A quantificação da produtividade é direta e inquestionável, mas a medida da qualidade é subjetiva, pois se utiliza o clássico "teste de xícara". Pensando nisso, pesquisadores determinaram características físico-químicas do grão que apresentam elevada correlação com a qualidade medida pelo "teste de xícara". Assim, podem-se quantificar essas características dos grãos, de forma precisa, e inferir sobre a qualidade do café. Obviamente, o "teste de xícara" será sempre o padrão de avaliação, tendo a determinação das características físico-químicas um papel complementar.
A característica bioquímica do grão que apresenta maior correlação com a qualidade final do café é a atividade da enzima cúprica polifenoloxidase. As transformações bioquímicas que ocorrem no grão de café e que levam a uma depreciação da qualidade da bebida são, principalmente, de natureza enzimática. Essas transformações, que envolvem especialmente polifenoloxidases, geram a degradação das paredes e membranas celulares, assim como mudanças de coloração do grão, com conseqüente prejuízo na qualidade.
Os teores de nitrogênio, fósforo e potássio, no grão e na polpa do café, apresentam pequena correlação com os valores correspondentes à qualidade da bebida. Dessa forma, é possível que outros elementos presentes nos adubos possam afetar as características físico-químicas relacionadas, gerando um café de melhor ou pior qualidade.
Dentre os fertilizantes utilizados na cafeicultura, os que têm despertado maior interesse, em relação à qualidade do café produzido, são os potássicos. Esses fertilizantes são utilizados em grande quantidade, uma vez que o potássio é o segundo nutriente mais absorvido pelo cafeeiro, depois do nitrogênio. As fontes de K mais aplicadas na cafeicultura são o cloreto de potássio (KCl, 60 % de K2O), o sulfato de potássio (K2SO4, 48 % de K2O) e o nitrato de potássio (KNO3, 44 % de K2O). O cloreto de potássio é o fertilizante mais utilizado, uma vez que apresenta maior concentração de K2O.
Não há diferença na produção se for aplicada uma mesma dose de K utilizando-se qualquer um dos três fertilizantes citados. Obviamente, o sulfato de potássio e o nitrato de potássio contêm, respectivamente, enxofre e nitrogênio, além de K. Portanto, para que os três fertilizantes apresentem o mesmo feito na produção, enxofre e, ou, nitrogênio devem ser fornecidos, sempre que se utilizar uma fonte de K que não os contenha, visando manter a equivalência entre as fontes. Isso é básico.
Em relação à qualidade do café, há pouca diferença em se utilizar K2SO4 ou KNO3. O cloreto de potássio, entretanto, possui 47% de cloro, o que leva a planta a absorver e a acumular elevadas quantidades deste elemento. Admite-se que o cloreto (Cl-), oriundo do KCl, apresente efeitos negativos diretos e indiretos sobre a qualidade da bebida.
A melhor qualidade do café está relacionada com uma maior atividade da enzima cúprica polifenoloxidase, como explicado. A polifenoloxidase é catalisada pelo micronutriente cobre, mas o (Cl-) inibe sua atividade, devido à reação com o cobre, podendo gerar uma redução na qualidade do café produzido. O ânion Cl-, mais que o SO42-, tem, ainda, efeito negativo na estrutura terciária da proteína (enzima), desnaturando-a. Além disso, o cloreto parece contribuir para um maior teor de água nos frutos, o que, consequentemente, aumenta a proliferação de microorganismos, podendo gerar fermentações indesejadas.
Essas informações são fornecidas por pesquisas científicas realizadas sobre o assunto, apresentando inequívoca confiabilidade. Mas ocorre um questionamento prático: já se produziu café de qualidade adubando-se com cloreto de potássio (KCl)? A resposta é: Sim! Os cafés de qualidade superior são obtidos a partir da interação entre fatores genéticos, ambientais, condições de manejo, incluindo-se a adubação, e processamento do produto após a colheita. Para detalhamento desse item, ler, também, o excelente artigo de Ensei Uejo Neto: "Quando tamanho não é documento".
Nesse sentido, a adubação com sulfato de potássio ou nitrato de potássio não garante a produção de cafés de qualidade, nem a adubação com cloreto de potássio promove, sempre, a produção de cafés de qualidade inferior. O que existe, na realidade, é a "possibilidade" de melhora na qualidade do café produzido ao se aplicar uma fonte de potássio que não contenha cloreto. Esse fato deve ser levado em consideração por qualquer cafeicultor.
O quadro abaixo mostra o preço do kg de K2O para cada fertilizante potássico mencionado no artigo, bem como o preço do kg de nutrientes para aqueles que apresentam outros nutrientes além de potássio. Foram coletados preços de mercado dos três fertilizantes, sendo: KCl R$ 37,86/sc 50 kg; K2SO4 R$ 33,90/sc 25 kg e KNO3 R$ 52,00/sc de 25 kg.
Pelo quadro, pode-se observar que o KCl é, sem dúvida, o fertilizante mais barato entre os três, inclusive quando se considera o preço do kg de nutrientes. A pergunta é: até que ponto a substituição do KCl por outro fertilizante potássico poderá trazer retorno econômico, uma vez que as respostas em relação à qualidade do café ficam no campo das "possibilidades"?
Qualquer tentativa no sentido de melhorar a qualidade do café produzido, via fertilizantes, deve ser realizada, primeiramente, em pequenos talhões. Se as interações entre genótipo, micro-clima, manejo e processamento do produto ferem favoráveis, pode-se aumentar a área gradativamente, incluindo-se novos talhões no sistema. Obviamente, a resposta de cada talhão será diferente, permitindo separar as lavouras em talhões nos quais vale a pena investir em fertilizantes mais caros e talhões que não apresentam um resultado econômico compensatório.
Além disso, deve-se utilizar esse intervalo de tempo para a conquista de mercados específicos, essenciais ao aumento da taxa de retorno. Capacidade de observação, paciência e visão de mercado são fatores fundamentais em todo o processo.
Produzir café de qualidade é bom, mas aumentar o lucro da atividade, com segurança, é muito melhor.