Definição:
O esqueletamento consiste no corte dos ramos laterais associado a um decote. O ideal do corte lateral é fazê-lo em forma cônica, iniciando-se o corte no terço superior entre 20 e 30 cm de distância do ramo ortotrópico e terminando no terço inferior com 30 a 50 cm. Caso esse corte seja mais longo entre 50 e 70 cm de distância do ortotrópico, essa poda passa a ser chamada de desponte. Já o corte do topo da planta (decote) pode ser feito de 1,2 a 2 metros de altura sendo de extrema importância para a quebra da dominância apical, melhorando a brotação dos ramos laterais.
Finalidades do Esqueletamento:
Dentre as diversas finalidades do esqueletamento, podemos citar: 1) abertura de lavouras fechadas; 2) recuperação da saia de lavouras sombreadas (antes da morte desses ramos); 3) recuperação de lavouras depauperadas ou atingidas por intempéries como granizo e geadas; 4) Promover um reequilíbrio entre a parte aérea e o sistema radicular; 5) reduzir a altura da planta melhorando a colheita; 6) escalonamento de colheitas (Sistema Safra Zero); 7) racionalização de custos; 8) aumentar e renovar a quantidade de ramos produtivos.
Situações importantes:
Quando falamos em esqueletamento, temos que raciocinar em cima de quatro questões básicas: 1) Esqueletar quando? 2) de quanto em quanto tempo? 3) o esqueletamento realmente aumenta a produtividade? 4) posso reduzir adubação e tratamento fitossanitário em lavouras podadas?
1) Quando esqueletar?
O esqueletamento deve ser feito o quanto antes possível a partir do mês de Julho. Ensaios realizados na Fazenda Experimental de Varginha comprovam que as melhores épocas de esqueletamento, no ano seguinte à poda, para o cultivar Mundo Novo são os meses de julho e agosto, sendo o mês de setembro intermediário e a partir de outubro inferior. Já para o cultivar Catuaí o mês de julho foi superior, os meses de agosto e setembro foram intermediários e a partir de outubro inferior. No ano seguinte, houve uma compensação e as épocas inferiores no ano anterior passaram a ser superiores no ano seguinte. Portanto quando se analisa em dois anos não há diferença para a época de esqueletamento, mas é recomendável que seja realizado o quanto antes possível para recuperação do capital investido no ano de vegetação da planta (Tabela 1).
Desta forma, a colheita deve ser planejada com antecedência, pois os talhões destinados ao esqueletamento devem ser colhidos anteriormente.
De quanto em quanto tempo?
O esqueletamento deve ser realizado sempre que as condições vegetativas da planta necessitarem dessa prática; mas geralmente é recomendável que seja realizado em prazos ímpares de colheitas, ou seja, uma, três, cinco ou mais safras. Isso devido a bienalidade de produção após a poda. Entretanto, deve-se sempre observar a resposta de produção que pode sofrer influência de fatores bióticos e abióticos, alternando o ano de alta produção, a fim de que não se efetue a poda em uma lavoura projetando uma alta carga. Caso específico é verificado no sistema Safra Zero, no qual colhe-se uma safra alta em um ano e zero no outro.
2) O esqueletamento aumenta a produtividade?
O esqueletamento por si só não aumenta a produtividade. Diversos são os ensaios que comprovam que na maioria das vezes a testemunha apresenta produtividade igual ou maior aos tratamentos podados. Na realidade o esqueletamento racionaliza o custo de produção, pois em anos que as safras seriam menores a lavoura encontra-se somente em desenvolvimento de ramos, reduzindo assim o gasto com a colheita que fica toda concentrada no ano seguinte.
Aumentos de produtividade só são observados em caráter corretivo quando algum fator que gera depauperamento está atuando na planta. Por isso tem que ter muita cautela na recomendação de um esqueletamento.
3) Posso reduzir adubação e tratamento fitossanitário?
Com relação à adubação, o importante não é reduzir, mas sim equilibrar. O material vegetal que cai no solo, fruto do esqueletamento, é rico em macro e micronutrientes.
Tabela 2. Quantidade de macro e micronutrientes nas partes podadas do cafeeiro, cafezal Mundo Novo, 9 anos, 3,5 x 1,5m (1904 covas/ha). Alfenas, 1986.
Fonte: Garcia, Malavolta, Gonçalves e outros.
Apesar de haver mais de 250 Kg de nitrogênio, a relação C/N desse material é alta e por isso é necessário a realização de adubações nitrogenadas para equilibrar essa relação. Já com relação ao potássio, são raros os casos de lavouras que após a poda necessitam desse nutriente, pois o mesmo é requerido em grandes quantidades em anos de safras altas.
O equilíbrio nutricional da planta é fundamental para que a produtividade não seja limitada. Desta forma deve-se proceder a análise mineral de solo de 0-20 e 20-40 a fim de se identificar e corrigir os teores de macro e micronutrientes de acordo com os critérios recomendados pelo Novo Manual de Recomendações do Livro Cultura de Café no Brasil (Ed 2005). O fornecimento de N ainda precisa ser mais estudado principalmente devido a imobilização deste pelo material vegetal oriundo da poda. Recomenda-se que este seja fornecido logo no inicio das chuvas considerando este intervalo entre a imobilização e re-disponibilização as plantas após decomposição da matéria orgânica.
Com relação aos tratamentos fitossanitários é importante ficar bastante atento às pragas de solo como nematóides, cigarras, berne de raiz e cochonilha de raiz. Caso haja histórico dessas no solo é indicado a realização do seu controle, pois lavouras esqueletadas tem uma mortalidade de aproximadamente 80% do sistema radicular aos 120 dias (Tabela 3). Cabe ressaltar que algumas doenças foliares tais com a Ferrugem e a Phoma são bastante intensas em lavouras esqueletadas. Em alguns casos a Phoma reduz drasticamente a produtividade dessas lavouras no ano de safra.
Desta forma é importante a constatação da presença de pragas de solo e aplicação de inseticidas/nematicidas logo no inicio das chuvas, momento este onde as novas raízes serão formadas. O monitoramento da ferrugem deve ser realizado a partir da emissão do terceiro par de folhas. Ao contrário de um planta não podada os cafeeiros sem produção, durante a vegetação, ficam extremamente susceptíveis ao ataque de ferrugem. Esse monitoramento deve ser realizado nas lavouras esqueletadas, pois nessas a ferrugem aparece mais cedo com uma curva de progressão mais agressiva. Durante este período são utilizados fungicidas triazóis em mistura com cúpricos geralmente aplicados no mínimo em duas épocas, com intervalo de 60 dias sempre que o índice da doença for superior a 3% de folhas atacadas.
Durante o ano de produção deve-se também controlar a ferrugem, mantendo a planta bem enfolhada, servindo como fonte de nutrientes e fotoassimilados para os frutos que são drenos preferenciais. Em altas produções esta força de dreno exercida pelos frutos é visivelmente notada a partir do período de expansão rápida, onde a planta tende a mudar a tonalidade das folhas, de verde intenso a amareladas. Outra doença de grande importância neste momento é a Cercosporiose. Além de causar a desfolha das plantas, atacam os frutos desde verdes até cerejas, principalmente na região apical das plantas, causando queda dos frutos ainda imaturos, perda de qualidade dos grãos e seca de ramos nas plantas.
Tabela 3. Mortalidade de raízes de cafeeiros em vários tipos de podas em cafezal Mundo Novo, 7 anos, 3,5 x 1,5m (3-4 hastes/cv). Alfenas-MG, 1986.
Fonte: Miguel, Oliveira, Matiello e Fioravante. In Anais 11º CBPC, p. 240-241.
Um fator primordial que deve ser considerado para a execução do esqueletamento refere-se as característica genéticas da cultivar. O potencial de produção pós poda das cultivares é bastante heterogêneo não só pela herança genética mas também pela interação com as condições ambientais e de manejo. Conforme verificado, por produtores e melhoristas, algumas cultivares tendem a ser mais responsivas a podas que outras, em maior amplitude de condições ambientais. Porém, deve-se realizar um estudo localizado, levando em consideração esta interação e as condições de manejo, a fim de potencializar a expressão genética de produção.
O estande também é muito importante, pois espaçamentos antigos com pequeno número de plantas por hectare não alcançam as altas produtividades almejadas no primeiro ano produtivo. Outro fator importante a considerar é a arquitetura da planta, pois plantas com pequena ramificação lateral ou sem saia ou com excesso de brotos ladrões não tem sucesso produtivo.