Produtores se preocupam como as mudanças climáticas e as temperaturas excessivas podem prejudicar a produção de café. O engenheiro agrônomo Dr. José Donizeti Alves esclarece essas dúvidas.
Para os cafeicultores, 2020 ficou gravado pela triste memória de uma seca que afetou o vingamento dos frutos e encurtou a janela de crescimento do café. Por conta disso, haverá redução nas safras de 2021 e 2022, mas felizmente a seca do ano passado ficou para trás.
Estamos em pleno verão e com ele vieram as chuvas em volume suficiente para reverter a situação de déficit para excedente hídrico no solo. Essa condição permitiu, como já havíamos previsto, uma recuperação do crescimento vegetativo pela emissão de novos nós e folhas. O que se nota hoje é que as lavouras em nada lembram àquelas que vimos nos meses de agosto a novembro. Elas estão sadias, bem enfolhadas, vigorosas e com melhores perspectivas de safra em relação àquelas projetadas em alguns meses atrás. As atuais condições só foram alcançadas graças ao clima até então favorável e a rápida decisão dos cafeicultores em retornar as adubações e o controle de pragas, doenças e do mato. Aqueles que não o fizeram certamente estão vendo os efeitos de uma decisão equivocada.
Lavouras adultas
Em função do enfolhamento das plantas, o cafeeiro pôde então capitar a energia luminosa e transformá-la em energia química (carboidratos), que foi canalizada para o crescimento de raízes, folhas, ramos e principalmente frutos. Fatores externos facilmente identificáveis, como crescimento ativo de frutos (expansão rápida) e de ramos, nenhuma desfolha ou mesmo queda de frutos, são sinais de que os carboidratos foram e estão sendo sintetizados (fonte) em quantidade suficiente para atender os crescimentos vegetativo e reprodutivo (drenos).
Para que essa produção de carboidratos seja sustentável até a fase de granação (acúmulo de matéria seca na semente) e que permita aos ramos crescerem por mais dois meses (até o final do verão), a fotossíntese tem que continuar a operar em níveis semelhantes aos atuais. Para tanto, chuvas abundantes e temperaturas que não ultrapassem 32º C são condições “sine qua non”.
Até o momento, os carboidratos sintetizados estão atendendo bem as atuais exigências das plantas. Tanto é verdade que a lavoura está reagindo muito bem às atuais condições climáticas. A má notícia é que essa energia produzida é suficiente apenas para abastecer os drenos no dia a dia, restando muito pouco para o armazenamento na forma de amido. Portanto, a continuidade desse calor pode zerar a fotossíntese e, na sequência, esgotar as reservas de carboidratos, gerando um desequilíbrio nas relações fonte e dreno, condição em que a fonte não é capaz de sustentar os drenos. Como consequência haverá desfolha, predispondo as plantas ao ataque de pragas e doenças. Caso o calor se estenda até fevereiro/março, haverá sérios problemas na granação com a produção de alta percentagem de frutos chochos.
Lavouras recém-implantadas
Ainda que as lavouras adultas, enquanto durar a reserva de energia, continuarão a reagir bem ao clima atual, esse calor pode provocar sérios danos às mudas recém plantadas. Em função de um volume insuficientes de raízes, a água perdida pela transpiração das folhas das mudas não é totalmente reposta e provoca murcha ou escaldadura. Sempre que as folhas murcharem, a única saída para minimizar o problema é a irrigação, quantas vezes for necessária. Caso não irrigue, as plantas definham, ficam pouco desenvolvidas e nunca serão plantas adultas saudáveis.
É importante destacar que a irrigação pode não ser totalmente eficiente, uma vez que os efeitos negativos do calor podem suplantar aos benefícios da adição de água. Por outro lado, se não irrigar e o veranico se estender por muito tempo, a grande maioria das mudas irá sofrer escaldadura, secar e morrer. Em ambos os casos deve-se fazer o replantio das mudas sabendo que, ainda que indesejável por atrasar mais o desenvolvimento das plantas e aumentar os custos, essa operação tem que ser feita.
As informações são de Guy Carvalho (por Carol Mendes).