Regiões produtoras de café da Bahia
Acaba de ser publicado pela SEAGRI/BA, o documento "Diagnóstico e Propostas para a Cadeia Produtiva do Café da Bahia", elaborado a partir de pesquisa qualitativa baseada em entrevistas com agentes-chave da cadeia. A análise da competitividade da cadeia produtiva foi validada no "Workshop Estratégias para o Café da Bahia" realizado na sede da COOPMAC, em Vitória da Conquista, no dia 21 de julho de 2010. Além disso, os representantes dos diferentes elos, presentes no evento, validaram proposições de ações e estratégias para a cadeia.
No processo de levantamento da conjuntura em que se insere a Cadeia Produtiva, realizamos uma tabulação dos dados do Censo Agropecuário 2006, visando estratificar a produção do café na Bahia.
Estratificação da produção de café na Bahia
A tabulação dos dados do Censo Agropecuário de 2006 permitiu identificar forte concentração na produção de café na Bahia. No caso do arábica, produzido por mais de 18.500 produtores no Estado, mais de 46% da produção era obtida por 0,6% dos produtores, os quais possuiam área maior que 100 hectares, enquanto os quase 93% dos produtores com lavouras menores que 10 hectares, produziam apenas 23% do total da produção. É importante ressaltar que a produtividade dos produtores de maior porte, de 33,3 sacas por hectare, era mais do que o dobro da obtida pelos pequenos produtores, apenas 14,3 sacas por hectare.
Concentração na produção de café arábica na BA
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006, tabulado pelo autor.
A produção de conilon também é concentrada. Do total de pouco mais de 2.400 produtores, a parcela de 1,2% destes que exploram áreas maiores que 100 hectares produzia, em 2006, 51,7% da produção baiana e em média 37 sacas por hectare. Produtividade mais do que 50% maior que as 23,5 sacas produzidas pelos produtores com lavouras menores que 10 hectares, os quais são 85,1% do total de produtores e respondem por apenas 14,5% da produção do estado.
Concentração na produção de café conilon na BA
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006, tabulado pelo autor.
Detectada a concentração na produção do café, parece simples inferir que a chamada cafeicultura familiar pouco representa no fornecimento de matéria-prima à cadeia produtiva do Café da Bahia e que os produtores com área acima de 100 hectares que, tanto no arábica como no conilon, têm produtividade bem mais alta do que todos os demais estratos, estariam em condição muito propícia de competitividade. As entrevistas com os produtores, no processo da pesquisa qualitativa, confirmaram em parte a premissa acima, mas reservavam algumas informações até certo ponto surpreendentes.
No caso do café arábica, a grande maioria dos produtores que demonstravam estar satisfeitos com seus negócios realmente tinham boa escala de produção; eram pessoas físicas, ao passo em que as empresas reclamavam de fraca remuneração do negócio; eram assistidos por consultores agronômicos autônomos; mecanizavam as principais operações agrícolas, inclusive e principalmente a colheita; faziam bom processamento pós-colheita, propiciando a classificação de boa parte de seu café com bebida dura para melhor; vendiam uma boa parcela de sua produção através de mecanismos de travas de preço; utilizavam irrigação, mitigando o risco climático e também o risco de preço, por permitir acesso às vendas antecipadas e às travas de preço; e, finalmente, tinham sistemas, pelo menos razoáveis, de gestão do custo de produção.
Para o conilon, os fatores determinantes da competitividade são basicamente os mesmos, com as ressalvas de que a gestão da captação de mão de obra tem peso maior, já que não há colheita mecanizada para a espécie, e de que os esquemas de vendas antecipadas ainda não têm a mesma estruturação nem, portanto, liquidez que no arábica.
Quanto à cafeicultura familiar de arábica, foi claramente evidenciado o potencial para avanços com medidas relativamente simples, principalmente no campo do manejo pós-colheita, para que os produtores consigam melhores preços pelo café que já produzem e cuja qualidade ora é perdida graças a secagem e beneficiamento inadequados. Como não têm grande escala de produção, o caminho claro que se oferece aos pequenos produtores é a atuação em nichos de diferenciados de mercado, por qualidade e/ou via certificações de comércio justo ou orgânico.
Para os pequenos produtores de conilon, os nichos de mercado ainda não estão tão bem estabelecidos, portanto a busca por diferenciação é uma tarefa possível, mas bem mais árdua. Resta a alternativa da busca incessante de aumento de produtividade por área, com gestão dos custos de produção e atenção para as necessidades de contratação e mão de obra para colheita, podas e desbrotas.
A íntegra do "Diagnóstico e Propostas para a Cadeia Produtiva do Café da Bahia", contendo maiores detalhes do diagnóstico e também as linhas estratégicas propostas, segue abaixo.
Estruturação da governança da cadeia produtiva; reestruturação da pesquisa cafeeira baiana; montagem de um sistema de assistência técnico-gerencial atrelado à governança da cadeia e capaz de gerar inteligência competitiva; incentivo ao uso de irrigação e à mecanização; e investimento no marketing do produto baiano estão entre as principais linhas elencadas.