Este tipo de secagem na fazenda tem mostrado grande potencial para a manutenção da qualidade dos grãos e para a redução de energia utilizada no aquecimento do ar de secagem.
Se bem projetado e manejado, esse sistema, além de preservar a qualidade dos grãos, é eficiente, econômico e o mais adequado para ser utilizado nas propriedades onde se deseja armazenar o produto, aguardando a oportunidade de melhores preços.
Porém, a secagem a baixas temperaturas depende muito das condições atmosféricas do local onde está localizada a unidade secadora-armazenadora.
Fatores como temperatura, umidade relativa e, em alguns casos, dependendo do produto, a velocidade de colheita podem levar ao insucesso no uso desta tecnologia. Entretanto, nenhum dos fatores mencionados tem grau de limitação que impeça a adoção do sistema na maioria das regiões brasileiras e a secagem com temperatura do ar próxima da temperatura ambiente pode, facilmente, ser aplicada em pequenas propriedades se o agricultor decidir construir o seu próprio silo secador.
Neste tipo de secagem, a pequena quantidade de ar por unidade de massa de grãos torna o processo lento e, devido ao pequeno fluxo de ar utilizado, apresenta baixa velocidade de secagem, necessitando de mais tempo para finalizar o processo que os sistemas tradicionais com o ar aquecido a altas temperaturas.
Em virtude da temperatura do ar de secagem ser baixa, a capacidade de evaporação da água contida na massa de grãos é reduzida e o processo é dificultado em regiões de alta umidade relativa (média acima de 70%).
Por exemplo, em regiões muito úmidas, como em algumas localidades na Zona da Mata mineira, os produtores devem atentar, para, nos períodos com umidade relativa do ar superior a 70%, prover alguma forma de aquecimento ao ar para que a umidade relativa caia para valores próximos a 60%.
Para contornar o problema, em locais com a alta umidade relativa do ar, pode-se utilizar fontes suplementares para o seu aquecimento (fornalha a carvão vegetal, GLP, energia solar ou outra fonte viável de energia calorífica).
Alguns valores (temperatura e umidade relativa do ar) deve ser empregados para que a umidade de equilíbrio ao final da secagem de um determinado produto seja mantida (Tabela 1).
No caso do café, para que se mantenha o produto com aproximadamente 12% de umidade no final da secagem, os valores de 18ºC e 56,0%, por exemplo, poderiam ser empregados.
Tabela 1 - Valores de Temperatura (°C) x Umidade Relativa (%) que mantém o produto com a umidade de equilíbrio ao final da secagem.
Fonte SILVA et al 2000.
No manejo do sistema de secagem à baixa temperatura deve se instalar um ventilador com fluxo de ar (m3.min-1.m-3 de grãos) adequado para determinado teor de umidade inicial da massa de grãos e realizar o carregamento adequado de pequenos silos, considerando a cadência de colheita.
Um ponto importante a ser observado nesse tipo de secagem é a forma de carregamento do silo. Para isso, deve-se observar a cadência de colheita da propriedade e planejar a altura da camada de grãos para que não haja deterioração do produto.
O silo pode ser carregado de três formas:
a) Enchimento em uma etapa - consiste em carregar o silo em até três dias. Este tempo é curto em relação ao tempo total de secagem, o qual, dependendo das condições atmosféricas, pode durar mais de 20 dias.
Vantagens: poucos danos mecânicos, em virtude da redução no manuseio do produto; baixos custos em regiões de baixa umidade relativa; pouca mão-de-obra; o recebimento do produto não está condicionado ao andamento da secagem do material carregado.
Desvantagens: elevado tempo de secagem; risco de deterioração das camadas superiores com alto teor de umidade, podendo haver condensação de umidade; risco de secagem excessiva das camadas inferiores, quando for usada fonte suplementar de aquecimento sem controle adequado.
b) Enchimento por etapas: uma nova camada só é colocada se a última já estiver parcialmente seca. Acrescentam-se camadas até o limite estabelecido pela capacidade do silo e pelo fluxo do ar de secagem.
Vantagens: secagem mais rápida que a do método de enchimento em uma etapa; menores riscos de deterioração; o fluxo mínimo necessário é menor que o do método de uma etapa.
Desvantagens: exigência de maior atenção no controle do processo. Dependendo do teor de umidade, é desaconselhável adicionar uma nova subcamada sem que a anterior tenha atingido o equilíbrio com o ar de secagem. Cada subcamada deve ser dimensionada de forma que não seja maior que uma frente de secagem calculada, ou seja, a subcamada a ser adicionada deve, preferencialmente, constituir a própria frente de secagem.
O silo secador-armazenador apresenta algumas características especiais que não são exigidas para os silos empregados apenas para a armazenagem:
- O piso deve ser construído com chapas metálicas perfuradas ou com material alternativo como tela de arame ou ripado, com no mínimo 20% de área livre, para promover a distribuição uniforme do ar.
- O ventilador deve fornecer quantidade de ar suficiente para realizar a secagem de toda a massa de grãos sem que ocorra a deterioração nas camadas superiores. As dimensões do silo (diâmetro e altura) e as características iniciais do produto determinam a potência do ventilador para o sistema.
O manejo da ventilação durante a secagem depende do teor de umidade do produto no silo e do clima da região. O ventilador deve ficar ligado continuamente enquanto o produto da camada superior estiver com umidade superior a 17% b.u.
Para teor de umidade inferior, ligar o ventilador somente quando a umidade relativa estiver abaixo de 70%. O monitoramento consiste na inspeção periódica (diária ou semanal) da temperatura e da umidade da massa de grãos, verificando se a massa está secando, ou sofrendo alguma forma de deterioração. Ao final da secagem com ar levemente aquecido, insufla-se ar natural para manutenção do produto a uma temperatura próxima à do ambiente.
Para que haja sucesso na secagem com ar natural, é indispensável que a umidade inicial nesse processo seja bem definida. Umidade inicial acima de 25% para café pode trazer alguns problemas caso o fluxo de ar não seja adequado para secar a camada de grãos em um tempo tal que não ocorra o desenvolvimento de microrganismos.
O aumento da temperatura do ar só é recomendado em regiões onde o potencial de secagem com ar natural é baixo. Tanto para uso como semente quanto para consumo humano, os métodos de secagem de grãos e café com baixas temperaturas resultam em um produto com melhor qualidade final.
Suas principais limitações, umidade inicial do produto e clima local, fazem com que o método seja substituído pela secagem com altas temperaturas, que é um método mais rápido e independente do clima.
A maior vantagem da secagem com ar natural é que, além da economia global de energia e do aumento no rendimento dos terreiros ou dos secadores na pré-secagem, o produto final apresenta coloração e umidade bastante uniformes e boa qualidade do produto seco.
Conclusão
O método pode ser empregado pela agricultura familiar com grande chance de sucesso, visto que o investimento é relativamente baixo se comparado aos sistemas tradicionais de secagem e armazenamento. Ainda vale ressaltar a redução no espaço físico exigido para pós-colheita visto que no mesmo silo em que se realiza a secagem pode se armazenar o produto seco.