O professor de Engenharia de Irrigação e Recursos Hídricos, do Departamento de Engenharia de Sistemas Biológicos da Universidade de Nebraska - Lincoln, nos EUA, Derrel L. Martin, esteve no Brasil durante a Fenicafé para falar do uso da irrigação em casos de escassez hídrica, como o caso de Nebraska.
Para ter uma noção inicial o Estado de Nebraska possui 20 milhões de hectares, enquanto o Estado de Minas Gerais no Brasil possui 59 milhões de hectares.
De acordo com Derrel, nos EUA, em torno de 23 milhões de hectares são irrigados, sendo que o sistema de irrigação por aspersão é usado em mais da metade da área irrigada. Apenas 5% da área irrigada é usado sistema de gotejamento.
Dos métodos de irrigação por aspersores, o Pivô Central representa a maioria do sistema utilizado devido a menor disponibilidade e necessidade de mão-de-obra.
Dados de 2008 apontam que Nebraska possui 3,387 milhões de hectares irrigados, sendo 2,722 milhões de hectares ocupados pelo sistema de aspersão. Derrel comenta que no Estado, mesmo em regiões úmidas, como em áreas de cultivo de arroz por exemplo, eles utilizam irrigação.
Sendo assim, na média, 80% da área em Nebraska é irrigada e com pivô central. Há dez anos esse sistema representava apenas 50%, contra 50% de irrigação por sulco.
A irrigação sempre trouxe benefícios para as lavouras, principalmente nos Estados onde há escassez de água. Porém, exatamente por esse motivo, os Estados que tiveram suas áreas irrigadas reduzidas foram obrigados a fazer isso pela competição por água devido a expansão dos grandes centros urbanos.
As fontes de água utilizadas em Nebraska para irrigação são diversas. Trinta porcento são de águas superficiais e de descongelamento de geleiras que chega por canais. O restante são de rios, lagos e reservatórios.
Em áreas de escassez a alocação das águas deve ser muito bem gerenciada e planejada, a fim de suprir a necessidade tanto das lavouras como dos centros urbanos. Em Nebraska, existem mais de 90 mil poços de irrigação registrados que bombeiam a água de irrigação.
Derrel confessa que não conhece muito como funciona a irrigação no Brasil, mas que motivaria o país a investir em levantamentos de nível de água, para que se consiga monitorar o nível das águas subterrâneas e assim manipular a alocação das águas.
Em Nebraska, algumas áreas estão ganhando e outras perdendo em nível de água subterrânea. O Estado encontra problemas pois a água não está onde precisam que ela esteja, então precisam fazer a exportação dessa água para áreas onde há demanda.
Nesse caso, a demanda do rio é afetada porque o lençol freático se aprofunda e menos água alcança essa vazão. Outra questão é que as demandas a jusante podem conflitar com o uso local da água subterrânea, além de partes do aquifero não poderem ser exploradas.
Mas as barreiras enfrentadas por eles não param por aí. Há uma zona no Golfo do México com alto índice de nitrato em água subterrânea, devido ao uso incorreto de fertilizantes usado na agricultura. Essa zonas possuem falta de oxigênio e nutrientes na água, prejudicando a vida marinha e qualidade geral da água.
Todos esses impactos foram causados por falta de controle do sistema. Derrel comenta que hoje buscam o tipo de impacto causado em todos os sistemas. Por exemplo, quando aparece uma espécie em extinção, sabem que esse é o ponto mais importante a ser resolvido e por isso apostam todas as forças nisso.
Como já citado no início, o sistema é complexo e tem que ser olhado de maneira distante, portanto é necessário enteder o balanço hídrico também das terras não irrigadas, porque de uma forma ou de outra a água para diversos fins vem das mesmas fontes.
"De onde vem a água que você usa? Para onde ela vai? Quando você irriga, para onde vai a água?", pergunta Derrel acrescentando que em muitas vezes é difícil fazer balanço hídrico.
Hoje,em Nebraska, se tenta calcular quanto de água bombeada muda o nível da água dos aquíferos. Grandes áreas tiveram que parar de bombear água ou não podem expandir por não conseguirem fazer isso de maneira sustentável.
O cenário do suprimeinto de água em Nebraska é de apenas duas fontes de água, sendo precipitação e entrada de água superficial. Porém, tudo que entra é "perdido-consumido" por evapotrannpiração, saída de água superficial e parte por outras formas de consumo.
Para estudar melhor a irrigação, Derrel apresentou uma série de estágios de desenvolvimento da irrigação. Veja abaixo:
Hoje as visões estão voltadas para o desenvolvimento sustentável. "Estamos pensando na manutenção das águas dos rios. Estamos com problemas de água a jusante dos rios. E ainda pergunto: o que fazer com a água subterrânea e como maneja-la?"
O problema mais sério nos EUA atualmente é o custo do combustível fóssil para bombeamento da água. O consumo de combustível é de 375 L/ha irrigado, sendo um custo igual ao de fertilizantes e sementes (no caso de milho).
Uso de energia em Nebraska para irrigação (2007)
Uma das formas que encontraram para economia de energia no campo foi com o desenvolvimento de um Programa de Manejo de Cargas. Trata-se de um sistema automático em que a energia que move o pivô é cortada no momento que o mesmo não precisa funcionar, voltando depois.
Dentro desse programa há duas opções para o produtor: ou escolhe o controle integral, em que o monitoramento, ligamento e desligamento é feito diariamente; ou então opta por ter o programa apenas em alguns dias da semana. No caso do sistema integral, o produtor recebe um desconto por estar poupando energia.
Caso o produtor não participe de nenhum dos programas, seu custo na lavoura aumenta, para compensar o que está gastando.
Outro fator relacionado ao gasto de energia é que muitos produtores, 75%, estão gastando o dobro do que deveriam pois o sistema de bombeamento não é eficiente, problema que pode muito bem ser solucionado.
Para facilitar no momento da escolha ou manutenção dos sistemas de irrigação, os fornecedores dos materias disponibilizam um manual com gráfico aspersor, em que consta qual bocal se adapta ao aspersor correto, e em que local deve ser colocado.
Há ainda outros problemas que causam o uso desnecessário de energia e diminuem a eficiência do sistema. São eles: pressão inadequada para atender a vazão e uniformidade adequada; capacidade do sistema inadequada para cultura; escoamento superficial devido a escolha inadequada de aspersores; entre outros.
Para identificar os problemas, Derrel fala que o responsável tem que sair no campo ver se o sistema está funcionando de forma correta. "Tem que ter acompanhamento e monitoramento."
Monitorar a pressão e vazão é uma das maneiras mais baratas de monitorar sua máquina. Derrel sugere que usem medidores de vazão e selecionem os aspersores certos para que alcancem eficiência.
Outra dica é escolher tamanho de gotas não muito pequenos para que não sejam perdidas por evatotranspiração.
Dentre tantos cuidados que o produtor está atendo em seu negócio, Derrel concorda que a maioria não tem tempo de ficar visitando o campo diariamente para monitoramento. Por essa razão, criaram um sistema em que os sistemas de monitoramento são colocados na periferia do campo, possibilitando que controlem todo sistema por controle remoto.
Manejo da água em Nebraska é complexo
O manejo de água no estdo ainda é muit complexo, visto que a oferta de água é restrita, além de não estar disponível nos pontos de utilização. Contudo, pesquisas e estudos vem sendo feitos para explorar possibilidades, probabilidade e limitações.
A maior parte da água usada sai da bacia e é perdida via transpiração, evaporação de gotas da irrigaão, deriva, evaporação da folhagem, evaporação do solo, escoamento, percolação. Uma parte disso pode ser reaproveitada.
A água percolada volta para o rio e para bacia e não para o produtor.
Perspectivas da conservação da água
"Temos que pensar em manejo adaptado", afirma Derrel.
E o que é isso?
Derrel afirma que sabem que erraram, porém tiveram seca e precisaram usar a água. "Depois de uma situação que diziam que era irreversível, conseguimos recuperar parte do prejuízo", diz ele.
Isso mostra a necessidade de se fazer uma reavaliação das situação para então fazer o manejo adaptado. As situações mudam conforme passam os anos e os sistemas devem acompanhar.
"Não podemos fazer a mesma coisa sempre e esperar resultados diferentes", comenta ele.
Para isso, atualmente o Estado possui vários distritos de gestão de recursos hídricos, que são responsáveis por criar regras e tributos. Enquando as GRNs reduzem a retirada de água, com essa limitação o produtor passa a valorizar mais a água disponível e acaba se tornado mais eficiente. Por consequência, o uso de água se torna eficiente.
Derrel acredita que mesmo com toda ciência e tecnologia não estão usando todo o potencial. A busca é contínua para adoção das melhores práticas de manejo de forma com que alcancem eficiência potencial de irrigação e dos sistemas de manejo de água.
Brasil
Essa é uma da visão do sistema passada por Derrel, porém sabe-se que no Brasil a situação ainda é muito distinta e as perspectivas são muitas. O Brasil ainda está evoluindo em sistemas de irrigação.
Além disso, o clima no Brasil é muito diferente dos EUA. A precipitação média anual varia de 1.000 mm a 1.500 mm, sendo que nas regiões mais ao Sul do país esse índice pode chegar até 2.000 mm.
Mas, os fatores apontados são sufientes para se tomar como base para formação de uma boa estrutura de gerenciamento e de alocação das águas, visto que a tendência é que as áreas de irrigação se expandam muito pelos próximos anos, e que o crescimento populacional aumente também, ou seja, a demanda por água vai aumentar.
Outro ponto importante notado na comparação entre os países é em relação as leis florestais. Nota-se na imagem 2 que as lavouras estão a beira dos canais de escoamento de água, fato que não ocorre no Brsil devido às leis ambientais.
Já contando com as alterações previstas para o Código Florestal, que ainda estão sendo debatidas para em breve serem aceitas, às margens já degradadas de rios devem ter APPS - Área de Preservação Permanente- de até 10 metros, sendo que nas margens preservadas esse valor fica em 30 metros.
Essa e algumas outras normas e leis já existentes no Brasil previnem o país de parte dos prejuízos ocorridos em Nebraska, porém, como Derrel mesmo disse, as reavaliações das situações devem ser feitas periodicamente pois o cenário muda.