Diversos indicadores do desempenho da economia brasileira são freqüentemente divulgados na mídia e em estudos acadêmicos, fundamentando tal argumento. Podem-se citar, dentre outros, a participação expressiva do agronegócio no PIB, na geração de empregos, que promove a distribuição de renda, nas exportações, e a considerável contribuição para a balança comercial brasileira.
Por outro lado, merecem ser consideradas, nesse contexto, as pressões e as transformações por que passam todos os negócios na atualidade, em decorrência da influência de fatores como globalização da economia, desregulamentação do mercado, formação de blocos econômicos, crescente valorização dos recursos naturais e aumento das exigências dos consumidores.
Ainda merecem ser destacados os problemas por que passam grande parte dos produtos agropecuários brasileiros, quer por questões sanitárias, pela sobrevalorização cambial ou, pura e simplesmente, por excesso de oferta em relação à demanda, amplificado pela fraca estruturação de algumas cadeias produtivas.
Todo esse cenário se reflete no grau de complexidade do gerenciamento dos negócios e nas exigências para a sobrevivência das empresas, que aumentam expressivamente. Para conviver e sobreviver nesse ambiente, o setor agropecuário tem demandando profundas mudanças não só no sistema produtivo, mas principalmente na forma de administração da empresa pelo produtor, que necessita, atualmente, dar ao seu negócio caráter empresarial e produzir com eficiência técnica e econômica e com qualidade.
É preciso considerar, ainda, que o sistema moderno do agronegócio ampliou a complexidade da atividade agropecuária, de modo que as porteiras das fazendas não constituem mais o seu limite, mas um conjunto muito mais amplo de atividades e setores que incluem toda a cadeia produtiva, incorporando novas concepções, ações e atitudes, em que produtividade, custo, escala e eficiência, dentre outros, se impõem como regras básicas de sobrevivência.
Mais do que saber produzir, é preciso que os produtores rurais saibam administrar. É a sua capacidade gerencial que faz a diferença num cenário tão complexo e desafiador. O produtor rural de sucesso, atualmente, precisa obter não apenas informações sobre produção e tecnologia, mas conceitos administrativos em áreas como marketing e finanças. Precisa também aprimorar sua tomada de decisão, aperfeiçoando as decisões estratégicas e táticas; ajustar seu negócio continuamente às mudanças tecnológicas e às condições de mercado; dar maior ênfase à análise do mercado; e aprimorar suas funções gerenciais.
Estes são os assuntos que pretendemos desenvolver nas nossas reflexões futuras. Aprofundar aspectos do gerenciamento, do empreendedorismo, dos cenários que afetam a gestão dos negócios e do perfil gerencial dos produtores rurais.
O gerenciamento da empresa rural está centrado no processo de tomada de decisão, e o administrador é um tomador de decisão. Assim, é necessário que se conheça bem o processo, para que possa aperfeiçoá-lo para atender aos objetivos e metas dos produtores.
Dentre os vários aspectos que poderiam ser enfatizados, no que diz respeito à tomada de decisão do produtor, merece destaque a questão dos níveis de decisões, como o estratégico, o tático e o operacional, que correspondem, também, aos níveis administrativos (além destes, autores incluem também o nível do conhecimento ).
As decisões estratégicas são orientadas para o futuro e envolvem grande quantidade de incerteza, estabelecimento de objetivos da empresa e planos de longo prazo para alcançar esses objetivos. Administrar estrategicamente a empresa rural consiste em um processo contínuo e iterativo, que visa manter a empresa como um conjunto apropriadamente integrado a seu ambiente. Decisões sobre localização da empresa, fontes de capital e produtos a serem explorados são exemplos de decisões estratégicas.
A tomada de decisão tática preocupa-se com a implementação das decisões tomadas no nível estratégico e inclui, dentre outros, a alocação dos recursos e definição do sistema produtivo.
As decisões operacionais envolvem a execução de tarefas específicas que assegurem a eficiência e a eficácia do processo produtivo, como, por exemplo, a obtenção ou não de crédito, a definição da quantidade de estoque, a atribuição de tarefas aos empregados, etc.
Figura 1 - Níveis hierárquicos das decisões
Fonte: HICKS (1986), citado por VALE (2003).
Nesse contexto, vale chamar atenção para um fato de extrema importância na gerência das empresas: a compreensão de que o maior número das decisões ocorre no nível operacional, mas as mais importantes se dão no nível estratégico. Dessa forma, o administrador precisa alocar melhor seu tempo para que possa pensar estrategicamente no seu negócio e não ficar apenas "mergulhado" e envolvido nas decisões do dia-a-dia da empresa.
Todo o processo de tomada de decisão do produtor, ou seja, do gerente, do administrador, precisa estar alicerçado em dois pilares: no sistema de informação e no desempenho de suas funções gerenciais básicas.
Fonte: VALE (2003)
Figura 2 - O processo administrativo
As funções básicas ou primárias da administração, freqüentemente consideradas, são planejamento, organização, direção e controle.
Planejamento é a mais básica função administrativa. Nada pode acontecer até que um plano seja selecionado. A análise dos planos e projetos usa princípios econômicos e técnicas de orçamento e outras mais sofisticadas, que constituem ferramentas importantes para o gerente.
Organizar, por outro lado, consiste em buscar o melhor funcionamento da empresa, atribuindo a cada uma de suas partes constituintes funções específicas a partir de princípios claros, tais como delegação apropriada de autoridade, definição de ações e responsabilidades, unidades de comando, adequada organização dos mecanismos de avaliação e controle, sistema de comunicação, etc. Organizar, no contexto empresarial, significa agrupar as atividades formais e informais da empresa, incluindo a estrutura de autoridade. Ao dividir a empresa em "blocos" ou partes, para melhor desempenho, a função de organização estrutura essa hierarquia e indica quem é responsável pelo quê e quais as tarefas que cada unidade irá desempenhar.
Dirigir é uma função gerencial que visa conduzir as ações da unidade, do setor ou da empresa como um todo, rumo aos objetivos desejados. É preciso considerar que esta é uma das áreas mais importantes da empresa, razão pela qual precisa receber mais atenção por parte dos administradores rurais. Muitas são as dificuldades envolvidas na administração de pessoal, mas é preciso que se tenha clareza de que as empresas são constituídas de pessoas e dependem delas para atingir seus objetivos e metas.
Atualmente, no novo contexto de mudanças pelas quais passa a sociedade, na qual se valoriza muito a questão da produtividade, da qualidade e da competitividade, é preciso entender que as pessoas não são apenas o recurso mais importante da empresa rural, mas parceiras na busca do alcance dos objetivos do negócio. É muito importante que os administradores rurais criem uma atmosfera participativa dentro da empresa, para que todos possam caminhar na mesma direção, buscando atingir os objetivos da empresa e também os objetivos pessoais de todos. Questões como motivação, delegação, liderança, comunicação, além de seleção e recrutamento, legalização, controle, treinamento e desenvolvimento de pessoal, merecem ser consideradas pelo administrador rural, para que ele possa exercer seu papel de líder transformador que valoriza a participação de todos, tornando o trabalho mais eficaz.
Finalmente, a função de controle precisa ser enfatizada. Não se pode administrar bem aquilo que não se conhece. Questões importantes, como alcance dos objetivos e dos resultados esperados e correções que precisam ser feitas, não podem ser respondidas sem que haja na empresa um sistema de controle. Controle é mais do que contabilizar; ele requer um sistema para checar, regularmente, o plano e monitorar o progresso do resultado, comparado com os objetivos propostos. As informações geradas pelo controle realimentam o planejamento, permitindo correções no plano existente e nos futuros. Um bom sistema de controle requer um correto sistema de registro e habilidade para utilizá-lo. Nesse sentido, o produtor precisa determinar o sistema que lhe é conveniente, de forma que possa utilizá-lo no seu processo de tomada de decisão.
Como mencionado anteriormente, o sistema de informação também sustenta o processo de tomada de decisão. A informação é um ingrediente essencial ao processo administrativo. A tomada de decisão efetiva e o pensamento estratégico não podem ser divorciados da informação, que precisa ser oportuna, precisa, completa, concisa e relevante. Existem diversas fontes de informações disponíveis para o administrador rural que deve buscar utilizar aquelas que realmente sejam importantes na sua tomada de decisão, procurando selecioná-las com cuidado e envolver profissionais consultores qualificados. É preciso, ainda, que cada um defina e implemente um sistema de informação que seja adequado, dentre outros, à complexidade de seu negócio, aos seus objetivos e metas e às suas condições financeiras e gerenciais.
Por último, é preciso considerar que há necessidade de o produtor assumir uma postura empreendedora, que lhe requer desenvolver uma série de qualidades pessoais, como capacidade de assumir riscos, habilidade para identificar oportunidades, conhecimento do seu negócio, organização, disposição para tomar decisões, liderança e otimismo.
No entanto, muito já se conseguiu, com esforço e dedicação de todos, o que contribui para a sustentação econômica e social do país. Sempre há possibilidades de se melhorar, mas o reconhecimento do grande mérito que o produtor rural brasileiro possui não pode deixar de ser mencionado, admirado e aplaudido.
Bibliografia citada:
VALE, S.M.L.R. ERU 536 Administração da Produção Agropecuária. Viçosa, MG: UFV, 2003. 62 p. (Curso de Pós-Graduação em Gestão do Agronegócio).