No Brasil, os nematóides têm colaborado para a sucessiva decadência de regiões nobres da cafeicultura nos Estados do Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo (Santos, 1997) e outras áreas nobres na cafeicultura do país, causando perdas de produção estimadas em 20% (Campos et al., 1985; Agrianual, 2000).
Barbosa et al (2004) realizaram um trabalho de levantamento dos nematóides das galhas e determinação do nível de dano nas lavouras do Estado do Rio de Janeiro, tendo observado a ocorrência de Meloidogne exigua em 52% das lavouras amostradas e perdas de produtividade de até 45% para as lavouras com melhores tratos culturais infestadas pelo nematóide.
Das diversas táticas de manejo que podem ser empregadas no controle de nematóides, poucas se mostram eficientes e de fácil utilização em culturas perenes como o café, sendo que das táticas de manejo, o manejo cultural, químico e genético apresenta-se com as maiores chances de sucesso no controle de M. exigua.
Miguel et al. (1984), estudaram a influência de diversos tipos de podas sobre a sobrevivência do sistema radicular de cafeeiros e verificaram que aos 120 dias após a poda (recepa), 84% do sistema radicular havia morrido, sendo que a parte mais afetada do sistema radicular foi à formada por raízes de diâmetros menores que 03 mm, ou seja, aquelas ativamente envolvidas na absorção de água e minerais. Estas raízes são, também aquelas para onde os nematóides (J2) preferencialmente migram e penetram.
Barbosa et al. (2003) num trabalho de levantamento de nematóides verificou que as lavouras que foram recepadas apresentaram uma diminuição de 82% no nível populacional de M. exigua no solo comparado ao ano anterior. Com a diminuição do número de raízes devido à recepa, ocorreu uma grande redução no nível populacional destes no solo.
Como os produtores da região utilizam a recepa como prática cultural para recuperar suas lavouras, após um ataque generalizado de pragas ou doenças ou depauperamento, objetivou-se com este trabalho verificar o efeito da recepa aliada a aplicação de nematicidas no controle de M. exigua.
O experimento foi montado numa lavoura comercial infestada por M. exigua da cultivar Catuai 144, com nove anos de idade, plantada num espaçamento de 1,7 x 1,0m no Sítio Fortaleza, em Varre-Sai -RJ. Os tratamentos foram constituídos de parcelas com recepa (CR) e sem recepa (SR), com (CN) e sem aplicação de nematicidas (SN). As aplicações dos nematicidas terbufós (1) e carbofuran (2) em uma ou duas aplicações (1a e 2a) nas dosagens comerciais de 35 e 45 kg/ha, respectivamente, resultando nas combinações: SRSN; SRCN1,1a; SRCN1,2a; SRCN2,1a; SRCN2,2a; CRSN, CRCN1,1a; CRCN1,2a; CRCN2,1a; CRCN2,2a.
Amostras de solo e raízes foram coletadas a 20cm de profundidade, na projeção da saia de ambos os lados da planta através de um trado, tendo sido as avaliações realizadas antes da recepa (out/2004), 60 dias após a recepa e antes da 1ª aplicação dos nematicidas (dez/2004), 90 dias após a 1ª e antes da 2ª aplicação (mar 2005), 90 dias após a 2ª aplicação (jul/2005) e 90 dias após (out/2005). Para monitorar a população do nematóide determinou-se o número de J2/100cc de solo e o número de galhas/g de raiz (NG).
Os resultados dos níveis populacionais (nº J2/100 cc de solo) encontrados para os tratamentos em cada avaliação encontram-se nos gráficos 1 e 2.
Gráfico 1 - Flutuação populacional de M. exigua nos tratamentos SRSN, SRCN e CRSN.
Gráfico 2 - Flutuação populacional de M. exigua nos tratamentos CRSN, SRCN e SRSN.
Os gráficos 1 e 2 apresentam os resultados apenas para o nível populacional dos nematóides no solo.
Os resultados indicaram que somente a prática da recepa realizada em outubro de 2004 reduziu em 65% e 62% o nº J2 e NG, respectivamente, e as aplicações de nematicidas reduziram o número de J2 em 57% e 37% após a 1ª aplicação quando comparados aos tratamentos SRSN e CRSN, respectivamente, e ambas as práticas combinadas reduziram a população do nematóide em até 75%.
Observa-se em ambos os gráficos a flutuação populacional do nematóide devido ao efeito da recepa e/ou da aplicação dos nematicidas, e também devido às condições climáticas, pois nota-se uma redução na população do nematóide na testemunha SRSN, ou seja, que não foi recepada e nem recebeu a aplicação de nematicidas. Isto está relacionado ao período chuvoso, na qual ocorre maior penetração dos nematóides nas raízes e diminuição na população do solo.
A partir da avaliação de julho/05 em ambos os gráficos observam-se um incremento na população dos nematóides no solo, isto devido ao período seco (menor disponibilidade de raízes) e ao término do efeito residual dos nematicidas nos tratamentos que receberam aplicação.
A continuidade deste trabalho se dará até a obtenção de pelo menos quatro colheitas de modo a se obter respostas de qual a melhor maneira de manejarmos uma lavoura bem formada e produtiva que tem a sua produção afetada pelo nematóide. O monitoramento da população do nematóide, a obtenção de colheitas e a realização de uma análise econômica com custos e benefícios de cada tratamento nos darão suporte para indicarmos qual a melhor tática de manejo a ser empregada numa lavoura infectada por M. exigua.