No cafeeiro podemos encontrar três espécies de ácaro consideradas como praga da cultura: o ácaro-vermelho - Oligonychus ilicis (McGregor); o ácaro-plano - Brevipalpus phoenicis (Geijskes), vetor da mancha-anular e o ácaro-branco - Polyphagotarsonemus latus (Banks,1904).
Surtos do ácaro vermelho têm sido muito freqüentes nos últimos anos em várias regiões cafeeiras do Brasil. Em geral a espécie Coffea canephora tem se mostrado mais atacada por esta praga que Coffea arábica. Existem ainda relatos na literatura que algumas variedades de arábica como Mundo Novo e Icatu, são altamente sensíveis ao ácaro vermelho.
Esta praga pode causar danos expressivos à cultura do café, principalmente sob condições climáticas favoráveis e em situações de desequilíbrio populacional na população dos inimigos naturais.
Como reconhecer a praga?
É um pequeno aracnídeo (semelhante a uma aranha) de aproximadamente 0,5 mm de comprimento, podendo ser visualizado na parte superior das folhas do cafeeiro com o auxílio de uma lente de aumento ou até mesmo a olho nu. O ciclo do ácaro vermelho da fase de ovo até a fase de adulto demora entre 11 e 17 dias, a uma temperatura variando de 22° a 24° C.
A cada postura a fêmea ovoposita 10 a 15 ovos próximos às nervuras, na parte superior da folha. Os ovos são de formato arredondado, coloração vermelho-escura a rósea, brilhantes, com um filamento saindo da parte superior e quase invisíveis a olho nu. As formas jovens têm coloração rósea e seis patas, enquanto os adultos possuem 8 patas.
As fêmeas têm formato quase oval, coloração vermelho-escura no terço anterior do corpo e pardo-escura nos dois terços posteriores, onde podem ocorrer duas manchas escuras. Os machos são mais ativos que as fêmeas na superfície das folhas, mais claros e também menores; apresentam o corpo afilado e as pernas mais longas; ocorrem também em menor número do que as fêmeas.
Sintomas apresentados pela planta em decorrência do ácaro vermelho
Este ácaro sobrevive na parte superior das folhas do cafeeiro. Alimentam-se do cafeeiro, raspando, perfurando as células das folhas e sugando todo seu conteúdo celular. Durante esse processo ocorre o vazamento de líquidos que estão dentro da célula para a superfície da folha que ao entrar em contato com os raios solares, causam uma queimadura deixando as folhas com o aspecto avermelhamento "bronzeado". Esse bronzeamento das folhas é o sintoma típico do ácaro vermelho.
Figura 01: Sintomatologia típica do ataque do ácaro vermelho no cafeeiro.
Fonte: Antonio Souza
Em alguns casos, podem ser observadas pequenas teias tecidas pelo próprio ácaro, nas quais ficam aderidas poeira e detritos em geral, que além de proteger os ácaros também auxiliam na dispersão de uma folha para outra. A dispersão é feita principalmente pelo vento, através do ácaro pendurado em fio de seda, processo conhecido como balonismo. Os ataques iniciam-se em reboleiras e mais comumente pelo terço superior (ponteiros) das plantas. O ácaro vermelho tem grande poder de infestação, e se não for controlado no início, pode atingir toda a lavora.
Perdas e Danos
O problema desse ácaro é a redução na capacidade fotossintética da planta, devido a raspagem que ele faz na superfície das folhas. As folhas atacadas apresentam tamanho reduzido e podem até cair. Assim parte da energia da planta, necessária para produção e enchimento dos grãos é desviada para reposição foliar, e a conseqüência disso é uma queda na produtividade para a safra seguinte. Se não houver necessidade de reposição dessas folhas, as plantas podem até produzir normalmente, visto que na maioria das vezes o ataque da praga ocorre quando os frutos já estão em estágios mais avançado de desenvolvimento.
Figura 02: Desfolha causada pelo ácaro vermelho em lavoura de Catucaí 2SL com quatro anos de idade em Piranga - MG.
Fonte: Antonio Souza
A praga também pode provocar a desfolha e retardamento no desenvolvimento de plantas jovens.
Fatores que favorecem o ácaro vermelho
O período de maior infestação ocorre em épocas de clima seco, principalmente no inverno. Em anos de inverno com temperaturas mais elevadas do que o normal, este ácaro pode ser problema sério para o cafeeiro.
O uso de inseticidas não seletivos do grupo dos piretróides para o controle do bicho-mineiro, tem sido outro fator responsável pelo aumento populacional do ácaro vermelho, causando perdas significativas na cultura do café. Isto porque os produtos deste grupo eliminam grande parte dos predadores naturais (como os tripes, as joaninhas e percevejos) responsáveis por manter a população dessa praga em equilíbrio. Além disso, o ácaro possui resistência aos piretróides e o uso de tal produto irrita as fêmeas, provoca a sua disseminação, estimulando a sua oviposição. Esses produtos pode também interferir em processos fisiológicos de desenvolvimento do ácaro.
Outro aspecto é que, estudos feitos no passado demonstraram que a aplicação de fungicidas cúpricos no cafeeiro também pode aumentar a população dessa praga, principalmente em anos de ocorrência irregular de chuvas. Em áreas mais sombreadas ou arborizadas o ataque é bem menor. Áreas mais ensolaradas, com manchas de solo mais secas e próximas a estradas são mais atacadas, sendo a incidência mais séria em plantas jovens. Chuvas intensas ou irrigação por aspersão são prejudiciais ao desenvolvimento do ácaro vermelho.
Principais medidas de controle
A principal recomendação é utilizar práticas de manejo que garantam a permanência dos ácaros predadores e demais inimigos naturais do ácaro vermelho na lavoura cafeeira. Alguns trabalhos têm demonstrado que nas folhas do cafeeiro, podem ser encontrados várias espécies de ácaros predadores, pertencente à família Phytoselidae e coleópteros (besourinhos) do gênero Stethorus, que efetuam o controle biológico natural mantendo baixa a população do ácaro-vermelho em condições normais de clima e manejo da cultura.
Portanto, teorias ditas por muitos profissionais assumem grande importância como, por exemplo, a manutenção do mato nas entrelinhas do cafeeiro e instalação de quebra-vento nos carreadores. Chuvas pesadas paralisam o ataque do ácaro-vermelho e propiciam às plantas condições de vegetação e recuperação, não sendo necessária nenhuma medida de controle químico.
Quando a infestação ainda está no inicio, as plantas das reboleiras com sintomas e algumas plantas ao seu redor, podem ser pulverizadas com produtos a base de enxofre, como calda sulfocálcica (2%), que provê um controle satisfatório do ácaro vermelho.
Sob ataque severo da lavoura devido a condições de desequilíbrio dos inimigos naturais e se não houver previsão de chuvas, recomenda-se fazer aplicações com acaricidas específicos ou mistura inseticidas-acaricidas, devidamente registrados para a cultura e recomendados por profissionais da área. Deve-se dar preferência a produtos seletivos aos inimigos naturais.
O controle integrado do ácaro vermelho com o bicho mineiro também tem dado bons resultados no campo. Alguns inseticidas recomendados para o controle do bicho-mineiro, também controlam o ácaro-vermelho. Vale ressaltar que caso seja feita a opção por utilizar um inseticida do grupo dos piretróides, é necessário misturá-lo com um acaricida visando prevenir futuras infestações do ácaro vermelho.
Bibliografia consultada
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