A realização da calagem dos solos em que se diagnosticou, por meio de competente análise laboratorial, excessiva acidez e toxidade do alumínio livre, é uma prática de manejo com a qual todos os produtores agrícolas, sem exceção, devem se preocupar. A correção da acidez e a inativação do alumínio livre contribuem para um pleno desenvolvimento radicular e, conseqüentemente, melhor condições de nutrição fisiológica da planta, condicionando-a a alta produtividade.
Consiste em desperdício físico e financeiro a esparramação de adubo numa lavoura em que o solo está demandando correção. A planta, impedida de absorvê-los, inerte assistirá aos processos de lixiviação que levarão os tão preciosos nutrientes para as profundezas do lençol freático, contribuindo, isso sim, no longo prazo, para salgar um bocadinho mais nossos mares e oceanos.
Apreciando uma série de consumo de calcário nos principais estados produtores de café do Brasil, comprova-se um fato alarmante: o volume de calcário distribuído na agricultura exibe diminuição quando não se mantém em patamar irrisório (nitidamente o caso capixaba) (Gráfico 1).
Figura 1 - Evolução do consumo de calcário, por estado, Brasil, 1992-2006
Fonte: Elaborado a partir de dados básicos da ABRACAL (www.abracal.com.br).
Ainda que a informação esteja com importante defasagem (dados até 2006), o cálculo da tendência permite uma visualização matemática do fenômeno. Assim, por meio da estimação da taxa geométrica de crescimento do consumo de calcário nos estados selecionados, revela que a tendência prevalecente foi negativa e mais acentuada nos Estados do Paraná e de São Paulo e positiva para Minas Gerais e Espírito Santo. Observe-se que em razão do r2 ser muito baixo, aproveitamos apenas o sinal da tendência e não o número obtido, pois sua probabilidade, estatisticamente, é baixa (TABELA 1).
Tabela 1 - Taxa de crescimento geométrica do consumo de calcário, Estados selecionados, Brasil, 1992 a 2006
Fonte: Calculada pelo autor a partir de dados básicos da ABRACAL (www.abracal.com.br).
Os Estados selecionados coincidem com os principais cinturões de café do País. Tendo em conta que nesses cinturões a produtividade média das lavouras saiu das ridículas 7,0 sc/ha em 1992 para, aproximadamente, 18sc/ha em 2006, tem-se que foi observado um salto na produtividade em formidáveis 257% no período. Entretanto, o desleixo com as aplicações de calcário demonstrado tanto graficamente como estatisticamente, permite a ilação de que os produtores rurais, inclusive os cafeicultores, estão a distribuir fertilizantes em suas explorações - uma vez que a produtividade cresceu - em quantidades muito superiores as necessárias caso estivessem monitorando a acidez do solo e a saturação de bases.
O conhecimento agronômico não pode ser ignorado. O avanço da tecnologia nunca esmorece, mas ao contrário, está sempre em busca de inovações com impactos significativos sobre a produtividade do trabalho, maior sustentabilidade ambiental e vantagens sócio-econômicas. Até mesmo o gesso, produto até poucos anos ignorado pela agricultura, vem demonstrando sua importância como coadjuvante na correção do solo, por meio de uma condução do cálcio-magnésio para camadas mais profundas do perfil, aportando enxofre às áreas em que esse nutriente exibe teores abaixo do nível de ótimo nutricional para as plantas.
Cafeicultor, se o momento é de crise de preços, e o é desde as últimas cinco safras, ceifar justamente aquele que é o mais infinitesimal dos custos - a aplicação de calcário para correção da acidez do solo, constitui numa estratégia pouco sensata e que acarretará, ao contrário, um aumento dos gastos pela perda de nutrientes fornecidos pela simples incapacidade de absorção radicular das plantas. Faça análise de solo rotineiramente e procure o agrônomo de sua cooperativa para aplicar corretamente o calcário que sua lavoura está a precisar.