Alguns fatores podem ser levantados para explicar a crescente deficiência de micronutrientes em lavouras de café: aumento na produtividade das lavouras, acarretando elevada remoção de micronutrientes do sistema; aplicação de elevadas doses de calcário, favorecendo o aparecimento de deficiências induzidas (em pH elevado alguns micronutrientes não ficam disponíveis); utilização de formulações altamente concentradas de NPK, reduzindo o conteúdo incidental dos micronutrientes nesses produtos.
Alguns outros fatores podem estar envolvidos no problema, mas os fatores apresentados, agindo isoladamente ou em conjunto, com certeza contribuem para a maioria das deficiências de micronutrientes detectadas. A partir disso, pode-se dizer que, atualmente, a aplicação de micronutrientes é fundamental para se atingir ou manter elevadas produtividades na cafeicultura.
Condições de deficiência
A dinâmica dos micronutrientes no solo é muito variável. Mas podemos separar situações em que a probabilidade de deficiência é maior. No Quadro abaixo são mostradas algumas condições que limitam a disponibilidade dos micronutrientes.
Adaptado de Lopes (1999).
O processo de causa e efeito nem sempre é direto, como aparece no Quadro. Entretanto, tomando-se alguns cuidados, baseados nas condições descritas, pode-se reduzir a possibilidade de deficiência dos micronutrientes. Nesse sentido, a aplicação de doses corretas de calcário é a forma mais eficaz de reduzir as deficiências de micronutrientes induzidas.
Princípios de aplicação
Segundo Lopes (1999), vêm sendo utilizados no Brasil três princípios básicos (os quais Lopes chama de filosofias) para aplicação de micronutrientes: princípio da segurança, princípio da restituição e princípio da prescrição.
Apesar de pouco embasado em critérios científicos, o princípio da segurança é o mais utilizado, pois, até certo ponto, é eficiente. Neste princípio, não são considerados os teores de micronutrientes presentes no solo, nem o "status" nutricional da cultura. Aplicam-se elevadas doses de micronutrientes, suficientes para produções também elevadas. Esse tipo de recomendação funciona, e bem, mas pode haver desperdício de recursos, caso o solo seja capaz de suprir adequadamente a cultura, e, em alguns casos, toxidez causada por micronutrientes aplicados em excesso, principalmente o boro.
O princípio da restituição visa fornecer os micronutrientes exportados pelas colheitas. Isso implica na elevação inicial dos teores de micronutrientes no solo até níveis satisfatórios. Dessa forma, mesmo que as quantidades aplicadas inicialmente sejam pequenas, em relação às quantidades aplicadas de macronutrientes, haverá certo desperdício, pois a cultura não irá explorar todo o volume de solo corrigido. Além disso, as eventuais perdas de micronutrientes por erosão e, ou, lixiviação, são de difícil quantificação, tendendo-se a subestimar as doses recomendáveis.
O princípio da prescrição é, cientificamente, o mais correto. As doses seriam recomendadas em função das análises de solo e de folhas. No entanto, a eficiência da análise de solo para micronutrientes pode ser questionada.
O comportamento dos micronutrientes no solo é muito influenciado por características do meio. A textura, a mineralogia, o teor de matéria orgânica do solo, o pH, as condições de oxi-redução e até as interações entre nutrientes irão influenciar a real disponibilidade dos micronutrientes. Dessa forma, a disponibilidade medida por meio de análises laboratoriais pode não apresentar estreita correlação com a real disponibilidade para as plantas.
As baixas concentrações dos micronutrientes no solo também contribuem para reduzir a eficiência das análises químicas. É muito difícil quantificar, em laboratórios de rotina, concentrações tão baixas. Some-se a isso, as freqüentes contaminações geradas pela amostragem do solo e pelas próprias análises. Quando a concentração é pequena, qualquer contaminação, por menor que seja, pode interferir no resultado final. Dessa forma, pode-se dizer que a análise de solo não é, ainda, um método confiável para se determinar a deficiência ou não de micronutrientes.
Nesse sentido, a análise foliar mostra-se de extrema importância para se aferir o status nutricional da cultura, em relação aos micronutrientes. O melhor extrator de nutrientes do solo é a planta. Entretanto, se os teores na planta estiverem muito abaixo do estabelecido, pode não haver tempo hábil para correção da deficiência e a produção estará, consequentemente, comprometida. Por isso, quando se trabalha com o princípio da prescrição, a análise foliar anual é essencial.
Qual princípio de aplicação utilizar?
Dentre os três princípios de aplicação apresentados, o princípio da segurança e o princípio da prescrição são os mais indicados. O princípio da restituição é o mais difícil de ser implementado, devido à difícil quantificação das perdas de micronutrientes por erosão e por lixiviação, o que acarreta a recomendação de doses, geralmente, subestimadas.
Os outros dois princípios têm, também, pontos negativos. O princípio da segurança pode representar sério desperdício, além de aumentar as chances de toxidez por micronutrientes. Já o princípio da prescrição, tem o problema da pequena confiabilidade da análise de solo para esse caso. É por isso, e por causa da dinâmica dos micronutrientes no solo, que a pesquisa pouco tem avançado em relação à calibração (definição) de doses de micronutrientes para a cafeicultura.
As tabelas para recomendação de micronutrientes, quando existentes, estão, ainda, em suas primeiras aproximações. Mas, apesar disso, são instrumentos fundamentais para se balizar as doses recomendáveis.
A partir dessas considerações, o que parece mais correto, em relação à aplicação de micronutrientes, é a utilização conjunta dos princípios da segurança e da prescrição. Aplica-se uma dose que seguramente irá proporcionar elevada produção, mas, sempre, levando-se em consideração o "status" nutricional da planta (análise foliar), os teores de micronutrientes no solo (mesmo sendo pouco confiáveis) e as doses recomendáveis estipuladas nas tabelas existentes.
Dessa forma, estará garantida elevada produção, com perdas aceitáveis e reduzidos riscos de toxidez.
Literatura Citada
LOPES, ALFREDO SCHEID Micronutrientes: filosofias de aplicação e eficiência agronômica. São Paulo - ANDA, 1999. 58p. (Boletim Técnico, 8).