Nesses casos, ocorre a degradação das propriedades levando a prejuízos anuais e depauperação das lavouras. A falta de um manejo adequado de podas, nutrição deficiente, falta de controle de pragas, doenças e plantas invasoras e a utilização de espaçamentos ineficientes são problemas comuns nesse tipo de propriedade que resultam em baixas produtividades.
A esperança que existe nestes casos é que em muitas situações essas propriedades apresentam ótimo potencial para a produção de café e, quando se opta por uma recuperação, apesar desta ser trabalhosa, pode-se obter resultados positivos.
Em geral, nos projetos de recuperação de propriedades cafeeiras em situação de abandono, a situação inicial é muito complicada. Encontra-se todo tipo de problema, tanto na área de produção, com as lavouras sentindo os maus tratos, como no pós-colheita, com as estruturas mal conservadas, e na área administrativa, com problemas de ações trabalhistas, falta de registro das atividades, de controles de produção e de históricos da propriedade.
Foto 1: Lavoura depauperada.
Além disso, a principal debilidade dessas fazendas costuma ser a falta de uma visão empresarial na condução do negócio. Atualmente, para ser lucrativa a atividade cafeeira demanda uma eficiência muito maior que nas décadas passadas e acima de tudo que a propriedade seja encarada de forma global como uma empresa agrícola.
Qualquer fazenda-empresa que queira obter resultados positivos deve seguir rigorosamente um planejamento elaborado para a atividade. No caso de recuperação de propriedades depauperadas esse planejamento também é essencial e deve nortear as ações ao longo das safras.
A maior prova do excessivo número de propriedades cafeeiras depauperadas e com baixas produtividades é a produtividade nacional que, segundo a ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café) de 2003 a 2005, ficou em 16 sacas/ha.
O café por tratar-se de uma cultura perene leva em média três anos para entrar em produção. A cultura apresenta alto custo de implantação (em média, R$ 6.000,00/ha) e de condução (em média, R$ 5.000,00/ha). Sendo assim, o processo de recuperação deve ser gradual e contínuo.
Foto 2: Excesso de falhas e falta de desenvolvimento
De início, devemos realizar um retrato atual da propriedade bem como uma avaliação de seu potencial produtivo. Detectado um bom potencial de produção de café devemos elaborar um planejamento de reformas das lavouras. O guia para as reformas são as produtividades alcançadas que, ficando abaixo de 40 sacas/ha, devem ser repensadas e reavaliadas.
Para se recuperar uma propriedade cafeeira podemos nos valer de podas, arranquio de lavouras e plantios novos. Na área de podas existem diversas opções, cada uma delas adequada a uma situação. Como o cafeeiro é uma planta que só produz frutos em ramos novos a poda é uma prática que precisa estar inserida no planejamento anual da fazenda.
A Poda como ferramenta de recuperação de lavouras
Dentro da área de podas existe grande diversidade de opções. Diversos fatores influem na escolha do tipo de poda a se realizar: histórico produtivo, fechamento de ruas, excesso de altura das plantas, perda dos ramos produtivos inferiores ("saia"), má conformação da área produtiva das plantas ("cinturadas", deformadas), danos por geadas, etc.
A maioria das podas deve ser feita tão logo se finalize a colheita a fim da planta ter mais tempo para produzir ramos novos. De maneira geral, quanto mais cedo se realiza a poda maior será a produtividade no ano seguinte pelo maior tempo de recuperação das plantas. No caso de geadas recomenda-se aguardar a planta mostrar sinais de recuperação para se escolher o tipo de poda.
As podas promovem, além da remoção da parte aérea, morte de raízes conforme pode ser observado no quadro 1. Pode-se notar que é uma situação de estresse para as plantas e quanto mais severa, maior a mortalidade de raiz e maior o tempo para recuperação. Portanto a escolha correta do tipo de poda é fundamental para o sucesso da operação.
Quadro 1: Mortalidade de raízes de cafeeiros em vários tipos de podas - Cafezal Mundo Novo, 7 anos, 3,5 m x 1,5 m (3-4 hastes/cova) Alfenas - MG 1986.
No nosso próximo artigo, trataremos dos tipos de poda, enfocando sua aplicabilidade na recuperação de propriedades cafeeiras depauperadas.
Bibliografia:
- Anais do 11º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras. MAPA/PROCAFÉ