A recepa é um tipo de poda muito drástica, que visa renovar completamente a copa dos cafeeiros e, hoje em dia, só é recomendada em último caso, quando já não existe outra solução melhor, pois ela apresenta uma série de desvantagens. Ela provoca perda de produção em dois anos em seguida, é uma operação onerosa, aumenta a área sujeita ao mato e, ainda, pode levar à mortalidade de plantas, as mais fracas.
A decisão sobre a necessidade de uso e a escolha do tipo de poda a empregar, em uma determinada lavoura de café, deve ser tomada após análise detalhada da condição dos cafeeiros. Ou seja, o que pode estar influindo negativamente na produtividade da lavoura ou em eventual dificuldade na execução dos tratos no cafezal. Ela deve, portanto, responder o porquê da poda e qual a melhor forma de fazê-la.
Essa análise, especialmente no caso de pequenos produtores com menos conhecimento, deve ser assessorada por um técnico especializado. Buscando, assim, racionalizar a poda e atender suas finalidades com a menor perda de produção e de renda. Nesse sentido, temos visto que o técnico precisa estar bem reciclado, com informações atualizadas por sua Instituição (Órgão de Extensão Estadual, Cooperativa, etc), caso contrário também pode indicar inadequadamente.
Cortar as plantas por cortar, ou podar de forma mais drástica do que o necessário, representa prejuízos no tempo de recuperação, nas maiores perdas de produtividade e no custo mais elevado da operação de podas. Isto por que as pesquisas realizadas mostram que reduções de produção são tanto maiores quanto mais drásticas forem às podas. (Veja exemplo do Quadro 1).
Na adoção das podas vale também o ditado, “que mais vale prevenir do que remediar”. Medidas preventivas devem ser adotadas, começando com uma adequada desbrota de ramos ortotrópicos, ladrões, desde a idade jovem das plantas da lavoura, evitando-se seu tombamento e fechamento. Deve-se seguir com um decote, quando se verificar raleamento da ramagem baixa, feito após uma safra alta e quando, normalmente, ocorre seca de ramos do ponteiro e já não vai haver produção neles na safra seguinte. Em seguida, deve-se aplicar um esqueletamento/desponte para reabrir a lavoura, para renovar e multiplicar a ramagem lateral. Isto tudo deve ser feito antes que seja tarde e, aí só caberia a recepa.
O maior argumento de quem vai recepar sua lavoura é que as plantas perderam a saia. Nesse aspecto, ressalta-se que atualmente as pesquisas e observações de campo mostram possibilidade de aplicar podas de esqueletamento. Mesmo em condições onde existem poucos ramos na saia, pois em seguida à poda podem ser aproveitados brotos ladrões, que saem na parte baixa do tronco para recompor, com seus ramos laterais, a saia perdida da haste principal.
Para finalizar, resta responder à pergunta que nos fazemos, após verificar a situação de muita recepa no campo. Por que muitos cafeicultores, especialmente os pequenos, estão recepando demais suas lavouras. Nossa resposta é no sentido que achamos que faltam conhecimentos, os quais devem ser melhor difundidos, pelos Serviços de Assistência Técnica. Outra coisa é que o produtor, agora ele, acha que a recepa resolve seu problema de forma mais duradoura. Ledo engano. Resolve de um lado, mas prejudica do outro, conforme aqui colocamos.
Nas 4 fileiras em baixo, recepa e acima esqueletamento, realizados no mesmo dia- Mal Floriano-ES, dez/16.
Detalhe dos cafeeiros da foto anterior. À esquerda plantas que receberam recepa baixa, examinadas pelo produtor, com estimativa de safra, de 2-4 litros/pl. À direita, plantas onde foi feito o esqueletamento, com porte maior e mais carga, estimada em cerca de 15 litros /pl.