Informações das empresas produtoras certificadas indicam que há cerca de 1.700 pequenos produtores envolvidos com a produção de café nessas empresas, além de 6.200 trabalhadores regulares e outros milhares de trabalhadores extras na época de colheita. Milhares de pessoas vivem nas fazendas certificadas, entre pequenos agricultores, seus familiares e trabalhadores2.
O representante da Utz Certified prevê que com o endosso da VINACAFE 3e VICOFA4, o volume de café certificado poderá crescer substancialmente até 20095.
Uma provável razão para a dificuldade do Vietnã em trabalhar com outros programas de certificação é a preponderância do café robusta no país, associada à sua baixa qualidade. De modo geral, os programas de certificação visam principalmente os nichos de mercados interessados em café arábica de alta qualidade. Além disso, as práticas ambientais nessa cadeia de produção são muito rudimentares, conseqüentemente ela está longe de atender aos requisitos da certificação orgânica ou da Rainforest Alliance. Para muitos produtores familiares, esforçando-se para sobreviverem, a proteção ambiental não é prioridade. Também há problemas em obter financiamento para investir na melhoria das técnicas de produção e em métodos de processamento.
Com a preponderância de pequenas propriedades familiares, o Vietnã poderia ser ideal para a certificação Fairtrade, porém a baixa qualidade de seu café vai contra isso. Outro sério obstáculo é a pequena tradição dos produtores familiares em se organizarem democraticamente em cooperativas de café, um pré-requisito para a certificação Fairtrade. Adicionalmente, no setor café ainda há poucas cooperativas institucionais atuantes em toda a cadeia e elas não têm recebido apoio e subsídios governamentais. No Vietnã, tem havido poucas iniciativas governamentais na área de sustentabilidade.
De acordo com David Rosenberg6, o sucesso do programa da Utz Certified se deve ao esforço dos exportadores em mobilizar os produtores para participarem do programa. A Utz Certified começou a trabalhar com a certificadora CaféControl em 2002 e recursos significativos foram investidos pela Utz Certified e pela Coffee Support Network para treinar tanto os inspetores da CaféControl como os agrônomos das propriedades que participam do programa. Esses conhecimentos iniciais têm sido divulgados a outras propriedades e agrônomos. Há três projetos-piloto de sustentabilidade na forma de parceria pública-privada, desenvolvidos pela Sara Lee, Kraft e Nestlé, juntas com o EDE, braço consultor da Neumann Gruppe e patrocinador GTZ. Um desses projetos recebeu certificação Utz Certified.
Entrevistas realizadas pela VICOFA, em 2005, com três das propriedades estatais certificadas individualmente pela Utz Certified, revelaram que os custos para atingir os requisitos dessa certificação foram estimados em US$ 40 por tonelada de café verde. Esses custos resultaram de alterações nas práticas utilizadas na propriedade e da introdução de projetos sociais, tais como escolas para os filhos dos trabalhadores. Como resultado da certificação Utz Certified, o café recebeu preços mais altos, com aumento médio de US$ 10-20 por tonelada, não sendo suficiente para compensar o aumento nos custos. Também não houve melhoria em termos financeiros. Assim, há pouco incentivo financeiro para os produtores optarem pela certificação.
Ainda assim o interesse pela Utz Certified parece crescer e, de acordo com a VICOFA, isso se deve ao potencial de acesso a novos mercados e a contratos mais estáveis. Os representantes da Utz Certified acreditam que o interesse dos produtores pelo seu programa se deve à oportunidade de melhorar o processo produtivo e reduzir custos de produção ao longo do tempo. Eles argumentam que em um país como o Vietnã, com volume de insumos relativamente alto e uma cultura nova em café, a oportunidade de racionalizar a utilização de insumos e de melhorar suas habilidades de gerenciamento agrada aos produtores.
A VICOFA acredita que a certificação orgânica possa ser promissora para o Vietnã. Como o Vietnã tem um clima tropical, com altas temperaturas e alto índice pluviométrico, há boas condições para a combinação de café com gado, para obtenção de material orgânico como fonte de adubo para os cafeeiros. É necessário fortalecer o relacionamento da VINASTAS e da VICOFA em providenciar assistência técnica e promover as vantagens da alta qualidade do café certificado e criar alguns modelos demonstrativos de café orgânico, café sombreado e café de altitude elevada. A VICOFA está promovendo uma fórmula simples em seus comunicados para promover melhores práticas de gestão da lavoura cafeeira: três recomendações de redução, três de aumento e uma de proibição (Quadro 1).
Fonte: VICOFA, 20057.
Para a certificação se tornar mais importante, no Vietnã, a qualidade do café produzido precisa aumentar. A experiência dos produtores certificados em outros países, como o Brasil, mostra que a certificação não é suficiente para que os benefícios do mercado sejam alcançados e que também é necessário atingir padrões de qualidade. Outra lição proveniente do Brasil, que poderia ser melhor aproveitada no Vietnã, é o relacionamento potencial entre os pequenos produtores e as cooperativas, para atuar na promoção da melhoria das práticas ambientais na produção de café e garantir um retorno elevado aos produtores.
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1 Do grão à xícara: como a escolha do consumidor afeta cafeicultores e meio ambiente: Org. Flávia M. M. Bliska; Gerson S. Giomo; Sérgio P. Pereira, Cap. 5, p. 37 e 38, 2007. Esta seção baseia-se em informações levantadas por: Sr. Doan Trieu Nhan, Sra. Dao Thi Mui, Sr. Lê Dinh Son, Sr. Lê Quang Minh (VICOFA3).
2 www.utzcertified.org, 21/12/2007.
3 Corporação Nacional do Café do Vietnã, companhia estatal que controla cerca de 20,0% do café do País.
4 Vietnan Coffee and Cocoa Association
5 David Rosemberg, comunicação pessoal, Dezembro 2005.
6 David Rosenberg, comunicação pessoal, Dezembro 2005.
7 VINASTAS and VICOFA - Vietnam Standards and Consumer Association and Vietam Coffee and Cocoa Association (2005). What is behind the coffee price?