Nos últimos anos, a seca de ramos tem se tornado um problema comum em lavouras de diversas regiões do país, o que vem chamando a atenção de muitos produtores e pesquisadores sobre causas e as principais medidas para evitar este problema. Pouca coisa tem sido encontrada neste sentido e poucas pesquisas comprovam de fato, qual(is) fator(es) exerce(m) maior importância. No artigo deste mês iremos citar os principais fatores envolvidos na seca de ramos e, em artigos posteriores, detalharemos o envolvimento de cada um deles.
A seca de ramos tem ocorrido com freqüência nas regiões cafeeiras do país em duas épocas principais:
- nos períodos de invernos chuvosos, que prolongam o ciclo vegetativo da planta, deixando as folhas novas mais sujeitas a ação do frio, dos ventos e da entrada dos microorganismos nas folhas e ramos do cafeeiro;
- na fase de granação dos frutos, quando os ramos carregados esgotam suas reservas, desfolham e secam.
O problema tem se tornado mais grave em lavouras novas com as primeiras produções, quando as relações, sistema radicular-parte aérea-quantidade de frutos produzidos, ainda não estão bem estabelecidas.
Os prejuízos diretos decorrentes da seca de ramos estão relacionados com redução na produtividade das lavouras devido à drástica redução da área produtiva; com o baixo rendimento dos grãos colhidos devido à presença de frutos chochos e mal granados e com a depreciação do tipo de café pela produção de grande número de grãos pretos e esverdeados, devido à seca dos frutos nas plantas antes mesmo deles atingirem o estágio de cereja.
Em algumas áreas a seca de ramos afeta pouco a produtividade do cafeeiro, mas em outras é tão grave que reduz consideravelmente a produção. Ela se torna mais evidente quando a planta está carregando uma boa colheita, porque os frutos se mantêm aderidos aos ramos por muito mais tempo que as folhas.
Como prejuízos indiretos, podemos observar deformações das plantas afetadas, depauperamento das plantas e redução drástica da longevidade da cultura, culminando em poda ou até mesmo abandono das lavouras. Além das perdas de produção, as plantas tendem a emitir mais ramos ladões e exigirem mais desbrotas. Em muitos casos é preciso antecipar a poda nesses cafeeiros. O custo de produção da propriedade também é aumentado devido à adoção de práticas de controle que não solucionam o problema.
Sintomatologia:
É um exemplo típico onde um sintoma tão bem definido pode ter uma multiplicidade de causas e o quadro sintomatológico exibido pela planta dependerá, em grande parte, do fator que está exercendo uma maior influência na seca de ramos.
Em geral, a morte de ramos tem sido observada em cafeeiros de todas as idades e causando prejuízos em todos os países produtores de café do mundo. Caracteriza-se inicialmente pelo amarelecimento, murcha, morte, escurecimento e queda das folhas presentes nos ramos apicais e laterais do cafeeiro. Pode ou não ocorrer a morte da gema apical dos ramos laterais e principais do cafeeiro.
A estes sintomas, segue-se a seca progressiva dos respectivos ramos, não raro até a sua base, os quais se tornam posteriormente enegrecidos. Por sua vez, os frutos atingidos paralisam seu crescimento, secam, escurecem e às vezes ficam presos aos ramos.
Figuras 1, 2 e 3: Sintomas iniciais de seca de ramos em Conillon.
Fotos: Enilton Santana - Pesquisador Incaper/ES
É também muito comum notar os sintomas conhecidos na prática por diversos nomes como "pescoço pelado", "pescoço de galinha" e "cinturamento". Em geral, os ramos laterais do terço médio da planta perdem as folhas, chegando a secar. As plantas assim desfolhadas apresentam um aspecto característico, com ramos do topo enfolhados de vegetação nova, o terço médio desfolhado e seco e a saia bastante enfolhada.
Quando a carga de frutos esgota as reservas nutricionais dos ramos do ponteiro, ocorre a desfolha e morte desses ramos. A desfolha dá à planta um aspecto bem característico: apresenta-se enfolhada até aproximadamente a metade ou dois terços da sua altura e a parte superior completamente seca. Os ramos do ponteiro podem até brotar, mas a vegetação nova não persiste caindo os brotos recém formados com três a quatro pares de folhas.
Se a intensidade de frutificação esgotar completamente a planta, tanto os ramos do ponteiro quanto da saia perdem as folhas e as plantas apresentam-se completamente secas. Com o passar do tempo ocorre redução na produção de frutos pela planta e aumento acentuado da bienualidade do cafeeiro, porque as plantas severamente desfolhadas num ano produzirão pouco no ano seguinte, se recuperam emitindo novas brotações e voltando a produzir bem na próxima safra, quando novamente reinicia o ciclo da seca de ramos. Em conseqüência disto, ocorre depauperamento das plantas na lavoura.
Figuras 4, 5 e 6: Aspecto de plantas de café arábica mostrando sintomas de seca de ramos.
Fotos: Antonio Souza
Em relação ao sistema radicular da planta pode ou não ocorrer morte de raízes.
Prováveis causas da ocorrência de seca de ramos no cafeeiro:
As pesquisas sobre o assunto apontam vários fatores que, agindo isoladamente ou em conjunto, têm sido responsáveis pela manifestação da seca de ramos do cafeeiro.
Normalmente, fatores fisiológicos, genéticos, ambientais, nutricionais e patológicos estão interagindo entre si, sendo praticamente impossível determinar aquele(s) fator(es) de maior importância, apesar de várias tentativas terem sido feitas visando classificar os diferentes tipos de seca de ramos de acordo com a sintomatologia observada.
Os pesquisadores que estudam a fisiologia das plantas afirmam que se trata de um distúrbio fisiológico devido à falta ou excesso de umidade no solo, à ação do frio, ao depauperamento da planta devido a uma carga de frutos excessiva ou ainda, devido aos transtornos fisiológicos causados pela ação de pragas e doenças ou escassez de algum nutriente.
Os pesquisadores que trabalham com doenças e pragas do cafeeiro, não admitem a exclusão da atividade direta de patógenos como Colletotrichum, Phoma, Pseudomonas garçae e Fusarium ou indiretas devido a desfolha causada pela ferrugem, mancha de olho pardo, mancha de ascochyta, nematóides ou bicho mineiro, como os principais agentes etiológicos envolvidos na morte de ramos do cafeeiro.
Outros pesquisadores atribuem aos desequilíbrios nutricionais pela pobreza dos solos ou insuficiência na adubação, ou ainda à falta de nutrientes no solo, como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, boro e zinco, como a principal causa da seca de ramos do cafeeiro, o que explicaria, a sua maior intensidade nos solos fracos e cansados ou nos cafezais mais velhos.
Mas existem outros fatores que contribuem para agravar seus efeitos como inverno chuvoso, variações de temperaturas, insolação excessiva associada a períodos de estiagem prolongadas, altitude elevada associada com ventos frios, chuvas de pedra, baixas temperaturas (geadas), raízes tortas, sistema radicular deficiente, camada adensada de solo, sulcos e covas pouco profundos, raios, queima por misturas de defensivos agrícolas, colheita por derriça e diversos agentes como bicho mineiro, ácaros e cigarras.
Como, então, controlar a seca de ramos do cafeeiro?
Esta é uma pergunta freqüente para a qual não existe uma resposta pronta, porque depende do entendimento de como cada um dos fatores acima influencia a seca de ramos do cafeeiro.
É muito comum ver os produtores aplicarem fungicidas visando o controle da seca de ramos do cafeeiro e o resultado obtido não é satisfatório. Será que se o problema da seca de ramos for devido ao excesso de frutos produzidos pela planta, a aplicação de fungicidas por si só, iria resolver o problema?
Se a mancha de olho pardo, por exemplo, estiver em alta incidência na lavoura induzindo desfolha e seca de ramos, devido a problemas nutricionais, exposição da lavoura ao excesso de insolação e compactação do solo, será que esta aplicação de fungicida irá resolver definitivamente o problema da seca se ramos na lavoura?
Logicamente que não. Quando estamos pensando em seca de ramos, temos que pensar em vários fatores atuando em conjunto e que uma única medida pode não ser suficiente para resolver o problema. Para isto, iremos abordar nos próximos artigos a influência de cada um dos fatores (fisiológicos, nutricionais, genéticos, patológicos, ambientais e culturais) envolvidos, tendo em vista a extensão do assunto.
Referências bibliográficas
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