Na florada, uma das épocas mais importantes do ciclo reprodutivo do cafeeiro, os botões florais podem ser afetados por estas doenças, com conseqüente queda ou posterior mumificação dos frutos no estádio inicial de desenvolvimento (foto 1).
Autor: Eduardo Mosca.
Foto 1 - Mumificação dos frutos na primeira fase de desenvolvimento.
O controle preventivo com fungicidas, tradicionalmente realizado em novembro e dezembro, em regiões com histórico dessas doenças, também tem sido recomendado por especialistas para o período pré e pós-florada (agosto/setembro), com significativo controle e conseqüente incremento na produtividade.
A Mancha de Phoma constitui sério problema em várias regiões produtoras, especialmente em lavouras situadas acima de 700 metros de altitude. A doença é favorecida por condições climáticas em que coincidem temperaturas amenas (18 a 19 º C) e umidade relativa elevada.
Esta condição ocorre principalmente com a entrada de frentes-frias, com chuvas finas e continuadas. Áreas sujeitas à incidência de ventos, com histórico da doença e lavouras irrigadas são as mais favoráveis à doença.
Nos últimos anos, o Laboratório de Fitopatologia do Instituto Biológico (IB) tem recebido amostras de ramos de diversas regiões do Brasil com botões florais e chumbinhos atacados por Mancha de Phoma.
De acordo com a fitopatologista do IB, Flávia Rodrigues Alves Patrício, para as regiões mais propícias e com o histórico da doença, o controle preventivo é primordial no período da floração e primeiro estádio de formação de frutos.
Bahia aprendeu a lição
Os cafeicultores do oeste da Bahia, depois de amargar alguns anos de prejuízos causados pela Mancha de Phoma, têm recorrido em massa ao controle preventivo na época da florada.
De acordo com o diretor da Fundação Bahia e do Departamento de Café da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), Mário Josino Meirelles, estudo realizado em propriedades de Luiz Eduardo Magalhães e Barreiras indicaram excelente controle e incremento médio na produtividade de 20 sacas/ha, com a aplicação preventiva de fungicidas na pré e pós-florada.
Em 2005, observaram-se focos generalizados da doença e, em determinadas lavouras, ataques severos na fase da florada/chumbinho. Lavouras que não receberam o controle apresentaram perdas de até 40% da produção.
Minas Gerais se previne
Na florada do ano passado (safra 2005/06), além do Cerrado, acostumado ao ataque da Mancha de Phoma, as principais regiões do Sul de Minas apresentaram surtos da doença no período da florada, com significativa redução da produtividade.
Recente publicação da Fundação Procafé, "Adubos, corretivos e defensivos para a lavoura cafeeira", com o apoio do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), orienta os produtores para o controle químico preventivo neste período, além do controle cultural que começa pela escolha da área de plantio e instalação de quebra-ventos bem planejada.
A Fundação Procafé, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com sede em Varginha (Sul de Minas), também recomenda para regiões mais propícias o plantio de cultivares tolerantes ao fungo, como algumas linhagens de Catucaí Amarelo.
Os autores, José Braz Matiello, Antônio Wander Garcia e Saulo Roque de Almeida, advertem que o principal prejuízo da doença está relacionado ao ataque sobre a roseta, desde os estádios de botões, flores e chumbinhos.
Para a pesquisadora da Epamig especialista em doenças do cafeeiro, Sara Maria Chalfoun, vale à pena investir na prevenção para não correr o risco de um surto da doença no período da florada, cujo dano reflete diretamente sobre a produção. Ela adverte que as aplicações de fungicidas podem ser feitas apenas em áreas propícias ao fungo, diferente do controle da ferrugem, que tem como característica ataques generalizados.
Manejo integrado
O extensionista do IAC e consultor do CBP&D/Café, Roberto Thomaziello, também recomenda o controle preventivo da Mancha de Phoma no período da florada, principalmente, para o Cerrado Mineiro, onde as lavouras estão acima de 1000 metros.
Como o controle químico isolado é difícil e dispendioso, ele sugere a integração de métodos, como a instalação racional de quebra-ventos e atenção especial à nutrição do cafeeiro, evitando-se o excesso de nitrogênio (N), que favorece a doença.
Flávia Patrício recomenda aos produtores a aplicação de fungicida com orientação de um profissional capacitado, levando-se em conta o histórico da área, o estádio da cultura e o clima.
As aplicações devem ser direcionadas aos ramos e, principalmente, à parte superior da planta, que tem mais brotações novas e sofre mais injúrias causadas pelos ventos, diferente do controle da ferrugem, que incide apenas nas folhas e começa de baixo para cima na planta.
Manchas de "Phoma e Ascochyta"
No campo e até mesmo em publicações científicas é comum a citação de duas doenças causadas por fungos de espécie distinta, a Mancha de Phoma e a Mancha de Ascochyta. O sintoma clássico em folhas pode ser visto na foto 2.
Autor: Eduardo Mosca.
Foto 2 - Sintoma clássico nas folhas.
Entretanto, o micologista e professor da Universidade Federal de Lavras, Ludwig Pfenning, adverte que o agente etiológico da doença conhecida por Ascochyta do Cafeeiro é Phoma tarda. Isto significa que tanto a Mancha de Phoma como a Mancha de Ascochyta são causadas por espécies do gênero Phoma.
Em associação com cafeeiros no Brasil foram identificadas seis diferentes espécies deste fungo: Phoma tarda, Phoma costarricensis, Phoma exigua, Phoma jolyana, Phoma herbarum e Phoma leveillei.
A diferenciação de nomenclatura das doenças teve origem quando o fungo, atacando folhas em cafezais na Etiópia, foi descrito com o nome Ascochyta tarda (Stewart 1957). Porém, o mesmo patógeno tinha sido registrado em São Paulo, já em 1902, por Hennings, como Ascochyta coffeae. Estudos confirmaram que o agente causal é o mesmo e o nome Phoma tarda foi adotado na literatura científica. A diferenciação entre as espécies e seus sintomas é verificada apenas no microscópio.
Artigo enviado pela Assessoria de Imprensa da Embrapa Café.