No uso de adubação via água de irrigação – a fertirrigação - a pesquisa e a prática têm demonstrado que, em lavouras de café, as fontes, doses e parcelamentos dos adubos podem ser ajustados, de forma mais simples, facilitando o entendimento do técnico recomendante e seu emprego pelo cafeicultor.
Quanto às fontes, os fertilizantes empregados via água de irrigação podem ser sólidos ou líquidos (fluidos). Os fertilizantes sólidos devem ter, preferencialmente, alta solubilidade. Eles devem ser escolhidos conforme suas características e propriedades, e não devem conter ferro, devendo também ser analisado em relação ao seu custo-benefício. A pesquisa evidenciou que podem ser utilizados fertilizantes comuns, como ureia, cloreto de potássio (branco) e Map purificado, entre outros semelhantes, no lugar daqueles mais puros e com maior custo de aquisição (Tabela 1).
Ainda em relação às fontes, deve-se analisar a compatibilidade entre elas para que não se formem precipitados, que podem causar problemas de entupimentos nos sistemas de irrigação localizada. Como os fertilizantes são sais, é preciso também estar atento ao índice salino dos mesmos, pois alguns problemas de salinidade podem surgir em razão do manejo inadequado do fertilizante, da quantidade aplicada, da sua escolha e da qualidade da água de irrigação. Na Tabela 2 podem ser observados os principais fertilizantes utilizados na fertirrigação, com as respectivas composições, solubilidades, salinidades e pH.
As doses dos nutrientes, a serem usadas na fertirrigação não devem se diferenciar muito quanto aos seus critérios em relação àquelas que são utilizadas na adubação normal, em cobertura. Assim, no pós-plantio, podem ser feitos de três a quatro parcelamentos mensais, iniciando com 5 gramas de ureia ou similar nitrogenado, aumentando para 7 a 10 gramas se o período quente persistir, podendo, nesse caso, com a irrigação , prolongar o período de fertirrigação até um pouco mais tarde, de abril a maio, quando o normal seria acabar entre março e abril. Em seguida, de seis a 18 meses pós-plantio, recomenda-se utilizar de 25 a 35 gramas de nitrogênio e de 20 a 30 gramas de K2O por planta. No ano seguinte, usar de 50 a 70 gramas de nitrogênio e de 50 a 70 g de K2O, o que corresponderia de 200 a 250 quilos de nitrogênio e K2O por hectare, quando se vai colher o equivalente a cerca de três litros de frutos por planta.
Na realidade, como vai haver um melhor aproveitamento dos adubos, especialmente do nitrogênio, pela fertirrigação, poderia ser usada uma dose cerca de 20% menor. Porém, como a planta, pela irrigação, cresce e frutifica mais, pode-se manter essa dose e, em alguns casos de produções altas, até aumentar. Na lavoura adulta, recomenda-se manter (às vezes aumentar) a dose de fertilizantes, via água, também baseada no critério de necessidade nutricional dos cafeeiros, para seu crescimento (vegetação) e para a produção de frutos.
Quanto ao efeito do parcelamento dos adubos, em função da fertirrigação, a pesquisa mostrou que em solos com textura normal não é necessário parcelar demasiadamente as fertirrigações, bastando usar de oito a 16 parcelamentos no ano (Tabela 3). A época de aplicar os fertilizantes via água é semelhante àquela da adubação normal, de outubro a março, quando se concentram o crescimento e frutificação do cafeeiro. Em regiões quentes, as fertilizações podem ser ampliadas durante a maior parte do ano.
Para o sucesso da fertirrigação, é necessário avaliar a distribuição de água do sistema de irrigação. Existem metodologias próprias para a avaliação de pivô central, gotejamento, aspersão, e os cafeicultores devem avaliar o sistema pelo menos uma vez por ano, antes do início da estação de irrigação. Não há como aplicar uniformemente os adubos se a própria água não é aplicada corretamente.
Finalmente, um cuidado adicional na verificação da distribuição dos adubos, na água, é a abrangência da maior parte do sistema radicular, e dos dois lados da linha de cafeeiros, pois a absorção de alguns nutrientes pelas raízes se dá de forma radial. Assim, em cafeeiros mais jovens e em terrenos com declive, a distribuição fica adequada pelo escoamento lateral da água. Em locais muito planos e em lavouras mais velhas, com grande diâmetro de saia, a prática tem mostrado que, anualmente, deve-se fazer de um a dois parcelamentos com adubos sólidos, esparramados em cobertura, com isso melhorando a distribuição dos mesmos junto às raízes.
A distribuição dos adubos pela água é totalmente dependente do sistema de irrigação utilizado. Para os sistemas com aplicação em área total, este não é um problema. Para os chamados sistemas de irrigação localizada, tanto para os de gotejamento quanto para os de pivô central com emissores localizados (LEPA’s, por exemplo), este cuidado deve ser tomado. É importante salientar também a necessidade de se avaliar, nos sistemas de irrigação por gotejamento, se os bulbos individuais de cada gotejador estão se encontrando, formando as chamadas faixas molhadas, que permitirão a distribuição mais adequada da água e, por conseguinte, dos fertilizantes.
Tratamentos | Produção (scs/ha) | |
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Fertiirrigação | Adubo químico importado, 16 aplicações | 53,5 a |
Adubo químico convencional, 16aplicações | 50,1 a | |
Cobertura, sólida, solo | Adubo químico convencional, 4 aplicações |
Químico convencional = form. 20-05-20; químico import.= 99% de solub.; Fonte: Fernandes et al., Anais 31CBPC,Mapa/Procafé, 2005, p. 225
Produto | Composição | Condutividade elétrica (dS/m) | pH | Solubilidade* |
---|---|---|---|---|
Ureia | 46%N | 0,07 | 5,8 | 2,2 |
Nitrato de amônio | 33%N | 1,5 | 5,6 | 1,6 |
Sulfato de amônio | 20%N | 2,1 | 5,5 | 2,4 |
Nitrato de cálcio | 15%N + 26%CaO | 1,1 | 5,9 | 1,1 |
MAP Purificado | 11%N + 54%P2O5 | 0,8 | 4,9 | 3,5 |
Ácido Fosfórico | 54% P2O5 | 1,7 | 2,5 | 0,2 |
Cloreto de Potássio branco | 60%K2O | 1,7 | 5,4 | 2,9 |
Nitrato de Potássio | 13%N + 46% K2O | 1,2 | 7 | 4,8 |
Sulfato de Potássio | 50% K2O | 1,4 | 7,1 | 12,5 |
Sulfato de Magnésio | 13%S + 10% Mg | 0,7 | 4 | 1,4 |
Nitrato de Magnésio | 11% N + 16%MgO | 0,9 | 5,4 | 2 |
Ácido Bórico | 17% B | 0 | 0 | 15,9 |
* Solubilidade: índice de multiplicação - ex. 450 kg Uréia x 2,2 = 990 litros de água para dissolver todo o fertilizante
Fonte: Adaptado de Bambini (2016)
Tratamentos (Dose Kg/ha/ano e frequência das aplicações) | Produção média de 3 safras ( sacas/ha) |
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600 N + 500 K2O (Quinzenal) | 64,3 a |
600 N + 500 K2O (Semanal) | 54 b |
600 N + 500 K2O (2 X semana) | 57 ab |
Fonte: Fernandes et al., anais 33 CBPC, Mapa/Procafé,2007, p. 300