A eficiência de absorção de nutrientes pelas raízes é uma característica determinada geneticamente. Assim, entre os cafés arábica e conilon, a eficiência de absorção de nutrientes será diferenciada, influenciando, marcadamente, a quantidade de nutrientes acumulada e exportada com a colheita.
Não bastasse a maior produtividade, que supera 120 sc/ha em alguns casos, a quantidade de macronutrientes exportada em uma saca de 60 kg é, também, muito superior no café conilon, em ralação ao arábica, exceção feita ao P (Tabela 1). A demanda nutricional, gerada pela colheita, nos dois casos, será relevante para a definição de doses adequadas de macronutrientes, especialmente para o conilon, sendo estas altamente influenciadas pela carga pendente. Esse fato pode explicar as elevadas doses de N e K recomendadas para o café conilon, como as sugeridas por Lani et al. (2007), que chegam a 620 kg/ha de N e 600 kg/ha de K2O, para uma produtividade superior a 170 sacas/ha.
Tabela 1 - Macronutrientes exportados numa saca1/ (60 kg) de café conilon ou de café arábica
Para um mesmo patamar de produtividade, entretanto, as doses de NPK recomendadas para o café conilon são menores do que as recomendadas para o arábica. Alguns autores consideram que o café conilon possui sistema radicular mais desenvolvido do que o arábica, acarretando maior aproveitamento dos fertilizantes aplicados e, consequentemente, menores doses para uma mesma produtividade. Entretanto, Guarçoni M. e Prezotti (2009) demonstraram que a menor exigência do café conilon, para uma mesma produtividade, não está ligada à extensão de seu sistema radicular, que muitas vezes é menor ou semelhante ao do arábica, mas sim, ao fato do café conilon apresentar, para alguns nutrientes, alta taxa de absorção por unidade de comprimento radicular (eficiência de absorção) e, para outros, maior eficiência de utilização.
Considerando os micronutrientes, o café arábica apresenta maior acúmulo de Fe e Mn na parte aérea do que o café conilon. B, Zn e Cu são acumulados em quantidades equivalentes, mesmo que ocorram pequenas diferenças e o conilon acumule mais Zn do que Cu e o arábica justamente o contrário (Tabela 2).
Tabela 2 - Acúmulo de micronutrientes na parte aérea dos cafés conilon e arábica
No caso do Mn, há uma seletividade comprovada do sistema radicular do café conilon em relação a este micronutriente. Tal observação é consistente com o fato de que a espécie C. canephora é muito mais sensível à toxicidade de manganês, apresentando nível crítico do elemento nas folhas bem menor do que C. arábica (Tabela 3). Esta seletividade ou menor eficiência de absorção é responsável pela constante observação em campo de deficiência de Mn no café conilon. Portanto, em café conilon, a adubação com Mn carece de maior atenção do que no café arábica, pois apresenta extremos de deficiência e toxidez muito próximos.
Para o Fe, o elevado acúmulo na parte aérea do café arábica não refletiria uma maior necessidade fisiológica da planta, mas sim uma excessiva deposição desse elemento no tronco e nos ramos, uma vez que os teores foliares adequados de Fe nos dois cafés apresentam magnitudes muito semelhantes (Tabela 3).
Tabela 3 - Faixas de suficiência de micronutrientes no tecido foliar dos cafés arábica e conilon
Guarçoni M. e Prezotti (2009), avaliando diversos trabalhos, reportam que o café conilon apresenta, ainda, menor tolerância a teores tóxicos de Al3+ no solo, baixa eficiência de absorção e utilização de Mg, e é bem mais exigente em Ca do que o café arábica. A deficiência de Mg é a mais frequentemente observada em lavouras de café conilon, especialmente em regiões com solo de textura média a arenosa.
A partir dessas constatações, é fácil presumir que a prática da calagem seja ainda mais importante para o café conilon do que para o café arábica, não só por neutralizar o Al3+, que pode atingir mais facilmente teores tóxicos, mas, principalmente, para fornecer Ca e Mg às plantas, e em maiores quantidades. Nesse sentido, cabe questionar o valor da saturação por bases (V) adotada para o café conilon (60 %) e também a relação Ca:Mg do solo, que deveria ser, nesse caso, mais estreita. Estas são as razões que levam alguns profissionais a sugerir e a adotar, com êxito, valores de V em torno 80 % para o café conilon de altas produtividades, com aplicação de calcário dolomítico e, algumas vezes, com complementação de sulfato ou óxido de magnésio.
Como visto, apesar de ser considerado um café rústico e resistente, ou, como diria meu avô: "selvagem", o conilon necessita de nutrição específica e meticulosa, especialmente se for almejado o alcance de elevadas produtividades.
Literatura Citada
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