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Irrigação de café no Cerrado com estresse hídrico controlado

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 05/09/2006

8 MIN DE LEITURA

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Pense numa tecnologia que ofereça ao mesmo tempo, mais produtividade, mais qualidade e menor custo. Pois uma pesquisa realizada na Embrapa Cerrados, com apoio do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), administrado pela Embrapa Café, vem sendo aclamada como revolucionária e apresenta-se como alternativa para a sustentabilidade da cafeicultura em condições de Cerrado.

Os resultados chegam com força para quebrar o paradigma, adotado na maioria das lavouras irrigadas, de que a irrigação nas condições de cerrado tem que ser freqüente e não pode ser interrompida.

Ao contrário, dados de pesquisa demonstram ser possível a aplicação de estresse hídrico controlado, na estação seca do ano, na época certa e com magnitude adequada, para sincronizar o desenvolvimento dos botões florais. Em campos experimentais, a tecnologia garantiu o aumento na produtividade na ordem de 13 sacas/ha, quando comparado ao sistema de cultivo com irrigação durante todo o ano.

O café também apresenta mais qualidade, uma vez que se consegue uma maturação mais uniforme. E o melhor que tudo isso não custa nada mais ao produtor e ainda traz redução dos custos de água e energia, em média de 33%, economia no processo de colheita e uma visão sustentável do agronegócio.


Arquivo Embrapa Café

Foto 1 - Antônio Fernando Guerra e Omar Cruz Rocha.

Quem apresenta a nova tecnologia são os pesquisadores da Embrapa Cerrados (Planaltina/DF), Antônio Fernando Guerra, Omar Cruz Rocha e Gustavo Costa Rodrigues, que concordam ser o início de uma nova forma de condução das lavouras e certamente trará novas demandas para a pesquisa. Apesar da prudência científica, o manejo da irrigação do cafeeiro, com o uso de estresse hídrico controlado, tem despertado a atenção de grandes produtores, que testam e adotam a tecnologia com grande expectativa em seus resultados.

Desenvolvimento equilibrado

Irrigações durante o ano todo fazem parte do manejo tradicional de cafeeiros em condições de Cerrado, porém, hoje está sendo avaliada a teoria de que as necessidades fisiológicas das plantas devem ser respeitadas, caso contrário, tem-se grande variação anual da produtividade (bienualidade acentuada) e desuniformidade na maturação dos grãos, devido à ocorrência de múltiplas floradas.


Arquivo Embrapa Café

Foto 2 - Floração desuniforme.

De acordo com Guerra, o estresse hídrico controlado acaba por educar o cafeeiro para um desenvolvimento equilibrado, com produções médias anuais de 60 a 70 sacas/ha, em condições adequadas de cultivo. Depois de cinco anos de avaliações, a proposta é a suspensão das irrigações por um período aproximado de 70 dias sem irrigar. Nas condições analisadas, com período de seca bem definido, o tempo ideal foi estipulado entre 24 de junho e 4 de setembro.


Autor: Guy Carvalho

Foto 3 - Cafeeiros ao final do período de estresse.

A magnitude do estresse hídrico pode ser monitorada com o uso de uma bomba de pressão (Scholander) para avaliar o potencial de água nas folhas, que deve se situar entre -2,0 a -2,5 MPa. No final desse período, que deve coincidir com o aumento das temperaturas mínimas, ocorre a sincronização do desenvolvimento das gemas reprodutivas e abertura das flores em torno de 10 a 12 dias após o retorno das aplicações de água.

Vale ressaltar que a tecnologia do estresse controlado é plenamente viável em regiões onde ocorre um período de seca bem definido antes do período normal de floração dos cafeeiros. Em regiões onde ocorrem chuvas ocasionais no período de aplicação do estresse hídrico as vantagens da tecnologia são menos evidentes, mas também ajudam a reduzir o número de floradas. Neste caso, o produtor deve estar atento para avaliar se a precipitação foi suficiente para garantir o pegamento dos chumbinhos, caso contrário, deve complementar a lâmina de água até atingir 40 milímetros.

Mais qualidade aos grãos

Em avaliação na área experimental da Embrapa Cerrados, o tratamento com estresse hídrico adequado apresentou um aumento na produtividade de 13 sacas/ha de café beneficiado, quando comparado ao tratamento irrigado durante todo o ano.

De acordo com os pesquisadores, esse aumento está relacionado a fatores como melhor enchimento dos grãos, maior uniformidade de floração e redução de perdas de cafés secos provenientes da primeira florada, que normalmente caem e são descartados por ficarem encharcados.

O estresse controlado também resulta em aumento expressivo na colheita de grãos cerejas, próprios para produção de cafés especiais, que atingem melhores preços de mercado. Enquanto no tratamento com irrigação o ano todo a produção de frutos cereja gira em torno de 32%, com a utilização da tecnologia de estresse controlado a produção de frutos cereja, no momento da colheita, atinge valores superiores a 80%.


Arquivo Embrapa Café

Foto 4 - Maturação uniforme.

Crescimento compensatório

Como toda nova tecnologia, o estresse controlado em condições de cerrado despertou a desconfiança por parte dos produtores de que os cafeeiros não cresceriam e as lavouras ficariam depauperadas. Mas a tecnologia vem superando mais esse desafio.

Os cafeeiros submetidos ao estresse controlado não só cresceram mais, como se apresentaram em melhores condições para a safra seguinte. É o que os pesquisadores chamam de crescimento compensatório, um estímulo ao crescimento após o reinício das irrigações.

Em área experimental, após cinco ciclos anuais de suspensão das irrigações, as plantas sujeitas a estresse controlado apresentaram maior altura, número de ramos plagiotrópicos e número de nós nos ramos, quando comparado às plantas do tratamento que recebeu irrigação o ano todo.

Opinião de quem adotou a tecnologia

De nada valeria falar de uma nova tecnologia que propicia aumento do potencial de produção de cafés diferenciados, traz estabilidade na produção e maior rentabilidade, redução do uso de água e de energia e redução do custo de colheita, se tudo isso não fosse verificado no campo e aos olhos do produtor. Adiciona-se à estas vantagens um período para manutenção dos equipamentos de irrigação, menor risco de compactação do solo e mais facilidade em conseguir a outorga de irrigação.

Por acreditar previamente na viabilidade da tecnologia, cerca de 15% da área cultivada com café no Oeste da Bahia já aderiu ao novo manejo da irrigação. O diretor da Fundação Bahia e do Departamento de Café da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), Mário Josino Meirelles, afirma que em 270 hectares de sua propriedade, submetidas ao estresse, os cafeeiros estão em melhores condições para a próxima safra.

Nas fazendas Agronol, Mimoso e Lagoa do Oeste (Agribahia) o estresse controlado foi primeiramente testado em 200 hectares de lavouras. Nelas foi possível avaliar o sistema em áreas distintas quanto à classificação dos solos, arquitetura e espaçamento da lavoura, sistema de pivô central e gotejamento e adaptação à tecnologia de 21 cultivares diferentes.

Em todas as situações o estresse hídrico assistido resultou em expressiva uniformização da florada. De acordo com o consultor técnico das fazendas Mimoso e Lagoa do Oeste, o engenheiro agrônomo Guy Carvalho, para a atual safra a decisão foi ampliar a aplicação da tecnologia para toda a área de cultivo.

Com larga experiência em cafeicultura, Guy Carvalho adiantou-se à adoção da tecnologia, oferecendo lavouras para sua validação, por acreditar na seriedade dos pesquisadores, nos fundamentos dos dados apresentados e na releitura de trabalhos de pesquisadores destacados como Ângelo Paes de Camargo, do IAC.

Depois de amargar prejuízos e perdas na produção que chegaram a 40% na safra 2004/05, o manejo foi testado e aprovado, com redução do repasse na colheita e economia de até 20 homens/dia/hectare despendidos nesta tarefa. Para a próxima safra a expectativa é uma redução entre 40 e 50% dos custos totais da colheita, que poderá ser 100% mecanizada. Além da economia de 30% em média nos custos de água e energia, principalmente no inverno, época em que o recurso hídrico é mais escasso.

Outro fator de incentivo está no aumento dos índices de frutos cereja, já que essas fazendas se destacam no segmento de cafés especiais e apostam na cafeicultura sustentável. O desafio de produzir café nas condições de Cerrado inclui a redução do uso de insumos e na aplicação racional da água, fatores favorecidos pela adoção da tecnologia de estresse controlado.

"Estamos vivendo a quebra de um paradigma. As vantagens serão ainda mais evidentes quando os custos pesarem no bolso do produtor que não adotá-la e as lavouras vizinhas mostrarem-se mais competitivas e sustentáveis", destaca Guy Carvalho.

Efeito colateral

Porém, quem adere à nova tecnologia tem um novo problema. Como a porcentagem de grãos cereja chega a dobrar, ultrapassando a casa dos 70%, existe a necessidade de aumentar a capacidade de processamento pós-colheita instalada, para aproveitar todo o potencial para produção de cafés de qualidade superior.

Uma saída para o produtor e um desafio para a pesquisa está em aumentar a disponibilidade de cultivares de ciclo diferente, adaptadas à região, para aumentar o período de colheita. Hoje predomina nessa região o plantio da cultivar Catuaí 144 de ciclo médio.

Produtores cautelosos aguardam mais pesquisas

Entretanto, há quem prefira aguardar a ampliação e continuidade da pesquisa e a certeza de que a tecnologia pode ser extrapolada para outras regiões onde ainda não foi avaliada. De acordo com o coordenador do núcleo "Cafeicultura Irrigada", do CBP&D/Café, André Luís Teixeira Fernandes, muitos produtores aguardam o desenvolvimento de novas pesquisas para o aprimoramento da tecnologia. Ele argumenta que a cafeicultura em regiões do Cerrado não admite erros e, portanto, toda mudança de manejo deve estar amplamente fundamentada.

Neste ano agrícola 2005/06, ocorreram condições propícias para a uniformização da florada não somente em áreas adeptas à tecnologia, mas também em manejos de irrigação ininterruptos. O fato de muitos consultores aguardarem mais resultados de pesquisas sobre o tema incentiva ainda mais os estudos para a ratificação de suas vantagens. Em cafeicultura, argumentam, os resultados se confirmam em longo prazo.

Irrigação racional fora do estresse controlado

O pesquisador Omar Rocha destaca que fora do período de estresse hídrico controlado o manejo da irrigação deve ser adequado para que as plantas possam expressar todo o potencial de crescimento e produção. Para se valer das vantagens do sistema, não basta apenas deixar de irrigar ou controlar a umidade do solo "chutando-o com a ponta da botina". É preciso a orientação de profissional experiente e uso de ferramentas adequadas para avaliar a capacidade de água no solo.

Porém, para facilitar o manejo das irrigações e ciente de suas dificuldades, a Embrapa Cerrados desenvolveu um programa de monitoramento baseado nos coeficientes de cultura para a região, com dados climáticos de estações meteorológicas regionais monitoradas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e no histórico do laboratório de física do solo da Embrapa Cerrados. O programa é disponibilizado, gratuitamente, no site www.cpac.embrapa.br, onde o produtor poderá obter informações sobre quando e quanto irrigar.

Artigo enviado pela Assessoria de Imprensa da Embrapa Café.

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ANDERSON COELHO

SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 03/02/2015

Boa tarde, gostaria de saber se o estresse hídrico no cafeeiro é realizado antes ou após a colheita dos grãos que se desenvolveram no ano agrícola anterior?
ADRIANO XIMENES

RIO BANANAL - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/07/2009

Como aplicar estresse hidrico no café conilon?

<b>Resposta da Embrapa</b>

Prezado Adriano Ximenes,

Esta matéria foi elaborada com base nas pesquisas desenvolvidas na Embrapa Cerrados, lideradas pelo pesquisador Antônio Fernando Guerra. Sugiro que entre em contato com ele para sanar suas dúvidas sobre a tecnologia de estresse hídrico para o conilon. Sobre este tema, só acompanhei os resultados para o Arábica, mas o pesquisador poderá lhe dar outras informações.

Att,

Cibele Aguiar
Embrapa Café
ANDRÉ COLUSSI

LONDRINA - PARANÁ

EM 21/11/2006

Antônio Fernando Guerra,

Irrigação de café Cerrado (Bahia) por pivô central ou gotejamento, qual é o melhor sistema?

Abraço,

André Colussi

<i>Caro André Colussi,</i>

Tanto o sistema de irrigação por aspersão por pivô central quanto o sistema de irrigação por gotejamento são adequados à irrigação do cafeeiro no Cerrado. A escolha do sistema mais adequado para o local do projeto depende de vários fatores, como quantidade e qualidade da água de irrigação, investimento disponível, etc...

Ressalta-se que alguns problemas estão presentes em áreas irrigadas por gotejamento, pois, devido aos altos preços dos fertilizantes líquidos disponíveis para o sistema de gotejamento, os produtores têm usado fontes de adubos inadequados para a fertirrigação dos cafeeiros ,o que têm causado entupimentos dos gotejadores, já no quarto ano após a instalação do sistema. Desse modo, como a margem de lucro da cafeicultura é estreita, parece que a irrigação por aspersão é a mais indicada.

No entanto, é importante frisar que, se usada adequadamente, a irrigação por gotejamento também é adequada.

Saudações,

Guerra.
MARCOS DE OLIVEIRA BETTINI

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 06/09/2006

Caros Senhores,

A técnica do stress não tem nada de revolucionária!!!

Vem sendo recomendada, há pelo menos 10 anos, no café do cerrado por diversos pesquisadores de UFV, Uniube, IAC, Epamig, Embrapa e outros. Os problemas, o debate e as dúvidas se relacionam com a forma de monitorar, a intensidade e a época do stress hídrico.

Apesar do texto, da pesquisa acima e de muitos adeptos, o stress hídrico também é muito questionado. Produtores de ótimo nível técnico e produtivo, têm preferido não adotá-lo. E sim preferido outro paradigma, que consiste no oposto da proposta acima.

Os produtores têm irrigado continuadamente e racionalmente as lavouras de café adulto. Com ótima uniformidade de florada e maturação e com melhor desenvolvimento vegetativo que se fizessem stress. Objetivando uma safra excelente e uma segunda safra zero (através de esqueletamento e outras práticas).

Ou seja, maximizando a bianualidade através da poda. Assim, conseguem altas produtividades médias, melhor escalonamento de colheita e infra-estrutura e custos bem reduzidos. Vale a pena visitar produtores em Monte Carmelo, Araguari, Patrocínio, Indianópolis e região que vem adotando tal prática.

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