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Gestão de Risco em Café - um caminho ainda longo a percorrer

POR ARNALDO LUIZ CORREA

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 14/09/2006

4 MIN DE LEITURA

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O mercado futuro de café na New York Board Of Trade tem vivido um espetacular crescimento nos últimos 5 anos. O número de contratos negociados nesse período dobrou e a tendência é que continue crescendo a razão de 20% ao ano. Diferentemente do que se pressupõe, que apenas os fundos de hedge são os alimentadores desse crescimento, na verdade, ele se dá em função do amadurecimento dos participantes do mercado como um todo, permitindo aos negociadores concluir cada vez maiores negócios.

A gestão de risco (leia-se: a atividade que visa a mitigação ou eliminação do risco de variação negativa de preço), que antes era acessória, agora é imprescindível no dia-a-dia do exportador de café, do produtor, da trading, da torrefação e demais empresas ligadas direta ou indiretamente ao negócio café. Por isso sobe o volume.

Cada vez mais as empresas travam suas margens, fixam seus preços de venda, corrigem suas estratégias, determinam preços de compra da matéria prima, entre outras operações, utilizando-se dos mercados futuros. Dizia-se há muitos anos, que uma saca "girava" 7 vezes, desde o momento da colheita até o consumo do café no destino final. Parecia conta de mentiroso, mas na verdade, de maneira simplista, mostrava que até chegar ao consumidor final, o café trocava várias vezes de mão, provocando a cada troca uma margenzinha aqui outra ali, mas não raramente, devido a grande exposição que se tomava à variação de preços, alguém podia se dar mal no meio do caminho.

O café saía das mãos do produtor para as mãos do maquinista, que depois o vendia para o comerciante, que o negociava com o exportador, que fechava contratos de venda com a trading, que vendia ao torrador, que vendia para o supermercado, que vendia para o consumidor final. Tomava-se muito risco de preços nessa época. E são bem conhecidas de todos as inúmeras empresas que quebraram por ou desconhecerem a gestão de risco (então embrionária, é verdade) ou por tentarem mastigar mais do que podiam engolir.

Hoje, esse quadro mudou. E para melhor. O café não "gira" 7 vezes, mas 15 vezes. Ou seja, para cada saca de café negociada no mercado internacional, existem 15 sacas negociadas na bolsa de Nova York. E isso nada tem nada a ver com especulação, como podem pensar alguns, é, sim, uma clara demonstração de que toda a cadeia da commodity café está se protegendo de oscilações negativas de preço, travando margens (cada vez mais exíguas), estabelecendo um preço máximo de compra da matéria prima, ou ainda, aplicando num título de renda fixa. Pode-se afirmar que se a maturidade alcançada pelo mercado ainda não nos livra de alguns solavancos e dissabores, demonstra que existe uma preocupação cada vez mais presente, por parte das empresas, da utilização dos instrumentos de proteção disponíveis no mercado.

Note que apenas foram mencionados os volumes negociados em contratos futuros. Se incluirmos o volume negociado em opções, a relação de 15 sobe espantosamente para mais de 20. Para ilustrar essa afirmação, o volume de opções negociado em Nova York bateu recorde de contratos e de posição em aberto no mês passado. Mas aqui vai minha observação um pouco mais crítica nas atividades com opções.

Esse ainda é um instrumento pouco utilizado de maneira correta por aqueles que procuram proteção (diferente de fixação) de preços. No Brasil, principalmente no período que antecede a temporada de frentes frias nas regiões cafeeiras, vêem-se muitos operadores cometerem os mesmos erros quase todos os anos: o de operar opções sem ter uma visão de volatilidade. Esse erro, o mais básico. E o de, sob a égide do conservadorismo, operar opções sem observar o conceito de delta hedging. Esse, mais crasso.

O conceito de delta hedging é o de que a soma dos deltas positivos e negativos de uma posição composta por opções de compra e de venda devam replicar o volume originalmente pretendido no mercado futuro. Assim, se o exportador quer hedgear vendendo 100 lotes no futuro, e pretende fazê-lo em opções, deve dividir 100 lotes pelo delta correspondente ao do preço de exercício escolhido. Se o delta for, digamos, 0,50 terá de vender 200 lotes.

Esses dois comuníssimos erros são ótimos ingredientes para se jogar dinheiro pela janela. No primeiro, se a volatilidade está subindo (e nós a vimos negociar acima de 50% este ano) tem-se que tomar cuidado redobrado com a compra de opções, na dúvida é preferível vendê-las. No segundo, se o objetivo da operação for replicar uma posição no mercado futuro, tem-se obrigatoriamente que usar o delta hedging.

Assim, de modo simples, ganha-se dinheiro quando vendemos opções de venda (que equivale a uma compra), porque embolsamos um premio caro que vai se deteriorar com o tempo e ainda mais rapidamente se a volatilidade cair. Ganha-se dinheiro porque ao replicarmos a operação usando o delta hedging, uma eventual queda do mercado potencializa o ganho. E aqueles que compram opções de compra com alta volatilidade, mesmo que o mercado lhes seja favorável na direção, se não o for na volatilidade, parte dos eventuais ganhos acabam mesmo indo para o ralo.

De qualquer modo, é interessante observar a crescente busca por esses instrumentos e a percepção que, apesar de um ou outro conceito que precisa ser melhor fixado, estamos no caminho certo, mas a estrada é longa.

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CARLOS URBANO

CARATINGA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 19/09/2006

Prezado Arnaldo,

No texto abaixo relacionado, gostaria que explicasse os termos:

* delta hedging
* deltas positivos e negativos
* mercado de opções

"O conceito de delta hedging é o de que a soma dos deltas positivos e negativos de uma posição composta por opções de compra e de venda devam replicar o volume originalmente pretendido no mercado futuro. Assim, se o exportador quer hedgear vendendo 100 lotes no futuro, e pretende fazê-lo em opções, deve dividir 100 lotes pelo delta correspondente ao do preço de exercício escolhido. Se o delta for, digamos, 0,50 terá de vender 200 lotes."


Desde já, agradeço,

Carlos Urbano.


<i>Prezado Carlos</i>


Primeiramente, delta é a probabildade de uma opção ser exercida. Delta, portanto,
varia de 0 a 1.

Uma opção de compra tem delta positivo.

Uma opção de venda tem delta negativo.

Assim, se tenho uma opção de compra cujo delta é 40%, ou seja, cuja probabilidade naquele momento é de 40% de a opção virar futuro no vencimento, para replicar uma operação em futuro hoje, eu teria que fazer com essa opção um volume 2,5 vezes o volume que faria no futuro.

Exemplo, se quero vender o equivalente a 10 contratos futuros em opções, num preço de exercício que mostra que a probabilidade de eu ser exercido no vencimento é 40%, tenho que vender 25 lotes dessa opção, pois 25 lotes vezes 40% de probabilidade é igual a 10 lotes.

Saudações,

Arnaldo Correa

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