Por Gabriela Kaneto
Após chuvas intensas registradas neste último final de semana em regiões como Cerrado Mineiro e Sul de Minas, tem sido possível observar alguns casos de grãos rachados ainda nos pés. Uma das produtoras afetadas pelo fenômeno foi Arabela Pereira Lima, do município de Monte Santo de Minas (MG).
“É a primeira vez em 30 anos de profissão que estou vendo isso acontecer em grande parte da lavoura mais nova. Conversando com os técnicos da região, eles me contaram que a incidência deste problema está em boa parte das fazendas visitadas”, contou a cafeicultora do Sul de Minas.
Frutos rachados na propriedade da produtora Arabela, no município de Monte Santo de Minas (MG)
Segundo Gustavo Guimarães, engenheiro agrônomo, consultor em pós-colheita e promoção internacional, este é um comportamento fisiológico normal da planta no estágio em que o fruto ainda está com um tecido flexível, nem tão rígido como no fruto verde, e nem tão rígido como no fruto já seco. “É normal depois de uma chuva o grão inchar e, com o tecido flexível, cresce e estoura a casca. Claro que tem várias intensidades que podem estar relacionadas com fatores como nutrição e estresse hídrico. Quando a planta está num estresse maior e chove forte, isso tende a ser mais evidente. Se ela já vem em um regime de chuvas e vem uma precipitação mais forte em cima, isso é menos intenso”, explicou.
De acordo com suas análises, Gustavo acredita que as lavouras que foram atingidas pela chuva do último fim de semana apresentaram os grãos rachados. “Muito provavelmente deve estar ocorrendo em todas as regiões onde a chuva passou este fim de semana, pois ela foi relativamente intensa, de 15 a 40 mm, além de ter ficado dois dias sem sol”, apurou.
Frutos rachados na propriedade da produtora Arabela, no município de Monte Santo de Minas (MG)
As rachaduras impactam negativamente nos frutos maduros e, consequentemente, na bebida final. O especialista em classificação, degustação e controle de qualidade do café, Silvio Leite, esclarece: “Infelizmente interfere negativamente, não seria no grau brix, porque ele já rompeu e vai ter uma secagem rápida, mas sim na possibilidade de entrar fungos e bactérias”.
Silvio destaca que o ideal é que estes frutos sejam colhidos o mais rápido possível. “Caso não sejam colhidos brevemente, os grãos poderão cair e, por estarem abertos, expostos, podem ser atingido por mais fungos. Se não houver a rápida colheita, a qualidade será piorada em função desses problemas”, explica. Segundo ele, como este ano tem sido de boas chuvas, ainda tem risco de este cenário ocorrer novamente e prejudicar um pouco o andamento da safra.