Na atual conjuntura da cafeicultura brasileira, o produtor tem procurado alternativas para suprir a crescente falta de mão-de-obra e atenuar os impactos negativos causados pelo elevado custo de colheita. Com este intuito, busca-se novas técnicas que visam aprimorar os meios de cultivo e diminuir o custo de produção por unidade de área.
Diante deste cenário, tem-se realizado o manejo do cafeeiro através de podas programadas com o objetivo de obter produções elevadas. Sendo o esqueletamento o tipo de poda mais utilizado, muitos produtores estão aderindo ao chamado sistema chama Safra Zero.
O sistema Safra Zero consiste na poda cíclica do cafeeiro, realizando-a com esqueletamento seguido de decote no ano de produção. Esta prática caracteriza-se pela poda dos ramos plagiotrópicos da planta, com distancia de 20 a 30cm do ramo ortotrópico na parte superior e terminando na parte inferior com distancia de corte de 30 a 50cm. Quando o corte dos ramos plagiotrópicos é realizado em comprimentos maiores, dá-se o nome de desponte. O ideal é que após a realização da poda a planta apresente uma conformação cônica.
O decote se caracteriza pela poda do ramo ortotrópico em alturas de 1,2 a 2,5m. A altura de corte tem relação direta com o estande de plantas por hectare. A recomendação para lavouras de menor espaçamento entre plantas se baseia no corte em alturas menores, de forma que possibilite a entrada de luz no interior das plantas e entre as linhas, induzindo a quebra de dormência de gemas. A poda só pode ser realizada em lavouras aptas a esse sistema, pois assim atuará como uma ferramenta para o incremento de produtividade.
Esse sistema visa a produtividade elevada do cafeeiro empregando-se a poda em um ano, sendo o ano posterior apenas para desenvolvimento vegetativo. Desta forma, há ocorrência do crescimento de ramos novos para futura produção (esse ciclo se repete a cada 2 anos).
Para a implantação do sistema, deve-se “liberar” o cafeeiro o mais cedo possível, preferencialmente a partir de junho, visto que o crescimento vegetativo é influenciado pela época de poda e pode comprometer a sua produção futura, como podemos verificar na imagem abaixo.
Fonte: Fundação Procafé
Podemos verificar a produtividade em função da época de poda de acordo com a tabela 1.
Tabela 1 - Produtividade média das cultivares Mundo Novo e Catuaí submetidas a poda de esquelamento em diferentes épocas do ano.
Meses em que foram esqueletadas | Mundo Novo | Catuaí |
Julho | 91 a | 65 a |
Agosto | 87a | 51 b |
Setembro | 62 b | 41 b |
Outubro | 33 c | 25 c |
Novembro | 22 c | 21 c |
Dezembro | 16 c | 14 c |
Caso o produtor realize a colheita mecânica, não haverá necessidade de desbrotas no terço superior da planta, reduzindo os custos da área.
Em relação à adubação, não se deve restringir os tratos culturais mesmo com o depósito de resíduos advindos da poda. Devido à alta relação C/N dos restos culturais é necessário a adubação nitrogenada para equilibrar o sistema. A adubação potássica geralmente é dispensada em decorrência da elevada quantidade presente no material vegetal que é totalmente liberado (seu índice de conversão é 100%). A necessidade será no ano de produção de acordo com análise de solo e a carga pendente. Os restos vegetais também são ricos em macro e micronutrientes como podemos verificar na tabela 2.
Tabela 2 - Quantidade de macro e micronutrientes nas partes podadas do cafezal Mundo Novo, 9 anos, 3,5 x 1,5m. Alfenas 1986.
Nutrientes | Esqueletamento + decote a 1,5m |
N kg/ha | 261 |
P2O5 kg/ha | 16 |
K2O kg/ha | 273 |
CaO kg/ha | 101 |
MgO kg/ha | 26 |
S kg/ha | 10 |
B g/ha | 268 |
Cu g/ha | 191 |
Zn g/ha | 121 |
Fonte: Garcia, Malavolta, Gonçalves e outros.
O controle fitossanitário deve ser realizado principalmente para doenças como phoma, ferrugem e mancha aureolada, pois as altas doses aplicadas de nitrogênio acarretam em maior infestação dessas doenças. A phoma é a primeira doença a se manifestar quando não realizado o controle adequado da mesma, sendo necessário o monitoramento dos primeiros sinais da doença no ano de produção. A ferrugem também é outra doença que pode ocorrer em cafeeiros podados, pois são mais susceptíveis e apresentam uma curva de progressão mais agressiva quando comparada a cafeeiros não podados. Controles fitossanitários de pragas de solo também devem ser realizados quando necessários, buscando um maior desenvolvimento do sistema radicular e consequentemente do cafeeiro.
Quando se realiza o Safra Zero, uma das questões mais relevantes gira em torno do custo por saca de café beneficiado, o que torna esse sistema viável e de crescente utilização por parte dos cafeicultores. Podemos verificar essa situação de acordo com a tabela 3
Tabela 3 - Diferença do custo/saca/ano de lavoura sistema Safra Zero em relação à lavoura convencional.
Produtividade sacas/ha | Safra Zero | Colheita manual convencional | Diferença ha/ano | Diferença ha/ano |
30 | R$ 270,00 | R$ 334,00 | Por saca/ R$ 36,00 | Por ha/ R$ 1050,00 |
40 | R$ 240,00 | R$ 296,00 | R$ 56,00 | R$ 2240,00 |
Fonte: Fundação Procafé – Outubro/2012