Tem-se falado que a cafeicultura é hoje um dos setores mais lucrativos da agricultura brasileira. Certamente, se analisarmos o atual ano agrícola, não só comprovaremos tal afirmativa como também promoveremos uma nova corrida em busca de investimentos nesta atividade.
No entanto, em uma análise mais ampla o que se observa é a quase total descapitalização desse setor produtivo, caracterizado ultimamente pelo sucateamento das máquinas e das benfeitorias existentes nas propriedades, além do endividamento crescente de produtores de café.
A euforia em relação à atividade é justificada se considerarmos apenas a safra de alta produtividade que será colhida neste ano em conjunção com os valores pagos pelo produto, que chegaram a mais de R$ 300,00/ saca. Dessa forma, todos os cálculos mostrarão a boa e também ilusória lucratividade da cafeicultura.
Vale ressaltar que, hoje, o produtor quase não se beneficia do momento pelo qual passa a cafeicultura, pois grande parte de sua safra está comprometida com financiamentos e/ou pagamento de insumos adquiridos para condução da atividade, os quais deverão ser saldados após a colheita.
São vários os fatores que levaram os produtores a esta situação. Dentre esses, a crônica instabilidade dos preços da saca de café, que dificulta sua comercialização, e os problemas climáticos que recentemente afetaram negativamente as produtividades das lavouras. Associado a estes fatores, tem-se finalmente como maior agravante o baixo valor médio pago pelo produto ao longo dos últimos anos que, aliás, esteve em geral, abaixo do custo de produção.
As dificuldades encontradas pelos cafeicultores podem ser justificadas ao analisarmos os custos de produção das duas últimas safras. Para uma produtividade média1 de 26,52 sacos por ha o custo total da saca foi de R$ 258,67 e o custo operacional efetivo dessa mesma saca foi de R$ 197,29 (Quadro 1).
Quadro 1 - Indicadores médios nas safras 2003/2004 e 2004/2005
Nota: COE - Custo operacional efetivo (desembolso ex: mão de obra, insumos, manutenções,colheita e outros); COT - Custo Operacional Total (COE + depreciação das lavouras, máquinas e benfeitorias + Pró labore); CT - Custo Total (COT + remuneração do capital empatado).
Fonte: Projeto Educampo Café Capal/Sebrae - Valores corrigidos pelo IGP-DI, base dez. 2005.
Considerando-se o valor médio de venda para o período de R$ 219,89 por saca (Quadro 2), o saldo obtido em relação ao custo total foi negativo, R$1.028,44 por ha. As depreciações das máquinas, benfeitorias e lavouras não foram pagas. Porém, a margem bruta2 foi de R$ 599,00 por ha. Dessa forma, foram pagos apenas os custos operacionais efetivos, reforçando-se a ilusão da lucratividade.
Quadro 2 - Preços médios pagos pela saca de café em reais ao longo dos últimos anos
Fonte: Central de Inteligência do Café (CIC) - Valores corrigidos pelo IGP-DI, base dez. 2005.
A análise dos valores apresentados acima corrobora, inclusive, o fato das propriedades não estarem adquirindo e/ou substituindo máquinas e implementos. Percebe-se, atualmente, que as poucas aquisições que vêm sendo efetuadas, são viabilizadas, na sua maioria, por meio de financiamentos, demonstrando, portanto, a frágil capacidade da atividade em manter ou até mesmo modernizar seus bens do inventário.
Certamente políticas públicas são essenciais para reverter a situação descrita. Nesse sentido, cabe destacar as prorrogações das dívidas dos produtores e a manutenção de planos de custeio e de financiamento para o setor cafeeiro.
Porém, parte desse insucesso deve ser debitada da conta do produtor. Raramente sabe-se o valor correto gasto para se produzir uma saca de café e consequentemente o preço ideal de venda para que se obtenha lucro, mesmo que este seja pequeno. Além disso, muitas vezes são feitos investimentos infundados, seja na aquisição de máquinas e implementos ou até mesmo na implantação de novas áreas.
A Cafeicultura é um bom negócio. Dentre os valores que resultaram na média apresentada há inúmeros casos de sucesso e estes são creditados àqueles produtores que souberam administrar seus custos frente às adversidades da atividade. Coube a eles, e cabe ao produtor em geral, cada vez mais, se profissionalizar e gerenciar sua atividade de forma que ela se torne economicamente viável. Estes casos de sucesso serão abordados nos próximos artigos.
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1 Dados referentes a região do Alto Paranaíba-MG. Considerou-se uma produtividade acima da média do País que é de 15 sacos por ha.
2 Margem Bruta = Renda Bruta - Custo Operacional Efetivo