O posicionamento dos tensiômetros deve ser feito com muito critério em relação ao gotejador e às plantas de café, de forma a representar a umidade do solo na média da faixa úmida formada pelo tubogotejador.
Caso estes sensores de umidade sejam posicionados muito próximos ou muito distantes em relação ao gotejador, as leituras induzirão a interpretação de excesso ou falta de umidade, respectivamente. O posicionamento ideal está representado na Figura 2.
Para um manejo adequado da irrigação do cafeeiro, sugere-se instalar tensiômetros em três profundidades, 20, 40 e 60 cm. As três profundidades sugeridas compõem uma bateria e a quantidade por projeto a monitorar dependerá de situações com variáveis em planta, solo e microclima, ou seja, devem ser monitorados por baterias individuais setores com plantas em idades e espaçamentos diferentes, solos com texturas distintas e onde houver face do terreno mais ou menos exposta ao sol, como encosta e topo da área.
Como regra geral, temos adotado com sucesso a instalação de 5 baterias por tipo de solo homogêneo (mesmas características físico hídricas), ou seja, 15 tensiômetros (5 de 20 cm, 5 de 40 cm e 5 de 60 cm). As decisões são tomadas, portanto, sempre com médias de 5 leituras. Na Figura 3 consta uma bateria de tensiômetros, já instalada.
Figura 4 – Medida do tensiômetro com tensímetro digital
Para fins de manejo de irrigação, tem-se usado os seguintes valores de referência em lavouras de café irrigadas por gotejamento. Estes valores podem diminuir caso o solo tenda para arenoso ou aumentar quanto tenda para argiloso:
• 0 -8 kPa: O solo está saturado ou muito próximo à saturação. Quando as irrigações atingem esse nível de umidade no solo, houve um gasto excessivo de água e há lixiviação do solo;
• 10 kPa: Para a maioria dos solos, é tido como a capacidade de campo, ou seja, o teor ideal de umidade no solo onde há água facilmente disponível às plantas e a aeração não é prejudicada;
• 25-30 kPa: Em cafeeiros irrigados por gotejamento, este é o momento de irrigar.
• 30 kPa: A partir deste valor a planta começa a ter dificuldades de absorver água do solo e pode ter seu desenvolvimento vegetativo e reprodutivo afetados.
É importante lembrar que o valor obtido nas leituras de tensiômetros estão acrescidas do peso da coluna de água presente no interior do tensiômetro e, por isso, deve ser descontado de suas leituras para se obter o potencial matricial, medida da força com que o solo retêm a água e, indiretamente, indica o teor de umidade.
Com o uso do tensiômetro, é possível observar o perfil de caminhamento de água no solo a cada irrigação ou chuva além de descrever o comportamento da umidade do solo em relação a estes eventos ao longo do tempo, como se observa na Figura 5.
Além de permitir um manejo adequado da irrigação, a tensiometria também pode ser utilizada para a sincronização da florada do cafeeiro com estresse hídrico controlado, no que se chama de “irrigação com sublâminas”. Nesta tecnologia, mantém-se o cafeeiro irrigado com ½ ou 1/3 da lâmina diária (dependendo da região), por um período de tempo a partir da colheita, sendo o controle da umidade do solo feito com as leituras dos tensiômetros.
Referências:
SANTINATO, R.; FERNANDES, A.L.T. Cultivo do cafeeiro irrigado por gotejamento. 2 ed., Uberaba: Autores, 378p., 2012.
SANTINATO, R.; FERNANDES, A.L.T.; FERNANDES, D.R. Irrigação na cultura do café. 2 ed., Belo Horizonte: O Lutador, 476p., 2008.
Saiba mais sobre nosso colunista:
André Luís Teixeira Fernandes é Doutor em Engenharia de Água e Solo, com concentração em Irrigação e Drenagem, pela Feagri / UNICAMP – Campinas. Mestre em Irrigação e Drenagem, com área de concentração em Uso Racional de Água e Energia Elétrica na Agricultura e Pecuária, pela ESALQ / USP – Piracicaba; Engenheiro Agrônomo, formado pela ESALQ / USP - Piracicaba; Atua como Professor e Pesquisador na Universidade de Uberaba há dez anos, ministrando aulas nos cursos de Gestão de Agronegócios e Engenharia Ambiental, na Graduação e nos cursos de Pós Graduação de Cafeicultura Irrigada e MBA em Gestão de Agronegócios, cursos de Especialização que coordena. É coordenador do Núcleo de Cafeicultura Irrigada da Embrapa Café e Bolsista do CNPq (Produtividade em Pesquisa). É autor de vários livros, dentre os quais se destacam: Irrigação na cultura do café (primeira e segunda edições), Cultivo do cafeeiro irrigado por gotejamento (primeira e segunda edições), Cultivo do cafeeiro irrigado sob pivô central em plantio circular, Irrigação por aspersão em malha, Utilização da aspersão em malha na cafeicultura familiar, dentre outros. É diretor do curso de Engenharia Ambiental da Uniube. É consultor em cafeicultura irrigada em vários estados do Brasil.
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