A mancha de phoma do cafeeiro é uma doença fúngica que ocorre em vários países do mundo onde se cultiva café em áreas de altitudes mais elevadas.
O gênero Phoma compreende mais de 2000 espécies que estão agrupadas em nove seções. Algumas espécies são relacionadas como importantes patógenos da parte aérea do cafeeiro. No Brasil já foram encontradas mais de cinco espécies desse fungo. Entretanto duas espécies são as mais conhecidas:
Phoma costarricensis, descrita pela primeira vez em 1957 na Costa Rica e Phoma sp., descrita em 1961 na Colômbia causando danos aos cafezais localizados acima de 1000 metros de altitude; existindo porém, diferenças morfológicas entre suas estruturas e no modo de infectar a planta.
Independente da espécie envolvida, este fungo ataca folhas, flores, frutos e ramos do cafeeiro, produzindo lesões bem características. Os danos causados por essa doença se fazem refletir diretamente na produção uma vez que ocorre a morte dos botões florais, das brotações novas, queda de frutinhos e má granação dos frutos devido à desfolha, comprometendo o desenvolvimento e a futura produção da planta.
Os danos indiretos causados pela doença é a desfolha e a seca das extremidades dos ramos, que leva a uma redução na produção do ano e na produção do ano seguinte, além de produzir uma bebida de qualidade inferior.
Ataques sucessivos da doença promovem intenso brotamento dos ramos laterais, reduzindo o arejamento e a penetração de luz no interior do cafeeiro. Surtos esporádicos também podem ocorrer em mudas nos viveiros ou no campo se as plantas forem expostas a ventos frios, mesmo em altitudes inferiores a 900 m.
A mancha de phoma vêm aumentando sua importância econômica nos últimos anos em razão dos prejuízos que causa na produção. Tem sido grande problema para instalação de lavouras cafeeiras em regiões de altitude elevada ou nos topos dos morros, como ocorre no Estado do Espírito Santo e algumas localidades na Zona da Mata Mineira. As maiores perdas são verificadas em plantações sujeitas à ação de ventos frios, principalmente nos anos com excesso de chuvas no inverno. A doença pode limitar o plantio de café em regiões altas como nos chapadões do triângulo mineiro, sul de Minas e oeste da Bahia.
O controle preventivo tem sido a principal medida recomendada para manejo da doença. No artigo deste mês, iremos tratar da mancha de phoma do cafeeiro, abordando aspectos teóricos que poderão nos auxiliar no manejo integrado da doença no campo, visto que sua intensidade vem aumentando no campo e poucas pesquisas vêm sendo realizadas com o objetivo de estudar melhor este patossitema.
2 - Sintomas da doença
As lesões típicas da mancha de phoma ocorrem nas folhas do primeiro ou segundo nó de ramos do terço superior da planta. Estas lesões localizam-se geralmente nas margens das folhas, impedindo o crescimento nessa área e fazendo com que a folha fique retorcida. Possui formato irregular, coloração escura e tamanho variado, presença de anéis concêntricos de 1 a 3 cm de diâmetro.
Figura 01: Sintomas da mancha de phoma em folhas do cafeeiro
Fonte: Antonio Souza
Estas lesões, ao serem observadas com lupa, revelam a presença de pequenas pontuações salientes (chamadas de picnídios), de coloração marrom-clara, que constituem o corpo de frutificação do fungo e de onde saem os esporos (também chamados de conídios), que irão contaminar as outras folhas da planta. O fungo sobrevive por curto período de tempo em ramos secos e folhas caídas no solo. A disseminação do patógeno dentro da planta, e de uma planta para outra, ocorre pelos respingos de água das chuvas ou da irrigação.
Nos ramos, o fungo penetra no local em que ocorre abscisão das folhas nos cinco primeiros nós, devido à queda da folha causada por outras doenças ou pragas ou ainda pela senescência natural das folhas. Os sintomas se iniciam por uma queima ou seca dos tecidos jovens produzindo uma morte do ramo de cima para baixo. À medida que a doença avança, as folhas começam a cair, uma vez que a necrose afeta a parte lignificada do ramo doente, a qual prossegue lentamente ocasionando uma seca total do ramo. Em função disso, pode-se observar superbrotamento causado pela morte das extremidades dos ramos e formação de grande número de ramos laterais. Quando o ataque ocorre na inserção das folhas, sobre os ramos, a lesão progride e o ramo começa a secar, do ponto infectado em direção à extremidade que, às vezes, continua verde. Vale ressaltar que a seca de ramos pode ter várias outras causas de origem biótica e abiótica.
Figura 02: Sintomas da mancha de phoma em ramos do cafeeiro
Fonte: Hélcio Costa (pesquisador do Incaper-ES)
Nas flores, no pedúnculo dos frutos e nos frutinhos, o fungo causa lesões escuras, mumificações e queda de chumbinhos. Os frutos jovens ficam negros e mumificados, e nos frutos já formados aparecem pontuações negras, que são as frutificações do patógeno. Os frutos podem ser atacados em qualquer estádio de desenvolvimento.
Figura 03: Sintomas da mancha de phoma em frutos de café
Fonte: Hélcio Costa (pesquisador do Incaper-ES)
3 - Condições favoráveis à doença
Dependendo da espécie de Phomaenvolvida, as lesões se desenvolvem a partir de um dano mecânico no tecido, causado por inseto ou pelo roçar das folhas tenras umas nas outras ou injúria pelo vento.
Phoma costarricensis necessita que haja ferimento no tecido do hospedeiro enquanto que a Phoma sp. não necessita de ferimentos prévios para seu desenvolvimento.
A exposição das plantas aos ventos frios vindos de diferentes posições causa injúrias (ferimentos) nas folhas, favorecendo a penetração do patógeno. Em regiões mais frias e úmidas, a presença de vento sul e sudeste na época do florescimento têm favorecido a ocorrência da doença no início do período de formação dos frutos, levando a mumificação e queda desses frutos no início de seu desenvolvimento.
Em condições de campo, a mancha de phoma se apresenta com maior intensidade em regiões de altitudes mais elevadas (acima de 800 m) no início e final do período de inverno, quando as condições climáticas são bastante favoráveis à doença. Os períodos de maior incidência da doença ocorrem entre os meses de março/abril (final do período chuvoso) e setembro/outubro (início do período chuvoso). Vale ressaltar que, dependendo da região e das condições de clima, a doença pode evoluir também em outros meses.
De modo geral, temperaturas entre 18º C a 19º C, chuva de granizo, entrada de frentes frias, neblina, umidade relativa elevada e períodos prolongados de vento frio, são os principais fatores climáticos que favorecem a doença. Estas condições são comuns em regiões descampadas e de altitude elevada principalmente no início e final do período chuvoso.
Em anos mais frios, nos meses de abril/maio, a infecção por Phoma pode ocorrer juntamente com a mancha de olho pardo nas folhas e frutos do cafeeiro. Nestas condições ocorre seca de ramos e na florada seguinte o fungo ataca flores e frutos nas fases de chumbinho causando prejuízos consideráveis.
4 - Controle
O controle da mancha de phoma deve começar pela adoção de uma série de medidas culturais que tem como objetivo prevenir a instalação da doença e facilitar o controle químico, quando este for empregado. Sabemos que, em regiões muito favoráveis, o controle químico por si só não controla satisfatoriamente a doença.
4.1 - Algumas medidas preventivas de controle:
Os viveiros devem ser formados em locais bem drenados e protegidos contra ventos frios e dominantes. Deve-se também controlar a irrigação, evitando o excesso de umidade no viveiro. Recomenda-se ainda, aumentar o espaçamento das plantas no viveiro para permitir maior arejamento e, com isto, conseguir reduzir a severidade da doença.
A escolha da área onde será implantada uma lavoura de café é de grande importância, por isso devem-se evitar áreas desprotegidas (como os topos dos morros), sujeitas aos ventos fortes e frios. A implantação adequada de quebra-vento é uma opção para as áreas em formação. Deve-se levar em consideração que a instalação de quebra vento segue critérios técnicos, porque, se for feita de forma inadequada, pode canalizar o vento para a lavoura e não interceptá-lo. Dessa forma, estaria favorecendo ao invés de controlar a doença.
Lavouras adultas, situadas em áreas onde a doença possa apresentar caráter epidêmico, devem também ser protegidas, iniciando-se pela instalação de quebra-ventos provisórios com plantas de crescimento mais rápido e promovendo-se, simultaneamente, o plantio de plantas arbóreas perenes recomendadas para esta finalidade.
Considerar sempre que, lavouras formadas em altitudes superiores a 900 m estão mais sujeitas ao ataque do patógeno, e nessas condições, a implantação de quebra ventos é de fundamental importância para o manejo integrado da doença.
Adubação equilibrada das plantas evita o desequilíbrio nutricional, diminuindo desta forma o esgotamento dos ramos produtivos, o que abriria a porta para entrada do fungo. A redução da adubação nitrogenada em lavouras muito enfolhadas e em áreas sujeita a neblina, ajuda a reduzir a incidência da doença.
A aplicação da calda viçosa após o florescimento protege os frutos novos contra a penetração do fungo, além de ajudar na nutrição da planta, fornecendo micronutrientes via foliar para o cafeeiro.
4.2 - Controle químico.
O controle químico da mancha de phoma é oneroso, porque dependendo da região, abrange um período muito longo de proteção. Entretanto, ele é indispensável e deve ser recomendado de forma preventiva para lavouras com boas perspectivas de produção, em locais onde ocorrem chuvas contínuas e temperaturas baixas, durante o período de florescimento, e início da frutificação. Assim, devido à instabilidade climática observada nos últimos anos e à rápida evolução da doença no campo, quando as condições estão favoráveis, o controle químico tem sido muito oneroso para o produtor, pois em geral são feitas três ou quatro pulverizações com fungicidas específicos nesta época.
As aplicações de fungicidas devem ser iniciadas logo após as primeiras chuvas (em geral, no mês de setembro) e continuadas até novembro/dezembro, caso as condições favoráveis (umidade, frio e temperatura media abaixo de 20º C) permanecerem. Estas pulverizações devem ser feitas a cada 30 dias visando mais a proteção dos botões florais e dos frutos em formação.
Quando a doença for constatada no final do período chuvoso (em abril/maio) atacando as folhas novas e os ramos do ponteiro, deve-se efetuar uma ou duas pulverizações (em intervalo de 30 dias) com fungicidas específicos visando reduzir a desfolha da planta, a incidência de seca de ramos e a quantidade de inóculo residual que irá favorecer o ataque da doença na época do florescimento e formação dos frutos. Normalmente, o controle químico da ferrugem e da mancha de olho pardo, quando realizado com produtos a base de cobre (calda viçosa, calda bordalesa, oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre e oxido cuproso), propicia certa proteção das folhas e ramos neste período.
Existem atualmente 19 marcas comerciais de produtos registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Meio Ambiente (MAPA) para o controle da mancha de phoma do cafeeiro, sendo que destas, 11 são fungicidas sistêmicos e 9, são protetores.
Dentre os fungicidas sistêmicos, seis marcas pertencem ao grupo químico dos triazóis sendo que 5 produtos tem o tebuconazol como ingrediente ativo e um produto a base de metconazol; duas marcas pertencem ao grupo das estrobilurinas, sendo azoxytrobina o ingrediente ativo; três marcas pertencem a diferentes grupos como anilida (boscalida); um benzimidazol (tiofanato metilico) e um fosfonato (fosetil).
Dentre os protetores, duas marcas comerciais pertencem ao grupo químico dos cúpricos, tendo o hidróxido de cobre como o único ingrediente ativo registrado para o controle da mancha de phoma; duas marcas pertencem ao grupo químico do dicarboximida (iprodione) e quatro marcas comerciais pertencem a diferentes grupos químicos tais como triazinilanilina (anilazina); uma guanidina (iminoctadina); uma isoftonitrila (clorotalonil) e um organoestânico (acetato de fentina).
A eficiência de controle desses produtos tem variado de acordo com resultados de diversos trabalhos científicos realizados nos últimos anos em diferentes localidades do País. Portanto, a escolha de qual princípio ativo a ser utilizado na lavoura depende da recomendação de um Engenheiro Agrônomo de sua região.
5 - Referências Bibliográficas
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