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Manejo agroecológico de pragas do cafeeiro é assunto de painel da Expocafé 2020

POR EQUIPE CAFÉPOINT

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 16/07/2020

5 MIN DE LEITURA

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Na última quarta-feira (15), durante o painel “Avanços em cafeicultura orgânica e agroecológica”, realizado pela Expocafé 2020 digital, a pesquisadora da Epamig e coordenadora do Programa de Pesquisa em Agroecologia, Madelaine Venzon, apresentou estudos sobre Manejo agroecológico de pragas do cafeeiro.

“O manejo agroecológico, diferente do manejo integrado ou do controle de pragas em si, considera o manejo como um todo, ou seja, é considerado o sistema com todos os elementos, não somente a praga e o seu inimigo natural, mas também as plantas, todo o ambiente e a paisagem agrícola”, explicou a engenheira agrônoma. Ela contou que na técnica são levadas em consideração todas as interações e como é possível utilizá-las para manejar as pragas.

Principais inimigos naturais presentes na teia alimentar

As duas principais pragas do café presentes nas lavouras brasileiras são o bicho-mineiro e a broca-do-café. O primeiro causa minas na folhagem, diminuindo a área fotossintética da planta e provocando a queda das folhas. Já o segundo é conhecido por perfurar o fruto na fase “chumbão”, colocando os ovos em seu interior. Essas larvas se alimentam do conteúdo do fruto atingido, causando a diminuição de peso e afetando a qualidade dos grãos, além de atuar como porta para microrganismos.

Para combater essas pragas, existe um grupo grande de inimigos naturais. No caso do bicho-mineiro, Madelaine explicou que as vespas são uma excelente alternativa para controle: “as vespas conseguem detectar as lagartas do bicho-mineiro dentro das minas e se alimenta delas. Em alguns lugares onde a lavoura é bem manejada ecologicamente, a predação por vespas em bicho-mineiro pode chegar a mais de 70%”.

Outro predador natural importante é o crisopídeo, que coloca seus ovos presos aos pedicelos das plantas. “As larvas são conhecidas como bicho lixeiro porque elas carregam sobre o dorso todo o resto das suas presas e outros detritos, funcionando como uma camuflagem”, comentou a pesquisadora, destacando que este predador, quando está um pouco maior, consegue predar também pré-pupas do bicho-mineiro.

Já a respeito da broca-do-café, dois dos principais predadores naturais são as formigas e os trips. Ambos conseguem entrar no grão através do buraco causado pela broca e se alimentarem da praga. Segundo Madelaine, apesar de ser um predador novo, já existem experimentos e trabalhos publicados a respeito dos benefícios dos trips para a diminuição da broca-do-café.

Essas duas pragas também podem ser controladas através de alguns parasitoides e entomopatógenos. O mais comum e conhecido deste último grupo é a bovéria baciana, um fungo que ataca a broca-do-café. “Ela tem ocorrência natural em algumas regiões, mas é baixa. No Brasil já existem produtos formulados a base de bovéria baciana para controlar a broca-do-café”, afirmou a pesquisadora.

Por que esses insetos atingem o status de praga mesmo com tantos inimigos naturais?

Madelaine explicou que as principais causas para que o bicho-mineiro, a broca-do-café e outros insetos se tornem pragas nas lavouras são a falta de recursos ecológicos para os inimigos naturais nas monoculturas e o uso de agrotóxicos.

Em muitas propriedades é comum enxergarmos apenas cafeeiros plantados na lavoura, o que torna o ambiente um local propício para a proliferação das pragas. “Este é o cenário ideal para quem gosta de café, como a broca e o bicho-mineiro. A broca só se alimenta do fruto e o bicho-mineiro, das folhas dos cafeeiros. Então é natural e esperado que as populações desses insetos atinjam níveis elevados”, reforçou a engenheira agrônoma.

Para mudar este cenário, é necessário prestar atenção em outros fatores essenciais para os inimigos naturais: microclima, alimentos alternativos e abrigo. “A vespa se alimenta do bicho-mineiro, mas ela precisa também de energia, carboidrato, e isso ela encontra no néctar das plantas. O café tem um florescimento no período curto, então como vamos esperar mais inimigos naturais na lavoura se a gente não tem esses recursos?”, questionou.

Madelaine comentou que o uso de agrotóxicos também prejudica a atuação dos predadores naturais: “o fungicida, o inseticida e o acaricida matam esses insetos, ácaros e os fungos benéficos. Mesmo que se consiga usar outro produto que tenha um grau maior ou menor de seletividade, algum inseto vai ser afetado, e é muito difícil conseguir uma seletividade, principalmente nas grandes áreas”.

Como aumentar esses predadores naturais nas lavouras?

Durante o painel, a pesquisadora falou sobre as pesquisas desenvolvidas pela Epamig Sudeste sobre Controle Biológico Conservativo do Café (CBCC), que ocorrem desde 2001. “Nós iniciamos pesquisas com a seleção de adubos e plantas de cobertura que além de serem usadas para outros serviços no café, como adubação e cobertura do solo, poderiam ser selecionadas para fornecer alimentos para inimigos naturais”, contou Madelaine, relatando que alguns estudos testaram misturas de plantas, como o trigo mourisco, que fornece muito néctar, com a crotalária, responsável pela produção de uma grande quantidade de pólen.

A Epamig também realiza testes para verificar se com essa inserção de plantas não haveria a proliferação de pragas como o bicho-mineiro, uma vez que o adulto pode se alimentar de substância açucarada. “Fazemos testes para ver se essas plantas são ou não utilizadas por esses insetos. Nós vimos que não teve diferença na fecundidade do bicho-mineiro na presença desta planta”, afirmou a pesquisadora sobre o uso de trigo mourisco. Ela também comentou que nesses experimentos de sistemas diversificados foi notado um aumento das minas predadas.

A manutenção e a introdução de plantas nativas fornecedoras de alimento para inimigos naturais também vêm sendo estudadas pela Epamig. “Esse trabalho teve início na Zona da Mata a partir de levantamentos e observações feitas em sistemas agroflorestais já implantados. Pelo relato dos produtores, visualmente, nesses sistemas, foram encontrados menos pragas do que nos sistemas convencionais”, contou.

Uma das plantas testadas que obtive resultados positivos é o ingá, responsável pela grande produção de néctar. “Nós verificamos que nesses sistemas agroflorestais na Zona da Mata a taxa de parasitismo aumenta com a abundância dos visitantes desses nectários. Então temos mais parasitismo e, consequentemente, menos bicho-mineiro. A proporção de folhas minadas foi menor também, quanto maior a abundância desses visitantes”, relatou Madelaine.

A Epamig também realiza outros experimentos no Cerrado Mineiro onde são testadas outras plantas que podem ser introduzidas no café em vários arranjos, como sistemas agroflorestais, corredores e bosques. Segundo a pesquisadora, os testes são baseados em vários critérios, mas principalmente no fornecimento de alimentos para inimigo natural.

Ao final da apresentação, Madelaine deixou disponível o vídeo abaixo sobre o Dia de Campo do Cerrado Mineiro, onde são abordados alguns desses experimentos com as plantas:

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