Independentemente, do método de secagem utilizado, alguns aspectos devem ser observados para se obter êxito no processo pós-colheita: Evitar fermentação indesejável durante o processo; evitar temperaturas excessivamente elevadas (o café tolera a temperatura do ar de secagem próximo a 40ºC por um ou dois dias, 50ºC por poucas horas e 60ºC por menos de uma hora, sem se danificar); secar os grãos no menor tempo possível até 12% b.u. de umidade e procurar obter lotes do produto que apresentem uniformidade em coloração, tamanho e densidade.
Assim, a secagem do café é uma das etapas mais importantes para se obter um café de alta qualidade. Infelizmente, nas condições econômicas em que se encontra a cafeicultura brasileira, só um número reduzido de produtores têm acesso a tecnologias adequadas para o processamento.
A secagem em terreiro é o método mais utilizado pelos produtores em pelo menos uma fase do processo de secagem. Muitos deles ainda utilizam o terreiro em terra batida. Porém, nesse tipo de processamento, a baixa taxa de secagem e a exposição do produto a agentes biológicos (microrganismos), juntamente com a possibilidade de ocorrência de condições climáticas desfavoráveis, como acontece no sul da Bahia, norte do Espírito Santo e parte da Zona da Mata mineira, ocasionam perdas significativas na qualidade do café.
Com vistas a minimizar os problemas na secagem do café, foi desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa o terreiro híbrido ou terreiro secador. Trata-se de um terreiro convencional, preferencialmente concretado, adaptado com um sistema de ventilação com ar aquecido por uma fornalha para a secagem do café em leiras ou em leito fixo, na ausência de radiação solar direta ou em períodos chuvosos.
O terreiro híbrido é construído em módulos com dimensões de 10,0 m por 15,0 m cada um, aproximadamente (Figura 1). Na direção do comprimento, o terreiro secador é dotado de uma tubulação principal (central ou lateral), para fornecimento de ar a pontos específicos do terreiro, das quais derivam seis aberturas onde são alocadas as câmaras de secagem em camada fixa, ou tubulações secundárias compostas de dutos trapezoidais construídos em chapa perfurada, para secagem em leiras transversais ou longitudinais (Figura 2 a, b).
Figura 1 - Planta baixa e corte AA do terreiro híbrido, módulo de 150m2 e detalhes do sistema de ventilação.
Clique aqui para ampliar a figura 1.
Figura 2 - Vista superior e corte longitudinal do secador híbrido, com opções para secagem em camada fixa ou em leiras.
Nesse tipo de secador, também se pode realizar a secagem em camada fixa, adaptando-se câmaras de secagem às aberturas de fornecimento de ar. Estas câmaras podem ser construídas com caixas d´água em fibra com capacidade de 2500 L, adaptadas com um fundo falso feito em chapa perfurada, formando uma câmara plenum.
As caixas ficam apoiadas sobre as tomadas de ar quente na tubulação principal (Figura 3a) ou nas aberturas da tubulação secundária derivadas do duto lateral. Já os dutos de distribuição de ar, construídos com tubos de PVC 150 mm perfurados ou preferencialmente em chapa metálica perfurada, ficam encaixados nas tomadas de ar (Figura 3b).
Figura 3 - (a) Câmara de secagem construída com caixa de fibra de 2.500 litros; (b) Detalhes do sistema de secagem em leiras.
Ao duto principal é acoplada uma fornalha com um ventilador centrífugo, capaz de fornecer uma vazão de 1,5 m3/s de ar. Na ausência de radiação solar direta, incidência de chuvas e durante o período noturno, o produto é recolhido às câmaras de secagem ou enleirados sobre os dutos de distribuição de ar para secagem com ar aquecido. Durante períodos chuvosos, deve-se providenciar cobertura para proteção dos grãos.
A operação do sistema em camada fixa é simples, embora exija alguns cuidados. Assim, a altura da camada de produto dentro da câmara de secagem pode variar, para grãos em geral, devendo situar-se em torno de 0,4 m. Altura acima desta faixa poderá acarretar problemas, como alto gradiente de umidade na massa de grãos. A movimentação do produto em intervalos de tempo regulares também é uma operação importante para evitar a desuniformidade na umidade final do produto.
A secagem do café, no terreiro híbrido, pode ser realizada durante 24 horas, por meio da utilização da energia solar em dias ensolarados e da energia proveniente da combustão de biomassa (lenha ou carvão vegetal) durante a ausência da radiação solar direta. Assim, durante os dias ensolarados, o terreiro tem funcionamento normal, e, ainda assim, podem-se usar as câmaras para secagem com ar a altas temperaturas, ganhando-se, com isso, produtividade de secagem.
Usando o terreiro híbrido, o café recém-saído do lavador pode ser secado até atingir a umidade ideal para o beneficiamento (12% b.u.), em quatro dias ou oito horas de ventilação com ar aquecido. Em estudo realizado na Universidade Federal de Viçosa, observou-se que os tempos necessários para a secagem dos cafés nos terreiros híbridos foram, em média, 4,6 e 5,6 vezes menores que o tempo necessário para secar o café natural e o cereja descascado, respectivamente, em terreiro convencional.
Vale ressaltar que há uma economia nos gastos com energia quando se utiliza esse tipo de secador em comparação aos secadores mecânicos, pois é possível a utilização da energia solar em dias apropriados e incrementar outras formas de energia somente quando o clima não for favorável.
Conclusão
Essa alternativa está sendo amplamente utilizada, com sucesso, em vários estados produtores de café, como é o caso de Minas Gerais, principalmente a Zona da Mata e a Região Sul do Estado, e no Paraná.
A grande vantagem de se utilizar a secagem em terreiro híbrido está no fato de permitir que o produtor faça apenas uma adaptação em seu terreiro convencional para se ter um sistema muito mais eficiente, de fácil operação e de pouca manutenção, ao contrário do que ocorre em muitos secadores mecânicos.
Desta forma, considerando-se que na maioria das propriedades produtoras de café já existe o terreiro convencional, a implantação do sistema de secagem por meio do Terreiro híbrido, torna o processo simples e econômico, além de contribuir para a melhoria da qualidade do café.