Lavoura antiga
Lavoura clonal
É importante ressaltar, que uma técnica simples de melhoramento genético, a seleção de plantas matrizes superiores visando a propagação vegetativa, também chamada de propagação clonal, foi a base do significativo aumento de produtividade obtida pelo café Conilon. Esta técnica tem como principal vantagem reduzir o tempo necessário para a obtenção de variedades superiores. Enquanto o melhoramento genético realizado através de propagação via semente consome até 30 anos para a obtenção de variedades mais produtivas e uniformes, a seleção de plantas matrizes superiores de café Conilon e sua propagação vegetativa via estaquia puderam ser efetivamente realizadas em apenas oito anos.
Esta mesma técnica foi também utilizada para a renovação de parte da cafeicultura de Madagascar, Camarões e da Costa do Marfim e é responsável por uma revolução na propagação do eucalipto no Brasil. Até o início da década de 1980 o eucalipto era preferencialmente propagado por sementes. Devido à seleção de plantas matrizes superiores e da otimização das técnicas de propagação vegetativa, cerca de 150 milhões de mudas de eucalipto são produzidas anualmente por estaquia.
É interessante notar, que apesar do custo da muda de Conilon formada através de estacas ser aproximadamente o dobro do custo da muda de semente (R$0,35 e R$0,15, respectivamente), este não foi um fator limitante para que o cafeicultor optasse por plantar as variedades clonais melhoradas. A alta produtividade das variedades clonais de café Conilon foi sem dúvida o fator decisivo para que o cafeicultor capixaba se dispusesse a pagar um pouco mais pelas mudas de estaca.
Este exemplo pode ser aproveitado para a cultura do café arábica, que embora seja uma espécie de autofecundação e facilmente propagada por sementes, também requer mais de 20 anos para o desenvolvimento de uma nova variedade. A propagação vegetativa de café arábica poderia permitir a multiplicação de híbridos altamente produtivos e de plantas matrizes que apresenta qualidades de alto valor agregado, como resistência ao bicho-mineiro e à ferrugem, tolerância à seca, bebida especial ou grãos sem cafeína.
Uma outra técnica que poderá viabilizar a produção de mudas de café por via assexuada é a propagação por embriogênese somática, com o auxílio de biorreatores. Esta técnica consiste na formação de mudas de café em laboratório, a partir de folhas. A folha é cortada em pequenos pedaços, os quais são colocados em um meio de cultura para a indução de calos. Os calos formados são então multiplicados em frascos com aeração e meio de cultura líquido, chamado de biorreatores. Quando os calos atingem a quantidade e o estádio adequados, o meio de cultura é alterado para induzir a produção de embriões, que darão origem às plantas de café. A partir de uma única folha pode-se produzir mais de 10.000 mudas de café. Esta técnica já foi usada na Costa Rica para a propagação massal de híbridos F1, e também testada nas Filipinas, Tailândia e em alguns países africanos, onde os franceses têm trabalhado com café, tanto arábica, quanto robusta. Os resultados observados nestes países são encorajadores e demonstram que é possível formar excelentes lavouras de café usando-se a embriogênese somática.
No Brasil, os laboratórios de cultura de tecidos da Embrapa, IAPAR, IAC, UFV, Fundação Procafé e de algumas empresas privadas, vêm trabalhando com propagação de café arábica em biorreatores e já estão aptos a usar esta tecnologia. O único desafio no momento é viabilizar o processo para a produção de mudas em larga escala, a um custo razoável.
Para que isso aconteça em curto prazo há necessidade de duas ações imediatas: 1) Selecionar plantas matrizes superiores (híbridos ou progênies de alto valor agronômico) que apresentem uma ou mais vantagens significativas em relação às atuais variedades disponíveis, para que clones destas plantas possam ser produzidos vegetativamente e testados em nível de campo; 2) estabelecer parcerias com empresas privadas de propagação vegetativa de plantas, para que estas possam iniciar a propagação vegetativa de clones superiores em escala comercial, visando a validação e disseminação desta nova tecnologia. A primeira ação já vem sendo realizada por várias instituições que trabalham com pesquisa em café.
A Fundação Procafé, por exemplo, já tem identificado 10 plantas matrizes com alta produtividade, boa qualidade de semente e resistência ao bicho-mineiro e à ferrugem. O trabalho de produção das mudas por embriogênese somática está sendo realizado pela Embrapa, Fundação Procafé e por uma empresa especializada em propagação de plantas e já se encontra em fase adiantada. Ao final deste ano serão instalados ensaios de comportamento no campo e o plantio de jardins clonais.
Como no caso do café Conilon, a chave do sucesso será a identificação de plantas matrizes que apresentem vantagens suficientes para que o cafeicultor se disponha a pagar um pouco mais pela muda, para aumentar o seu lucro na colheita.