A mancha anular do cafeeiro é uma virose que já foi relatada nas principais regiões produtoras dos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, tanto em lavouras de Coffea arabica quanto em Coffea canephora, causando intensa desfolha na época seca e fria do ano.
Os principais danos causados no cafeeiro referem-se à queda precoce de folhas, principalmente as mais internas da copa e redução dos atributos de qualidade do café produzido.
Esta doença é transmitida, no cafeeiro, pelo ácaro plano - Brevipalpus phoenicis, o mesmo que causa a leprose do citros. A época crítica de ocorrência deste ácaro (e conseqüentemente da mancha anular) ocorre entre os meses de julho e setembro.
O desequilíbrio na população de ácaros predadores (causado pela aplicação excessiva de inseticidas e/ou fungicidas), bem como as condições climáticas adversas (estiagens prolongadas), é apontado como os fatores responsáveis pelo aumento da intensidade desta virose no campo. O manejo integrado da mancha anular baseia-se no monitoramento e controle do ácaro vetor.
2 - Sintomatologia
A mancha anular pode ocorrer tanto em folhas quanto em frutos do cafeeiro. No limbo foliar, ocorrem manchas, com faixas alternadas de tecido verde normal e tonalidades de verde clorótico ou amarelada, formando um aspecto de um anel. As manchas podem atingir até 2 cm de diâmetro ou coalescerem e atingir grande parte do limbo foliar. Ocorrem quase sempre ao longo das nervuras das folhas e no local das lesões, as nervuras da parte inferior geralmente apresentam-se necrosadas.
Plantas atacadas ficam bastante desfolhadas, de dentro para fora, adquirindo-se aspecto de "plantas ocas". Morte de gemas apicais de ramos de dentro das plantas também foram constatadas como conseqüência desta doença, porém em menor escala.
Figura 1: Sintomas de ataque do vírus da mancha anular em folhas do cafeeiro.
Fonte: Hélcio Costa - INCAPER-ES
Nos frutos ocorrem manchas cloróticas, salientes e irregulares, sendo mais evidentes nos frutos já amadurecidos (estágio de cereja). Entretanto, a doença também pode incidir em frutos verdes em formação, causando morte e mumificação. Os frutos atacados geralmente tornam-se recobertos por fungos oportunistas como Colletotrichum, Fusarium, Penicillium, Cladosporium e Aspergillus.
Figura 2: Frutos de café com sintomas do vírus da mancha anular do cafeeiro.
Fonte: Hélcio Costa - INCAPER-ES
3 - Etiologia
A mancha anular é uma doença de etiologia viral, causada pelo Coffee ringspot virus (CoRSV), que tem como vetor o ácaro plano Brevipalpus phoenicis (Geijskes) (Acari: Tenuipalpidae). Esta conclusão foi obtida na década de 70 por meio da reprodução dos sintomas da doença em mudas sadias de C. arabica cv. Mundo Novo, as quais mostraram sintomas característicos da doença quando foram infestadas com ácaros provenientes de lavoura doentes.
Cortes de tecidos de plantas infectadas, observados ao microscópio eletrônico, evidenciaram que as partículas virais de CoRSV são baciliformes medindo 40 nm x 100-110 nm, com estriações transversais de 4 nm, e foram detectadas apenas em folhas, ramos e frutos manchados do cafeeiro (Figura 3). Isto indica que o vírus não causa infecção sistêmica generalizada em plantas de café.
Figura 3: Micrografia de secção ultrafina do tecido manchado da casca fruto de café infectado com CoRSV. N = Nucléolo,V = partículas de CoRSV em agregado.
Fonte: Boari et. al., 2006.
4 - Monitoramento do ácaro plano.
Brevipalpus phoenicis é um pequeno aracnídeo que mede cerca de 0,3 mm de comprimento. Apresenta o corpo achatado, de coloração vermelho-alaranjada com algumas manchas de tamanho e forma variados no dorso (Figura 4). Não forma teias nos tecidos da planta atacada. O ciclo biológico de ovo, ninfa e adulto dura cerca de 29 dias.
O monitoramento de sua população, visando à tomada de decisão em relação ao controle, deve ser realizado no terço inferior e nas folhas mais internas da copa do cafeeiro.
Figura 4: Ovo, ninfas e adultos do ácaro Brevipalpus phoenicis.
Fontes: AGROFIT, 2008 e www.agrobyte.com.br.
A amostragem é feita em 50 plantas por talhão, verificando a presença ou ausência de folhas e frutos com ácaros, usando-se uma lupa de 10 vezes de aumento. Em plantas de café, o ácaro plano geralmente localiza-se na parte inferior das folhas, próximos às nervuras, principalmente da nervura central. Nos frutos, ácaros e ovos são encontrados preferencialmente na coroa e pedúnculo, mas também podem ser encontrados em fendas e lesões na casca dos frutos com aspecto de cortiça.
5 - Controle
Embora as práticas agrícolas nem sempre reduzam a população da praga a níveis inferiores ao de dano econômico, elas devem ser priorizadas no manejo integrado por serem compatíveis com outras táticas de controle e não têm efeitos indesejáveis. Neste contexto, deve-se evitar plantios muito próximo de estradas movimentadas, as quais em períodos de seca constituem fonte de poeira, que se acumulará sobre as folhas, fornecendo abrigo para ovoposição deste ácaro e constituindo um fator de mortalidade de ácaros predadores.
A manutenção da cobertura do solo através do manejo de plantas daninhas e plantio de outras espécies, em consorciação ou ao redor da área de cultivo, servem de fonte de alimento e abrigo para ácaros predadores. Deve-se tomar certo cuidado com algumas espécies arbóreas usadas como quebra-vento que podem servir de hospedeiros alternativos de B. phoenicis.
Até o momento, os estudos indicam que a característica não-sistêmica atribuída ao vírus representa grande importância epidemiológica. Isto porque a presença do ácaro vetor é condição essencial para que ocorra a disseminação da doença dentro e entre plantas na lavoura. Além disso, existem suspeitas que o vírus seja capaz de multiplicar dentro deste vetor. Portanto o uso de acaricidas registrados para a cultura constitui-se numa ferramenta importante do manejo integrado desta doença (Tabela 1).
Tabela 1 - Ingredientes ativos registrados para controle do ácaro plano no cafeeiro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Fonte: AGROFIT, 2008.
Ainda não existem trabalhos de epidemiologia da doença relacionando a incidência da mancha anular com a porcentagem de infestação do ácaro vetor, mas a aplicação de acaricidas pode ser feita quando constatada a presença de 3 ou mais plantas atacadas na área amostrada.
É recomendável controlar o ácaro logo após a colheita e no início da formação dos chumbinhos, somente nos talhões da lavoura onde os sintomas em folhas e frutos foram observados na safra anterior. O alvo a ser atingido pelas pulverizações são as folhas e frutos do terço inferior e médio das plantas. Para maiores detalhes em relação ao controle químico, consulte um engenheiro agrônomo de sua região.
6 - Bibliografia consultada
AGROFIT(2008). Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.[Acessado em 02 de julho de 2008]. Disponível em: http:extranet.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_.
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