavoura, com perda de ramos laterais produtivos, perda de estrutura das plantas, forte geada ou alto grau de fechamento.
Foto 4: Lavoura, pouco após a recepa
A recepa é uma poda que tem um maior custo operacional para se realizar e que exige operações de desbrota para a condução de uma ou mais hastes. A definição do número de hastes a ser conduzida é função do espaçamento e da população de plantas. Após a recepa baixa, por exemplo, fica-se dois anos sem obter produção na área, mas após uma boa condução se tem renovada a copa e ramos produtivos do cafeeiro, o que permitirá anos consecutivos de produtividades altas.
Foto 5: Lavoura recepada com a copa renovada e apresentando alta produtividade.
Um problema da recepa é o aparecimento de falhas causadas por plantas que não rebrotam e morrem. Com isso diminui-se o número de plantas por hectare e conseqüentemente a produtividade. Para diminuir esses efeitos a recepa deve ser realizada com a altura correta, com ferramentas adequadas, em lavouras bem nutridas, e com bom controle de mato na linha.
Foto 6: Recepa com excesso de falhas, prejuízo na produtividade futura.
O planejamento de renovação
As possibilidades de aplicação dos diferentes tipos de podas são enormes e devem ser estudados casos a caso. O principal é planejarmos as podas de uma fazenda de maneira global que permita uma taxa de renovação anual constante sem haver grande prejuízo na produção, mas que permita aumentos graduais na produtividade ao longo dos anos.
Em determinadas situações a lavoura não merece ser podada como é o caso de lavouras muito antigas com espaçamentos extremamente largos e que resultam em baixas populações de plantas por hectare (menos que 2000 pl./ha, por exemplo). Nestes casos costuma-se recomendar o arranquio da lavoura com plantio novo que possibilite populações duas a três vezes maiores e que vão influenciar diretamente na produtividade.
As áreas de renovação (arranquio e plantio novo) também devem ser muito bem planejadas já que somente oferecerão alta produção a partir do quarto ano. Com isso, tem-se um alto custo sem retorno imediato e deve-se prever esse custo para que se tenha verba para finalizar os planejamentos.
Por tudo isso, vemos que para a renovação de uma propriedade cafeeira depauperada existem diversas alternativas que na maioria dos casos devem ser combinadas evitando-se grandes oscilações de produção. Somente com um planejamento detalhado conseguimos distribuir as podas, arranquios e plantios novos ao longo dos anos de uma maneira que possibilite haver produção suficiente para a fazenda girar, pagar as suas contas, atingir as altas produtividades potenciais e com isso gerar lucro!
Bibliografia:
- Anais do 11º e 31º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras. MAPA/PROCAFÉ
- Matiello, J. B., Santinato R., Garcia, A. W. R., Almeida, S. R., Fernandes, D. R., Cultura de Café no Brasil, Novo Manual de Recomendações, Edição 2005.