Hoje, muito se fala de safras altas de café no Brasil nesses últimos anos. Porém, pra chegar até aqui, foram períodos longos e sujeitos a percalços, com influência climática e de condições de preços do produto.
A análise das safras brasileiras de café, a partir de 1960, mostra a ocorrência de grandes variações ao longo do período, conforme os dados representados na figura 1. Podem ser observados níveis de safras em seis intervalos de ocorrência: abaixo de 10 milhões de sacas/ano foram verificadas somente duas safras (1965 e 1976) função da seca e da geada; entre 10 e 20 milhões de sacas ocorreram 10 safras; entre 20 e 30 milhões foi observado o maior número de safras (22); entre 30 e 40 milhões somente nove safras; entre 40 e 50 milhões, 12 safras; e acima de 50 milhões, apenas duas safras, sendo estes níveis maiores concentrados nesses oito últimos anos. Verifica-se um crescimento constante a partir dos anos 2000.
A média dos períodos decenais foi a seguinte:
1961 – 70 = 22,9 milhões de sacas
1971 – 80 = 19,5 milhões de sacas
1981 – 90 = 26,6 milhões de sacas
1991 – 2000 = 26,0 milhões de sacas
2001 – 2010 = 39,0 milhões de sacas
2011 – 2018 = 48,5 milhões de sacas
Figura 1– Evolução da produção brasileira de café em 58 anos (1960-2018)
A observação dos dados da figura 1 evidencia três fenômenos importantes na definição das safras:
1º) O ciclo bienal das produções, uma alta seguida de uma baixa, característico do nosso tipo de lavoura a pleno sol, que se esgota após uma safra alta, passa o ano seguinte recuperando sua ramagem e nesse ano resulta uma safra baixa, voltando a produzir bem, novamente, após dois anos. Com a variação climática entre as regiões, com o aumento de podas e com entrada sucessiva de novos cafeeiros em produção nas últimas safras, o diferencial de ciclo de altas e baixas safras ficou reduzido.
2º) Os fenômenos climáticos, inicialmente com maior relevância para as geadas, e hoje em dia também as estiagens, que afetam drasticamente as safras de café no mesmo ano, pelo chochamento e má granação dos frutos e no ano seguinte, pela redução no crescimento da ramagem.
3º) A conjuntura de preços do café, a qual pode estimular ou desestimular os tratos nas lavouras e os novos plantios.
No momento atual, o setor da produção cafeeira – a lavoura de café – ainda se encontra em um ciclo de expansão, no qual houve muita renovação de áreas e melhoria nos tratos, com aumento de produtividade. Para que essa fase se mantenha, é preciso que a combinação dos três fenômenos citados ocorra de forma adequada. Vislumbra-se, para 2019, uma safra em ciclo bienal de baixa, diante da alta safra observada em 2018. O clima, por enquanto, vem bem, embora um período crítico de stress hídrico na granação dos frutos ainda possa ocorrer. Os preços atuais do café não estão estimulantes, situação agravada pelo aumento verificado nos custos dos insumos para a produção.