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Importância das dimensões da sustentabilidade para o desenvolvimento de sistemas de avaliação dos impactos dos diferentes sistemas de produção sustentável sobre a cadeia produtiva do café

VÁRIOS AUTORES

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 17/01/2008

5 MIN DE LEITURA

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Após sucessivas crises no setor produtivo do café, o desenvolvimento sustentável passa a nortear a cafeicultura mundial visando suprir a demanda por cafés que além de apresentarem qualidade superior, apresentem rastreabilidade e preocupação sócio-ambiental.

A certificação dos cafés sustentáveis, cuja produção e consumo são crescentes, respectivamente nos países em desenvolvimento e nos desenvolvidos, é apontada como uma alternativa para reduzir a instabilidade do mercado de café e aumentar o valor econômico, social e ambiental de sua produção, que envolve grande número de produtores, em diversos países das Américas, África e Ásia.

Atualmente é marcante a preocupação quanto à dimensão dos impactos da adoção dos diferentes modelos de produção sustentável sobre os trabalhadores rurais, pequenos produtores e outros pequenos agentes da cadeia produtiva, que, embora em grande número, aparentemente têm menor representatividade em alguns programas de certificação.

Têm sido discutidas algumas propostas de desenvolvimento e implementação de sistemas para avaliar e monitorar os impactos da adoção de diferentes tipos de certificação, especialmente, porém não exclusivamente, sobre os trabalhadores rurais e pequenos agentes da cadeia produtiva, quanto às três dimensões da sustentabilidade: ambiental, social e econômica.

Uma proposta interessante, para a avaliação de impactos da certificação, é o projeto COSA (Committee on Sustainability Assessment). Esse projeto é direcionado a formar um programa de levantamento de informações e gerenciamento da capacidade de adoção de práticas sustentáveis de produção de café em nível global e é constituído por uma parceria entre 20 instituições de pesquisa renomadas, que promovem a sustentabilidade da cafeicultura em países consumidores e produtores.

O objetivo principal do projeto COSA (IISD, 2007)1, em síntese, é desenvolver uma ferramenta para dimensionar e treinar produtores e outros agentes da cadeia produtiva a medir e compreender os custos e benefícios do comprometimento com práticas sustentáveis e adoção de diferentes iniciativas de produção sustentável (IISD, 2007). A metodologia utilizada no projeto COSA, baseada em análise multi-criterial, foi desenvolvida para analisar as seguintes iniciativas sustentáveis: Orgânico, Fairtrade, Rainforest Alliance, Utz Certified, Stabucks C.A.F.E. Practices e Código Comum para a Comunidade Cafeeira, além de poder ser aplicado a outras iniciativas sustentáveis, quando for apropriado.

A avaliação dos impactos da implementação desses programas poderá auxiliar no aprimoramento dos programas, contribuindo: (1) para a identificação de distorções durante sua operacionalização e (2) para a indicação de ações corretivas, com o objetivo de maximizar efeitos positivos e minimizar os negativos.

Importância relativa das dimensões da sustentabilidade

A base dos modelos de monitoramento de programas ou projetos é a identificação de indicadores que possam ser incorporados ao sistema proposto. Após a identificação e hierarquização dos indicadores, segue-se o desenvolvimento de um sistema para dimensioná-los.
Pode-se resumir o desenvolvimento de sistemas de avaliação de impactos nos seguintes pontos chave: (1) identificação e hierarquização dos indicadores de sustentabilidade, para cada uma de suas dimensões; (2) identificação e hierarquização de critérios para avaliar cada um dos indicadores identificados; (3) formulação e hierarquização de questões para mensurar cada um dos critérios identificados; (4) transformar as respostas a cada uma das questões, geralmente qualitativas, em um sistema quantitativo; e (5) classificar o programa de certificação em análise de acordo com o sistema quantitativo obtido.

Em geral, a identificação de indicadores baseia-se na convergência de opiniões de especialistas. Os sistemas ELISA2 e o NEPA3 descrevem com detalhes a técnica utilizada na identificação dos indicadores: a técnica Delphi (LUDWIG, 1997). Essa técnica permite uma abordagem qualitativa e é muito utilizada em diversas áreas da ciência, para identificar fatores que tenham probabilidade de influenciar o futuro. Permite previsões em situações em que não há dados históricos de parâmetros de desempenho ou onde se esperam mudanças estruturais no ambiente de negócios.

A metodologia consiste na aplicação de rodadas repetidas de questionários estruturados, a um conjunto de especialistas. Após a primeira rodada, os especialistas passam a receber uma síntese das respostas dos demais participantes, estabelecendo-se um sistema de troca de informações. Durante a aplicação do questionário é mantido o anonimato dos participantes, para garantir a consideração de idéias minoritárias e facilitar a liberdade de expressão e a formação de consenso. Em geral são necessárias duas a três rodadas de questionários até para obtenção de consenso entre os especialistas. O índice de retorno dos questionários é variável (10% a 40%).

No entanto, identificar e priorizar indicadores, critérios e questões, não é suficiente para desenvolver um sistema de avaliação e monitoramento. Uma etapa que exige muito cuidado é a análise da importância de cada uma das dimensões da sustentabilidade em relação às demais.

Se as três dimensões tiverem o mesmo grau de importância, conseqüentemente os conjuntos de indicadores, referentes a cada uma das dimensões, terão o mesmo peso. Do contrário, é preciso estimar o grau de importância de cada uma das dimensões. Uma metodologia que permite solucionar a questão de comparação de atributos é o Delphi Pareado (Pairwise comparison of attributes).

Essa técnica, um Delphi modificado, cuja aplicação também é realizada por meio de questionário, é apresentada por JAIN et al.(1993)4, como proposta para comparar a importância relativa de diferentes atributos (qualidade do ar, ecologia, qualidade da água, estética, sociologia, transporte, ciência da terra, sociologia, recursos naturais e energia, ciências da saúde, uso da terra e ruídos) na análise de impactos ambientais. Uma variação dessa técnica é o Delphi AHP (Analytic Hierarchy Process), estruturada de maneira muito similar ao Delphi Pareado.

A importância relativa de cada uma das dimensões da sustentabilidade poderá ser diferente entre os países produtores de café, em função dos diferentes modelos de relações sociais e trabalhistas predominantes em cada país, além da importância relativa do café para a geração de emprego e renda nos países produtores e de sua respectiva importância no mercado internacional do produto. Portanto, é recomendável a aplicação Delphi modificado para estimar a importância relativa de cada uma das dimensões da sustentabilidade, em cada país produtor.

A proposta de um dos estudos em andamento no Centro de Café "Alcides Carvalho" do Instituto Agronômico - IAC, é analisar a importância relativa de cada uma das dimensões da sustentabilidade, utilizando a técnica Delphi.

Independentemente da aplicação do questionário Delphi, as opiniões dos leitores do CaféPoint a respeito da importância relativa das dimensões da sustentabilidade são muito importantes para o IAC. Portanto, o IAC ficará muito honrado em receber opiniões e sugestões e, principalmente, em manter troca de informações com os leitores.

________________________________________________________________
1 IISD - International Institute for Sustainable Development. https://www.iisd.org/markets/. E https://www.iisd.org/markets/sci/ . https://www.iisd.org/markets/policy/scp.asp Acesso 07/2007.

2 WASCHER, D. M. Agri-environmental Indicators in Europe. Tilburg: European Centre for Nature Conservation, 2000 (ECNC Publication Technical report series), 242 p.

3 JAIN, K. R.; URBAN, L. V.; STACEY, G. S.; BALBACH, H. E. Environmental Assessment. United States of America: McGraw-Hill, Inc., 1993, 524 p.

4 JAIN, K. R.; URBAN, L. V.; STACEY, G. S.; BALBACH, H. E. Environmental Assessment. United States of America: McGraw-Hill, Inc., 1993, 524 p.

FLÁVIA MARIA DE MELLO BLISKA

LUIZ HENRIQUE RODRIGUES

SERGIO PARREIRAS PEREIRA

Agrônomo - Mestre em Fitotecnia - Pesquisador Cientifico do IAC - Centro de Café - Mediador da Comunidade Manejo da Lavoura Cafeeira no PEABIRUS - Doutorando da Universidade Federal de Lavras - UFLA - Coordenador do Núcleo de Manejo do CBP&D/Café

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DUILHO DALVI NERY

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - ESTUDANTE

EM 21/08/2009

Gostei muito do artigo, sou filho de produtor e trabalhei no café. Estou me formando na área e sei o que representa o café para mim e para milhões de Brasileiros como eu.

Parabenizo vcs por esse trabalho, é preciso mudança na cadeia produtiva do café - e sei que estamos no caminho certo.
ANTONIO LIMA BANDEIRA

VIÇOSA - MINAS GERAIS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 18/01/2008

Gostei muito do artigo nesta primeira leitura, dinâmica. Vou fazer uma re-leitura para melhor avaliar e se for o caso opinar. Antonio Bandeira/Produtor
ARNALDO REIS CALDEIRA JÚNIOR

CARMO DA CACHOEIRA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 18/01/2008

Senhores,

Participei de um destes questionários, enviados pelo mestre Sérgio Parreiras. Portanto, fico muito feliz que está sendo elaborado um trabalho por gente séria e comprometida com a cafeicultura brasileira.

Fiquei mais feliz ainda observando, no texto acima, um dos pontos que venho defendendo firmemente, e que está sendo analisado pelos pesquisadores: "Os cafeicultores do Brasil, não são iguais aos colombianos, guatemaltecas ,mexicanos ou vietnamitas, assim sendo, a sustentabilidade para cada um deles é diferente também".

Aproveitando o espaço, gostaria de salientar que entre os campos de análise: sustentabilidade econômica (renda para o produtor), meio ambiente e ambiente social; nesta micro cadeia citada, o cafeicultor é supra importante e seu peso deve ser maior dimensionado entre os outros 2 temas.

Parabéns e sucesso!!

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