O Brasil já irriga 240.000 ha de todo o seu parque cafeeiro, o que representa quase 10% da cafeicultura nacional. O que chama a atenção é que esta fatia irrigada responde por 25% da produção nacional, mostrando a grande competitividade da cafeicultura irrigada nacional (SANTINATO; FERNANDES; FERNANDES, 2008).
Os cafezais irrigados estão mais concentrados nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e, em menor proporção, em Goiás, Mato Grosso, Rondônia e São Paulo.
A irrigação tem sido utilizada mesmo nas regiões consideradas tradicionais para o cafeeiro, como o sul de Minas Gerais, Zona da Mata de Minas Gerais, Mogiana Paulista, Espírito Santo, etc. Trabalhos de pesquisa demonstram que o aumento de produtividade média com o uso da irrigação (médias de pelos menos 3 safras) tem sido de 50%, quando comparada com as lavouras de sequeiro, trabalhos estes desenvolvidos nas regiões de Lavras e Viçosa, Minas Gerais, regiões consideradas aptas climaticamente ao cultivo do cafeeiro, sem a necessidade de irrigação.
Convém salientar que, embora a irrigação seja viável nestas regiões, o benefício do uso desta tecnologia é mais evidente em regiões mais quentes, onde a temperatura média mensal dificilmente fica abaixo dos 19º C, como as novas fronteiras do café, como Barreiras, Luiz Eduardo Magalhães e Cocos, na Bahia. Na Tabela 1, é possível verificar a divisão da cafeicultura brasileira em regiões, de acordo com a temperatura. As regiões podem ser classificadas, segundo Santinato; Fernandes (2002) em "frias", "médias" e quentes. A irrigação tem proporcionado melhores resultados de produtividade nas regiões quentes, seguido pelas médias e, por último, nas frias.
Vários experimentos têm sido conduzidos nas diferentes regiões cafeeiras, objetivando, principalmente, avaliar o efeito da irrigação na produtividade e qualidade do cafeeiro, sendo vários deles relacionados a estresse hídrico x produtividade/qualidade do café.
Tabela 1 - Classificação das regiões cafeeiras do Brasil de acordo com as temperaturas médias mensais.
Existem diferentes sistemas de irrigação que podem ser utilizados, sendo que a escolha do sistema de irrigação mais adequado depende de uma série de fatores, destacando-se o tipo de solo, a topografia, o tamanho da área, os fatores climáticos, os fatores relacionados ao manejo da cultura, o déficit hídrico, a capacidade de investimento do produtor e o custo do sistema de irrigação. Além disso, deve-se ter em mente também que é grande o volume de água exigido na irrigação e, por isso, a necessidade de otimizar a utilização deste recurso é um dos aspectos mais importantes que deverá, também, ser considerado no momento de decidir pelo método e pelo sistema de irrigação a ser utilizado.
O uso de métodos de irrigação mais eficientes no consumo de água está cada vez mais disseminado no Brasil e a irrigação por gotejamento em café é uma realidade em todas as principais regiões produtoras.
Um sistema inovador de produção de café foi proposto por uma grande empresa multinacional de gotejamento em 2005 em caráter experimental. Hoje, já existem áreas comerciais em São Paulo e no Triângulo Mineiro usufruindo desta tecnologia exclusiva. A técnica consiste basicamente em usar um sistema de gotejamento por pulsos para aplicar a água seguindo a curva de transpiração da planta ao longo do dia. Nesta água, também são aplicados os fertilizantes, buscando desta forma suprir a necessidade momentânea de água e nutrientes da planta, realizando-se várias irrigações pequenas apenas durante o dia (pulsos) e aplicando sempre solução nutritiva (nutrirrigação).
Figura 1 - Consumo de água por uma planta de café, ao longo do dia.
Nesta revolucionária forma de suprir as necessidades hídricas e nutricionais da planta, não se usa o solo como reservatório de água e sim como um suporte à planta. Desta forma, aplica-se a solução nutritiva para a demanda horária da planta, várias vezes ao longo do dia (pulsos) à medida que a radiação do sol aumenta e consequentemente, a transpiração da planta (Figura 1).
Nesta técnica, objetiva-se aumentar o desenvolvimento radicular em superfície, para que se potencialize a absorção de água e nutrientes, proporcionando menores perdas destes elementos pela pronta assimilação pela planta (Figuras 2 e 3).
Figuras 2 e 3 - Exemplos de grande desenvolvimento radicular com a utilização da nutrirrigação por pulsos
Em trabalho realizado por Paiva; Sanches (2010) na Estação Experimental de Varginha pertencente ao Procafé observam-se resultados significativos em aumento de produtividade nas duas primeiras safras de café Catuaí Vermelho no expaçamento de 3,5 x 0,7m, conforme pode ser visto na Tabela 2:
Tabela 2 - Primeiras safras da lavoura de Catuai Vermelho no sul de Minas Gerais, Varginha/MG, Fazenda Experimental da Fundação Procafé.
Para compor um sistema de nutrirrigação por pulsos, não basta somente utilizar gotejadores antidrenantes. É necessário que todo o sistema de gotejamento seja antidrenante, pois pequenas variações topográficas dentro do bloco de irrigação farão o sistema drenar e quando os pulsos forem aplicados - que são irrigações de curto espaço de tempo, 5 a 15 minutos -, o tempo de pressurização causará desuniformidade na aplicação da solução nutritiva. Portanto, este sistema tem uma engenharia específica e componentes específicos, além dos gotejadores, que são válvulas de retenção, válvulas antidrenantes de linhas de tubogotejadores e um sistema de fertirrigação automatizado.
Outra peculiaridade deste sistema é a necessidade de uma manutenção mais específica para prevenir crescimento microbiano, pois, como todo o sistema está sempre cheio de solução nutritiva, há um estímulo para crescimento de algas, bactérias e protozoários que podem causar desuniformidade. Isso é controlado com injeções mais frequentes de oxidantes, como o hipoclorito.
Até o momento, os resultados em produtividade que o sistema de nutrirrigação por pulso tem proporcionado justificam o investimento. Em média, tem-se obtido incremento de 5 a 10 sacas por hectare comparando-se com o sistema de gotejamento convencional. Esta diferença custeia o diferencial de investimento já na primeira safra.
Com a participação de produtores, pesquisadores e consultores, esta tecnologia tem-se adaptado às condições brasileiras tecnologias de ponta no uso da água que já são consagradas em Israel, Europa e África do Sul, cumprindo assim sua função de líder em prover tecnologias inovadoras para o uso de água na agricultura.
Referências bibliográficas:
SANTINATO; R.; FERNANDES, A.L.T.; FERNANDES, D.R. Irrigação na cultura do café. 2. ed. Belo Horizonte: O Lutador, 476p., 2008.
SANTINATO; R.; FERNANDES, A.L.T.; FERNANDES, D.R. Cultivo do cafeeiro irrigado em plantio circular sob pivô central. Belo Horizonte: O Lutador, 252p., 2005.
PAIVA, R.N.; SANCHES. C. E. J. Efeito da nutrirrigação por pulsos e convencional na produtividade do cafeeiro no sul de Minas Gerais. In: XII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PESQUISA EM CAFEICULTURA IRRIGADA. Araguari, Anais cd rom, 2010.