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Nutrição: Conilon x Arábica - artigo André Guarçoni

POR ANDRÉ GUARÇONI M.

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 16/03/2012

5 MIN DE LEITURA

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O café é originário da África, sendo que as duas espécies mais plantadas no mundo são a Coffea arábica e a Coffea canephora. A primeira é originária das regiões altas da Etiópia e a segunda da densa floresta tropical que se desenvolveu na bacia do rio Congo. A variedade conilon, da espécie C. canephora, foi observada em estado selvagem junto ao ribeirão Kouillou, na bacia do rio Congo. A distribuição geo-evolutiva das duas espécies mostra claramente o porquê do café arábica ser apto para plantio em regiões altas e de temperaturas amenas, e o café conilon para plantio em regiões baixas e quentes. Dessa forma, o processo evolutivo gerou plantas diferentes, seja em relação a características estruturais, fisiológicas ou nutricionais.

A eficiência de absorção de nutrientes pelas raízes é uma característica determinada geneticamente. Assim, entre os cafés arábica e conilon, a eficiência de absorção de nutrientes será diferenciada, influenciando, marcadamente, a quantidade de nutrientes acumulada e exportada com a colheita.

Não bastasse a maior produtividade, que supera 120 sc/ha em alguns casos, a quantidade de macronutrientes exportada em uma saca de 60 kg é, também, muito superior no café conilon, em ralação ao arábica, exceção feita ao P (Tabela 1). A demanda nutricional, gerada pela colheita, nos dois casos, será relevante para a definição de doses adequadas de macronutrientes, especialmente para o conilon, sendo estas altamente influenciadas pela carga pendente. Esse fato pode explicar as elevadas doses de N e K recomendadas para o café conilon, como as sugeridas por Lani et al. (2007), que chegam a 620 kg/ha de N e 600 kg/ha de K2O, para uma produtividade superior a 170 sacas/ha.

Tabela 1 - Macronutrientes exportados numa saca1/ (60 kg) de café conilon ou de café arábica



Para um mesmo patamar de produtividade, entretanto, as doses de NPK recomendadas para o café conilon são menores do que as recomendadas para o arábica. Alguns autores consideram que o café conilon possui sistema radicular mais desenvolvido do que o arábica, acarretando maior aproveitamento dos fertilizantes aplicados e, consequentemente, menores doses para uma mesma produtividade. Entretanto, Guarçoni M. e Prezotti (2009) demonstraram que a menor exigência do café conilon, para uma mesma produtividade, não está ligada à extensão de seu sistema radicular, que muitas vezes é menor ou semelhante ao do arábica, mas sim, ao fato do café conilon apresentar, para alguns nutrientes, alta taxa de absorção por unidade de comprimento radicular (eficiência de absorção) e, para outros, maior eficiência de utilização.

Considerando os micronutrientes, o café arábica apresenta maior acúmulo de Fe e Mn na parte aérea do que o café conilon. B, Zn e Cu são acumulados em quantidades equivalentes, mesmo que ocorram pequenas diferenças e o conilon acumule mais Zn do que Cu e o arábica justamente o contrário (Tabela 2).

Tabela 2 - Acúmulo de micronutrientes na parte aérea dos cafés conilon e arábica



No caso do Mn, há uma seletividade comprovada do sistema radicular do café conilon em relação a este micronutriente. Tal observação é consistente com o fato de que a espécie C. canephora é muito mais sensível à toxicidade de manganês, apresentando nível crítico do elemento nas folhas bem menor do que C. arábica (Tabela 3). Esta seletividade ou menor eficiência de absorção é responsável pela constante observação em campo de deficiência de Mn no café conilon. Portanto, em café conilon, a adubação com Mn carece de maior atenção do que no café arábica, pois apresenta extremos de deficiência e toxidez muito próximos.

Para o Fe, o elevado acúmulo na parte aérea do café arábica não refletiria uma maior necessidade fisiológica da planta, mas sim uma excessiva deposição desse elemento no tronco e nos ramos, uma vez que os teores foliares adequados de Fe nos dois cafés apresentam magnitudes muito semelhantes (Tabela 3).

Tabela 3 - Faixas de suficiência de micronutrientes no tecido foliar dos cafés arábica e conilon



Guarçoni M. e Prezotti (2009), avaliando diversos trabalhos, reportam que o café conilon apresenta, ainda, menor tolerância a teores tóxicos de Al3+ no solo, baixa eficiência de absorção e utilização de Mg, e é bem mais exigente em Ca do que o café arábica. A deficiência de Mg é a mais frequentemente observada em lavouras de café conilon, especialmente em regiões com solo de textura média a arenosa.

A partir dessas constatações, é fácil presumir que a prática da calagem seja ainda mais importante para o café conilon do que para o café arábica, não só por neutralizar o Al3+, que pode atingir mais facilmente teores tóxicos, mas, principalmente, para fornecer Ca e Mg às plantas, e em maiores quantidades. Nesse sentido, cabe questionar o valor da saturação por bases (V) adotada para o café conilon (60 %) e também a relação Ca:Mg do solo, que deveria ser, nesse caso, mais estreita. Estas são as razões que levam alguns profissionais a sugerir e a adotar, com êxito, valores de V em torno 80 % para o café conilon de altas produtividades, com aplicação de calcário dolomítico e, algumas vezes, com complementação de sulfato ou óxido de magnésio.

Como visto, apesar de ser considerado um café rústico e resistente, ou, como diria meu avô: "selvagem", o conilon necessita de nutrição específica e meticulosa, especialmente se for almejado o alcance de elevadas produtividades.


Literatura Citada

BRAGANÇA, S.M.; COSTA, A.N.; LANI, J.A. Absorção de nutrientes pelo cafeeiro conilon (Coffea canephora Pierre ex Froenher) aos 3,6 anos de idade: Macronutrientes. In: I SIMPÓSIO DE PESQUISA DOS CAFÉS DO BRASIL, EMBRAPA/FUNCAFÉ, 2000. Resumos expandidos... EMBRAPA/FUNCAFÉ, 2000. p.1350-1351.

BRAGANÇA, S.M.; MARTINEZ, H.E.P.; LEITE, H.G.; SANTOS, L.P.; SEDIYAMA, C.S.; ALVAREZ V., V.H.; LANI, J.A. Acúmulo de B, Cu, Fe, Mn e Zn pelo cafeeiro conilon. Revista CERES, Viçosa, MG, 54(314): 398-404, 2007a.

BRAGANÇA, S.M.; PREZOTTI, L.C.; LANI, J.A. Nutrição do café conilon. In: FERRÃO, R.G.; FONSECA, A.F.A.da.; BRAGANÇA, S.M.; FERRÃO, M.A.G.; De MUNER, L.H. (Eds.) Café conilon. Vitória, ES: Incaper, 2007b. p.297-327.

CIETTO, S. & HAAG, H.P. Nutrição Mineral do cafeeiro III. Recrutamento de B, Cu, Fe, Mn e Zn pelo cafeeiro (Coffea arabica L. cv. Catuaí) com dois, três, quatro e cinco anos de idade, nas fases fenológicas de repouso, granação e maturação, vegetando em um Latossolo Amarelo, fase cerrado. Anais... Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, SP, 46: 403-431, 1989.

GUARÇONI M., A.; PREZOTTI, L.C. Fertilização do café conilon. In: Zambolim, L. (Ed.). Tecnologias para produção do café conilon. Viçosa: UFV, 2009. p. 249-293.

LANI, J.A.; PREZOTTI, L.C.; BRAGANÇA, S.M. Cafeeiro. In: PREZOTTI, L.C.; GOMES, J.A.; DADALTO, G.G.; OLIVEIRA, J.A.de.(Eds.). Manual de recomendação de calagem e adubação para o estado do Espírito Santo - 5a Aproximação. Vitória, ES, SEEA/INCAPER/CEDAGRO, 2007. p. 111-118.

PREZOTTI, L.C.; NOVAIS, R.F.de; ALVAREZ V., V.H.; CANTARUTTI, R.B.; BARROS, N.F.de. Adubação de formação e manutenção de cafezais (Sistema para Recomendação de Fertilizantes e Corretivos de Solo para a Cultura do Café Arábica). In: Zambolim, L. (ed.), Café: produtividade, qualidade e sustentabilidade. Viçosa, UFV, Departamento de Fitopatologia, 2000. p.125-147.

ANDRÉ GUARÇONI M.

D.Sc. em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa-MG. Pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper)

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ANDRÉ GUARÇONI M.

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 23/03/2012

Prezado Juarez Muniz Junior,

Você está correto. O trabalho de nutrição das lavouras seria muito mais eficiente se a avaliação desta nutrição fosse sistemática e freqüente. Seria...!

Os corretivos e fertilizantes são aplicados apenas no período chuvoso do ano. Temos que esperar a reação dos mesmos com o solo para realizar a coleta de amostras e a análise. Portanto, a amostragem e a análise de solo devem ser anuais, pois não haveria benefício em coletar amostras no meio do período chuvoso. Se for utilizada fertirrigação, sim, as análises de solo devem ser freqüentes, para que seja determinada, especialmente, a "condutividade elétrica da pasta de saturação", característica que é um indicativo da salinidade solo, sendo que esta pode ser gerada pela própria prática de fertirrigação.

No caso da análise foliar, o problema consiste nas fontes de comparação, ou seja, com quais teores de referência vamos comparar os teores determinados no tecido das plantas da lavoura. A grande maioria das Tabelas de referência é elaborada para uma época específica: quando os frutos estão no estádio de chumbinho. Dessa forma, não há como comparar os teores determinados em outras épocas com essas Tabelas, pois o teor da maioria dos nutrientes varia de acordo com a época do ano, mesmo a planta estando bem nutrida. Assim, o teor determinado numa época diferente pode ser menor do que o teor Tabelado, passando a idéia de deficiência; mas, na realidade, o teor pode estar correto para a época na qual se realizou a amostragem. Aquela história que sempre ouvimos: "é só para ter uma idéia", está completamente equivocada, pois não se sabe qual seria a realidade para determinada região, em determinada época do ano.

Nesse caso, só há uma saída: definir quais são os teores de referência, regionais, para cada época em que será realizada a amostragem foliar. Este é um trabalho de pesquisa até certo ponto simples, mas que necessita de um profissional capacitado para realizá-lo. A meu ver, associações de cafeicultores, cooperativas, ou qualquer outro grupo regional, deveriam  contratar esse tipo de serviço, visando à elaboração de Tabelas de Referência regionalizadas, com normas específicas para cada trimestre do ano. É curioso como se gasta tanto recurso com tecnologias completamente inócuas e infundadas, Juarez, mas se deixa na prateleira aquelas que poderiam realmente incrementar os lucros dos cafeicultores.

Abração e muito sucesso.

André Guarçoni M.  
JOSE MIGUEL AZEVEDO PIROVANI

GUAÇUÍ - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 19/03/2012

Parabéns pelo artigo Dr. André,

Eu creio que para os produtores chegarem a uma boa nutrição de solo e folha, têm que fazer análises de solo e foliares, pois só assim poderão saber quanto deve ser aplicado de cada macro e micro nutriente, e se precisa realmente realizar alguma aplicação. Eu faço isso com os meus clientes, fazemos análises de solo e folha todo ano para poder chegar a uma correta nutrição e boa produção.

Abraço,

José Miguel Azevedo Pirovani (RURAL AGRÍCOLA)
JUAREZ MUNIZ JÚNIOR

ITABUNA - BAHIA - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 17/03/2012

Excelente artigo André,

Creio que nos cabe, como produtores, realizar um controle mais efetivo dos teores de nutrientes disponívels nas plantas através de um sistemático acompanhamento dos níveis destes nutrientes, através de uma combinação de análise de solo anual com análises foliares mais constantes. Qual a tua sugestão ?

Um abraço,

Juarez Muniz Jr

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