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Irrigação do cafeeiro sob pivô central com LEPA, em plantio circular

POR ANDRÉ LUÍS T. FERNANDES

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 01/11/2006

9 MIN DE LEITURA

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A maior concentração de áreas de café irrigado acha-se no cerrado mineiro, com predominância dos sistemas de irrigação por tubos perfurados a laser (tripa) e canhão (ou autopropelidos/carretéis enroladores), procedendo a denominada "irrigação de socorro ou salvação". Nas consideradas "novas fronteiras cafeeiras", como o oeste e sul da Bahia, nordeste de Minas Gerais e leste de Goiás, o predomínio é da irrigação tecnificada, com a utilização dos sistemas pivô central e gotejamento.

Em especial na região oeste da Bahia, a cafeicultura irrigada empresarial tem possibilitado a obtenção de excelentes produtividades, na medida em que alia as vantagens climáticas (temperatura, altitude e luminosidade), com a oferta abundante de água. Outro fator que merece destaque é a ausência total da geada, que aflige cafeicultores das regiões consideradas tradicionais, como do sul de Minas Gerais e do Paraná.

A exploração do café arábica irrigado através de pivô central é a oportunidade de investimento que mais tem conquistado novos investidores para a região oeste. Todas as estimativas otimistas de produtividade estão embasadas nas características do clima da região. As terras são de topografia totalmente plana, favorável à agricultura mecanizada, com a oferta de água em abundância para a irrigação.

O sistema de pivô central é utilizado por cafeicultores empresariais, com predomínio de plantios superiores a 100 ha, e o sistema de gotejamento, utilizado em propriedades pequenas e médias, complementando áreas de pivô central e em áreas de topografia imprópria para um sistema de aspersão mecanizado. Os primeiros pivôs centrais utilizados para café foram adaptados de outras lavouras, com irrigação em área total (Figura 1), ou seja, tanto nas linhas de café quanto nas entrelinhas.


Figura 1 - Plantio de café com pivô convencional (irrigação em área total), em Araguari, MG.

Apesar de viabilizar a cafeicultura empresarial nas regiões de cerrado, o sistema pivô central "convencional" ainda apresentava o inconveniente da aplicação de grandes volumes de água e com irrigação das entrelinhas do café. A partir destas dificuldades, surgiu uma inovação, adaptada da irrigação de pomares de citros nos Estados Unidos, com emissores localizados, irrigando somente na faixa de absorção radicular das plantas de citros (Figura 2).


Figura 2: Esquema do sistema de emissores sub-copa, para irrigação de laranja nos EUA

Adaptando esta tecnologia, os pesquisadores e consultores brasileiros desenvolveram uma técnica extremamente interessante para a irrigação do cafeeiro com o pivô central, com plantio realizado em círculo, com emissores localizados sobre as linhas de café, os denominados LEPA. Com a criatividade do cafeicultor, ocorreram também adaptações caseiras nos aspersores convencionais, imitando os emissores LEPA, porém com performances hidráulicas bem inferiores às dos emissores que foram fabricados especificamente para este fim.

Na figuras de 3 a 5 são demonstrados exemplos de áreas de sucesso empresarial com a utilização do sistema de cultivo do cafeeiro em plantio circular sob pivô central.


Figuras 3 e 4 - Detalhes de pivôs centrais


Figuras 4 e 5 - Demarcação dos sulcos com os emissores e plantio em círculo

O Sistema LEPA

LEPA é um método altamente eficiente de aplicação de água às culturas em sistemas de pivô central e lateral móvel. Significa "Low Energy Precision Application", ou aplicação precisa de água com baixo consumo de energia. Em linhas gerais, a sua utilização promove uma redução nas perdas de água por deriva - vento e evaporação, aumenta a produtividade das culturas e diminui custos de energia de bombeamento. Exemplos de emissores LEPA são mostrados nas figuras 6 e 7.


Figuras 6 e 7 - LEPA com 2 e 3 emissores

No Quadro 3 podem ser visualizadas algumas diferenças existentes entre os emissores LEPA e os emissores convencionais, no que diz respeito a perdas de água. Em muitas situações, esses benefícios justificam a transformação do kit de "sprays" existentes no pivô por um sistema LEPA. As perdas de água com a utilização deste sistema dificilmente ultrapassam 2 a 3%, contra os 25 a 30% dos "sprays" convencionais.


Quadro 3 - Perdas de água em sistemas convencionais e com a utilização dos emissores LEPA.

O sistema LEPA permite quatro opções de molhamento, porém, na irrigação do cafeeiro, são mais utilizadas 2 delas, o borbulhador e o "spray". Torna-se necessário, portanto, que os fabricantes de equipamentos estudem a fabricação de um emissor mais barato, com apenas duas opções de molhamento, que são as mais utilizadas para o café. O LEPA hoje disponível no mercado, fabricado por uma empresa norte-americana, apresenta as seguintes opções:

a)Borbulhador: caracteriza-se por aplicar água a uma baixa velocidade, dirigida à base da linha de café;

b)Borbulhador aerador: caracteriza-se por aplicar água diretamente na base das linhas de café;

c)Quimigação: caracteriza-se por apresentar o spray invertido, que amplia a área de aplicação de água, sendo ideal para ser instalado entre duas linhas de plantas. Para café, não apresenta grandes vantagens, na medida em que os emissores são instalados sobre as linhas de café;

d)Spray: caracteriza-se por irrigar toda a área de lavoura, ideal para a situação onde são plantadas culturas intercalares ou quebra-ventos temporários nas entrelinhas, ou quando se deseja reduzir o problema de escoamento superficial, no início do desenvolvimento do cafeeiro.

Vantagens do LEPA:

- Alta eficiência de aplicação de água - 95 a 98%, devido às menores perdas de água pelo vento e também pelo fato de pelo menos 20% mais de água atingir a cultura, comparado ao sistema convencional.

- Alta uniformidade, pela eliminação potencial de áreas muito secas ou muito úmidas; sistema ideal para quimigação.

- Redução de molhamento das folhas, proporcionando menores perdas evaporativas e reduzindo incidência de certas doenças fúngicas.

- Redução potencial de custos de energia, pela alta eficiência de aplicação de água e operação em baixas pressões.

- Quatro opções de funcionamento permitem extrema versatilidade na irrigação e quimigação.

- Torre do pivô permanece seca quando se processa o plantio circular com utilização do kit LEPA.

- A evaporação do solo é minimizada quando o sistema é operado com o LEPA nas posições 1 ou 2.

- Para efetuar o plantio da lavoura (em círculo), pode-se utilizar o próprio emissor LEPA, retirando-se o bocal e marcando-se os sulcos de plantio.

Desvantagens do LEPA

- Alto custo de material e instalação;

- Condições de solo encharcado e escoamento superficial podem ocorrer devido à alta taxa de precipitação do emissor, em especial no final de grandes pivôs (maiores que 80 ha), onde são necessárias montagens triplas de LEPA nas extremidades das linhas laterais dos pivôs;

- Para funcionamento correto, são requeridos reguladores de pressão;

- Para minimizar o runoff, a redução na capacidade de irrigação pode ser requerida.

Vantagens do plantio circular:

De cultivo:

- No preparo do terreno ao plantio, pois o pivô marca os sulcos com perfeição, facilitando o sulcamento e garantindo a distribuição dos insumos de forma correta. Com isso, é dispensada mão-de-obra para marcação ou alinhamento, e a operação mecânica de riscagem para a abertura dos sulcos.

- No plantio dos cafeeiros, o pivô marca a linha de plantio sobre o sulco pronto com perfeição, evitando variação no espaçamento de rua (entre linhas) e o desalinhamento entre plantas que causa inconvenientes na colheita, notadamente na mecanizada. É dispensada a mão-de-obra para o alinhamento no plantio.

- Na condução inicial da formação da lavoura (pós-plantio - 0 a 6 meses), permite a fertirrigação e a aplicação de fungicidas e inseticidas sistêmicos ou não sistêmicos a partir de 40 a 60 dias após o plantio, quando já ocorreu o enraizamento inicial dos cafeeiros.

- Dispensa mecanização para distribuição dos insumos, concentrando-os em um só ponto (no pé do pivô), além de reduzir, em média de 20 a 25% as horas de máquinas nos tratos culturais, fitossanitários, etc. Os custos de aplicação de defensivos em área total em plantios sob pivô central não circular, são em torno de 70% maiores que no plantio circular.

- Na mecanização, por permitir a mecanização em círculo (caracol), evitando manobras e redução da marcha de trabalho reduz-se em média de 20 a 25% as horas de máquina nos tratos culturais, nutricionais e fitossanitários.

- Da mesma forma, a adoção do plantio circular chega a reduzir entre 25 a 30% as horas máquina para colheita mecânica, trabalhando em círculo com retorno no carreador central.

- Economia de 20 a 30% dos nutrientes aplicados por fertirrigação localizada sobre a copa dos cafeeiros, para N, P, K, S, Zn, B, Cu, Mn e também para Ca e Mg de manutenção.

- Redução em 50% do uso de herbicidas pós-emergentes no controle das ervas daninhas no período da seca, pois as ruas não são irrigadas;

- Redução de 30 a 40% no uso de inseticidas e fungicidas, que são aplicados dirigidos na faixa de plantio;

Salientam-se também as vantagens, quando na instalação do equipamento, são colocados registros individualizados por emissor LEPA (para cada linha de café):
- Permite a fertirrigação de reforço localizada com o fechamento e abertura dos emissores, linha a linha.

Permite a colheita setorizada, linha a linha, com interrupção da irrigação, o que evita o molhamento do café caído no chão, ou as sobras da colhedora.

Técnicas:

Tecnicamente, podem ser salientadas as seguintes vantagens do pivô com LEPA, comparando-se o plantio não circular de pivô central:

1a) Alta eficiência na aplicação da água, entre 95 a 98%, comparado com 80 a 90% do sistema convencional;

2a) Menores perdas por vento e evaporação;

3a) Alta uniformidade pela eliminação de áreas muito úmidas ou muito secas, que normalmente ocorrem com irrigação em área total;

4a) Redução de molhamento das folhas do cafeeiro, que beneficia na redução da incidência de doenças fúngicas;

5a) Ideal para quimigação, com a aplicação localizada de fungicidas, inseticidas e fertilizantes, semelhante ao sistema de gotejamento, com as vantagens de abranger área maior de absorção radicular (faixa é mais larga) e controle visual da aplicação além da não necessária seletividade das fontes de nutrientes;

6a) Redução de custos de energia pela alta eficiência de aplicação e operações a baixas pressões;

7a) Menor desgaste (corrosão) das torres, que permanecem secas na irrigação normal e na quimigação;

Além dessas vantagens técnicas e de cultivos, outras em estudos já definidos demonstram ser possíveis as reduções de nitrogênio (N) e potássio (K2O) entre 15 e 20% no programa nutricional, e também possíveis reduções das doses de triazóis no controle da ferrugem, bem como dos inseticidas sistêmicos no controle específico do bicho mineiro.

Desvantagens:

Como desvantagens, amplamente compensadas pelas vantagens já descritas, pode-se citar:

1a) Custo mais elevado, entre 2 a 3%, de material específico para esse sistema de cultivo, ou seja, os kits LEPA;

2a) Exige maiores cuidados com a erosão, nas linhas de declive, principalmente nos primeiros meses após o plantio, quando o solo está descoberto. Alternativas têm sido utilizadas para minimizar este problema, como o plantio de milheto intercalar e a construção de canais de drenagem tipo "espinha de peixe" invertidas, ou seja, da linha para o centro das ruas;

3a) Necessidade do controle regulador dos terraços, a fim de se evitar encharcamento em sua parte anterior; para isso, deve-se construí-los com ligeiro desnível para fora do perímetro do pivô (do meio para as extremidades), desembocando em caixas de retenção.

Bibliografia:

SANTINATO, R.; FERNANDES, A. L. T. Cultivo do Cafeeiro Irrigado em Plantio Circular sob Pivô Central, Ed. O Lutador, Belo Horizonte, 250p., il, 2002.

ANDRÉ LUÍS T. FERNANDES

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FERNANDO JANINI

UBERABA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/05/2008

Excelente a matéria do Prof André , trabalhamos em conjunto.
ANDRÉ LUÍS TEIXEIRA FERNANDES

UBERABA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 19/01/2008

<b>Resposta ao Sr. Eber Palmeira</b>

Caro Sr. Eber,

A empresa Netafim trabalha com estrutura de atendimento regionalizada e, na região de Bauru, o engo. Agrônomo responsável é o Sr. Luiz Paulo Hamptel - F: 16 81367547.
Abs,
Prof. André Fernandes

ANDRÉ LUÍS TEIXEIRA FERNANDES

UBERABA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 19/01/2008

<b>Resposta ao cafeicultor Maciel dos Santos</b>

Caro Maciel, nos últimos 5 anos a região Sul de MG teve um período de déficit hídrico pronunciado, atípico, o que comprometeu muito a produção de café. Vários produtores têm procurado investir em irrigação, não só para o aumento de produtividade, mas especialmente para garantir a safra anual das suas lavouras. Penso que a irrigação no Sul de MG é alternativa extremamente viável para minimizar os riscos com a atividade. Café é um cultivo muito caro, e depender de São Pedro para garantir a safra penso que não é alternativa muito viável. Quanto aos sistemas, deve ser feita análise rigorosa das suas condições para a decisão: qualidade da água, quantidade disponível, mão-de-obra disponível na fazenda e região, capital para investimento, etc. Cada sistema tem suas limitações e vantagens. Com relação a preços, o gotejamento (para plantio em renque) tem ficado de R$ 4.500 a 5.500,00/ha; pivô convencional em torno de R$ 4.000,00/ha (pivô novo), 2.500,00 (pivô usado); e pivô com LEPA em torno de R$ 5.000,00/ha. Quanto ao retorno do investimento, acompanhei vários casos no Sul de MG que, na primeira safra, comparando-se com a lavoura de sequeiro (neste último ano agrícola), foi possível pagar o investimento. Mas devemos considerar que foi um ano atípico, com período seco muito prolongado.
Abs,
Prof. André Fernandes
MARCOS HUMBERTO MENDES CARDOSO

MONTE CARMELO - MINAS GERAIS

EM 18/01/2008

Gostaria de receber fotos de emissores LEPA laterais em ação promovendo a irrigação próximo ao solo com o fito de redução de incidência de doenças na parte aérea do cafeeiro.
EBER PALMEIRA

GALIA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 14/10/2007

gostaria de receber alguns telefones de empresas que sao especialisado em irrigacao em gotejamento na regiao de marilia bauru ou garca gratoooo
MACIEL ANTONIO DOS SANTOS

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 02/07/2007

Ao CaféPoint,

Sou cafeicultor ha 35 anos, estou pretendo implantar uma lavoura de 80 a 100 ha, às margens da represa de Furnas, Carmo do Rio Claro. Gostaria de saber qual seria o processo a escolher.

Plantio convencional sem irrigação; plantio circular com pivot central c/ lepa ou sem lepa, gotejamento? Qual o custo de implantaçao de cada sistema. O terreno tem um declive de 9%. Quais as empresas que vocês indicam para elaborar projejo de irrrigação?

Considerando que o custo da terra é de R$ 12.000,00 p/ha e que a saca de café vai estabilizar em UU$ 120,00, em quanto tempo terei o retorno?

Maciel
RICARDO APARECIDO LOURENÇO BENEDETTI

ITATINGA - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 03/02/2007

Irrigar a parte aérea das plantas de café não seria um fator positivo para que doenças, como cercospora e ferrugem, tenham um ambiente mais favorável para sua disseminação na lavoura, já que ambas precisam de ambientes com alta umidade?


<i>Caro Ricardo,</i>

Este é realmente um problema, mas que pode ser resolvido facilmente (como já está sendo feito no Oeste da Bahia) com a mudança dos emissores LEPA, lateralmente, promovendo a irrigação próximo ao solo, sem molhar o dossel do café.

Somente esta adaptação tem reduzido a incidência de doenças e melhorado a qualidade do café.

Abraço,

Prof. André Fernandes - Universidade de Uberaba

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