Existem duas linhas de ação para que esse objetivo seja atingido: racionalizar a adubação, de forma a aumentar o aproveitamento dos fertilizantes, e utilizar adubos alternativos mais baratos. Essas duas linhas de ação, individualmente, podem levar a resultados satisfatórios. Mas, se utilizadas em conjunto, tendem a garantir resultados surpreendentes.
Na verdade, talvez este seja o momento ideal para se mudar a perspectiva geral utilizada atualmente na adubação: doses maiores do que as necessárias, pequeno enfoque no equilíbrio entre nutrientes, fontes caríssimas com reduzida relação benefício:custo, excesso de modismo, relutância em se utilizar o básico e simples.
Racionalização da adubação
Podemos apresentar um conceito que agrupa todos os fatores envolvidos nesse caso:
Quantidade de fertilizante = (quantidade de nutriente exigida pela cultura - quantidade de nutriente a ser suprida pelo solo) ÷ aproveitamento do fertilizante.
A partir desse conceito, poderíamos discutir questões que iriam preeencher um livro, mas esse não é o objetivo. Todos os artigos publicados no radar técnico "Solos e Nutrição", do CaféPoint, abordam, de uma forma ou de outra, este conceito. Como a quantidade de nutrientes exigida pela cultura é uma informação que muitas vezes não está ao alcance de técnicos e cafeicultores, temos que nos ater aos pontos a que temos acesso e que podem ser melhor empregados para reduzir as doses e aumentar o aproveitamento dos fertilizantes.
Para sabermos a quantidade de nutrientes a ser suprida pelo solo, a alternativa é, obrigatoriamente, realizar a coleta e a análise de solo. Não se pode adubar uma lavoura sem esta informação, e o próprio conceito mostra isso. Se o produtor soubesse quanto recurso poderia ser economizado apenas realizando-se a análise de solo, boa parte do problema estaria resolvida.
No CaféPoint, existem dois artigos que tratam desse assunto: "Amostragem de solo para a cultura do café" e "Amostragem de solos: Exemplos da relação entre o número de amostras simples e o diâmetro do trado utilizado". Além da análise de solo, a análise foliar também pode proporcionar uma base para nutrir o cafezal de forma mais eficiente, uma vez que o extrator de nutrientes mais adequado é a própria planta. Não se recomenda adubação a partir da análise foliar, mas pode-se ter uma idéia da eficiência das doses e fontes utilizadas, especialmente para micronutrientes.
Para um maior aproveitamento dos fertilizantes, o processo se inicia pela aplicação de calcário e gesso, se necessária. Não há aproveitamento adequado de fertilizantes se o solo não for corrigido ou se houver teores tóxicos de alumínio e baixos teores de cálcio e magnésio. Artigos que tratam desse assunto: "Necessidade de calagem para a cultura do café" e "Recomendação de gesso agrícola para a cultura do café".
Estando o solo corrigido, devemos aplicar os fertilizantes de forma que seu aproveitamento seja favorecido, especialmente os nitrogenados e fosfatados, o que irá reduzir as perdas. Este é um assunto extenso e complexo, mas existem cinco artigos no radar técnico Solos e Nutrição que discutem esse assunto:
Aplicação de uréia em cobertura para a cultura do café
Fontes de potássio e a qualidade do café produzido
Calcário mais super simples, uréia versus sulfato de amônio e cal hidratada em solução de micronutrientes
Micronutrientes: fontes e formas de aplicação
Adubação fosfatada para o cafeeiro
Pela quantidade de artigos relacionados, fica claro que a nossa preocupação em reduzir custos se fez presente muito antes do aumento no preço dos fertilizantes, sempre enaltecendo as vantagens do básico e do simples, em relação à utilização de estratégias mirabolantes.
Utilização de adubos alternativos
Podemos dividir os fertilizantes entre tradicionais e alternativos. Os fertilizantes tradicionais são aqueles obtidos a partir de processos industriais. O fato de um fertilizante ser obtido a partir de um processo industrial, seja por meio de uma complexa síntese ou de uma simples moagem, não o desabona como insumo viável, uma vez que as plantas, até que se prove o contrário, utilizam os nutrientes exclusivamente na forma mineral.
Tudo, nesse caso, irá depender de seu preço. Já os adubos alternativos, são, principalmente, de origem orgânica. Maiores informações sobre esse tipo de adubo, bem como suas vantagens e desvantagens, podem ser obtidas no artigo "Adubação orgânica ou não, eis a questão".
Existe, atualmente, grande movimentação para que sejam utilizados adubos alternativos, devido ao elevado custo dos adubos tradicionais. A proposta, a princípio, é interessante, mas devemos definir, claramente, se os adubos alternativos são realmente mais baratos do que os adubos tradicionais e, ainda, se a relação benefício/custo será compensatória.
Para avaliarmos corretamente o preço de um fertilizante, não basta sabermos o preço de uma saca ou de uma tonelada do mesmo. Temos, sim, que encontrar o preço do kg de determinado nutriente ou dos nutrientes, contidos no fertilizante. O Quadro 1 mostra a concentração de nitrogênio em alguns fertilizantes, bem como o preço de venda e o preço real do nutriente.
Quadro 1 - Concentração de N, volume de comercialização, preço de venda e preço real de alguns adubos minerais e orgânicos
1/ Considerando 40 % de umidade; 2/ Considerando a compra do esterco e o custo da mão-de-obra utilizada para preparação do composto.
A partir do preço da saca, tenderíamos a escolher, como mais barato entre os fertilizantes minerais, o sulfato de amônio ou o nitrato de cálcio. Entretanto, se calcularmos o preço do kg de N, veremos que a uréia é o fertilizante mineral, fonte de nitrogênio, mais barato, mesmo que ocorram perdas.
Entre os adubos orgânicos, apenas o composto caseiro seria mais barato do que a uréia, se o objetivo for fornecer apenas nitrogênio para as plantas. Mas os adubos orgânicos contêm outros nutrientes, os quais seriam igualmente fornecidos, ainda que em pequenas quantidades.
Para comparar o preço do kg de nutrientes contidos nos diversos adubos, foi elaborado o Quadro 2, no qual se relacionam a concentração de nutrientes, o preço de venda e o preço real do kg de nutrientes.
Quadro 2 - Concentração de nutrientes, volume para comercialização, preço de venda e preço real dos nutrientes, de alguns adubos minerais e orgânicos
1/ Considerando 40 % de umidade; 2/ Considerando a soma nas concentrações de N, P, K, Ca, Mg e S.
Comparando o preço do kg de nutrientes entre os adubos minerais e os adubos orgânicos, podemos constatar que estes são mais baratos, especialmente o composto preparado na própria propriedade. Por outro lado, por apresentarem baixa concentração de nutrientes, o gasto com transporte e mão-de-obra para aplicação será maior com os adubos orgânicos. Isso deve ser levando em consideração quando formos escolher o fertilizante, pois, aplicar 50 toneladas de adubos orgânicos, em uma lavoura implantada em área com elevada declividade, não é uma tarefa fácil.
Além desses fatores, podemos relacionar alguns outros relativos aos adubos orgânicos. Sua capacidade de melhorar as características físicas dos solos é inegável, melhorando a retenção de água, a aeração e a retenção de nutrientes. Por outro lado, mesmo que se aplique uma quantidade elevada de adubos orgânicos, é possível que alguns nutrientes ainda estejam em nível inadequado, causando deficiências. Isto ocorre não apenas pela diferenciada proporção dos nutrientes contidos nesses adubos, mas, também, pelo elevado tempo requerido para sua disponibilização. Nesse sentido, a adubação com fertilizantes alternativos (orgânicos) será mais eficiente caso sua aplicação seja contínua em diversos ciclos produtivos.
Considerações finais
Como já discutido, a utilização dos adubos alternativos não seria suficiente para reduzir os custos de produção. Para isso, devemos, também, racionalizar a adubação, evitando perdas. Nesse sentido, podemos sugerir os fatores que devem ser considerados para que a adubação seja a mais econômica possível:
a) Fazer análise de solo e foliar.
b) Calcular as doses de corretivos e fertilizantes com base nesses resultados.
c) Escolher o fertilizante com base no preço dos nutrientes.
d) Aumentar a eficiência de aplicação dos fertilizantes.
e) Aproveitar os resíduos produzidos na propriedade.
f) Evitar, a todo custo, qualquer desperdício de recursos.
No momento econômico atual, só temos uma certeza: a época do desperdício acabou! Agora, José, ou se é empresário e se utiliza as tecnologias economicamente viáveis, ou se abandona a cafeicultura.