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Densidade de plantio: influência na fertilidade do solo e na adubação

POR ANDRÉ GUARÇONI M.

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 26/08/2009

6 MIN DE LEITURA

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Introdução

Apesar da experiência que o trabalho contínuo confere, algumas vezes nos deparamos com questionamentos que nos obrigam a uma análise mais aprofundada. Mas isso é saudável, uma vez que o conhecimento é modificável e cumulativo, de forma que está sempre se enriquecendo com novas observações ou pontos de vista.

Alguns dias atrás, um amigo cafeicultor me disse que havia plantado uma lavoura adensada de café, e com alguma dúvida afirmou, querendo minha anuência, que deveria aumentar as doses de fertilizantes por hectare para manter a mesma produção de suas outras lavouras. Seu raciocínio foi lógico e claro, pois o número de plantas/ha será maior, necessitando de maior quantidade de nutrientes para sustentar a parte vegetativa das plantas, além da produção.

Eu disse que precisávamos nos aprofundar mais no assunto, pois uma maior necessidade de nutrientes não significa, obrigatoriamente, maior quantidade de fertilizantes. Assim, convido os leitores do CaféPoint a seguirem a linha de raciocínio que tentei desenvolver sobre o tema, me baseando, sempre, em resultados de trabalhos científicos.

Desenvolvimento

O efeito do adensamento de plantio na produção das lavouras cafeeiras já é conhecido de longa data, chegando a proporcionar o dobro de produtividade em relação a plantios menos adensados, como relatado por Miguel et al. (1983) e corroborado por Rena et al. (2003).

A produção por planta também se modifica de acordo com o espaçamento. Segundo Rodosevich et al. (1996), em baixas densidades de plantio, a produção total por área é determinada por elevada produção de poucas plantas, enquanto, em altas densidades, é definida por baixa produção de muitas plantas. Assim, deve ficar bem estabelecido que, em maiores densidades de plantio, a produção por hectare aumenta, mesmo que a produção por planta diminua, dado o elevado número de plantas/ha.

A redução na produção por planta, em plantios adensados, é explicada por Cannell (1985), para quem o principal efeito do sombreamento, no caso auto-sombreamento, é a redução do número de nós por ramo e de gemas reprodutivas por nó. Se o número de nós é o fator chave para a produção do café, esta poderá declinar, por planta, com o incremento do auto-sombreamento.

Esse fato tem influência direta na adubação das lavouras. Portanto, precisamos identificar as situações em que estaríamos sujeitos a cometer equívocos na recomendação de adubação. Partimos do pressuposto de que existem duas opções para a recomendação de adubação: ou se recomenda a dose por planta (g/planta) ou se recomenda a dose por hectare (kg/ha).

A recomendação por planta pode acarretar situações até irreais, como relatado por Miguel et al. (1983). Esses autores observaram que a aplicação de 125 g/planta de N ou de K2O, que é considerada adequada para plantios menos densos, equivale a 714 kg/ha em um cafezal com 5.714 plantas/ha, o que está bem além das doses comumente recomendadas para essa situação. Nesse caso, para Rena et al. (1998), a dose aplicada por planta deve ser menor, uma vez que a produção individual declina, e a recomendação de fertilizantes deve ser definida por área.

A recomendação por hectare (kg/ha) aparentemente resolve o problema, pois, apesar de fixar as doses para determinada produtividade, gera doses variáveis por planta, sendo estas compatíveis com o nível de produção individual, ou seja, quanto maior a densidade de plantio, menor a produção por planta e menor a dose/planta de fertilizantes. Dessa forma, bastaria definir a produtividade esperada, independente do número de plantas/ha, e recomendar as doses em kg/ha para a produtividade previamente definida. Esta é a prática geralmente adotada, e a resposta ao questionamento poderia findar aqui.

O adensamento de plantio, entretanto, modifica completamente o sistema solo-planta. Uma importante modificação ocorre na fertilidade do solo. Nesse sentido, Pavan et al. (1999) observaram que o adensamento das lavouras de café arábica causou alterações nas principais características químicas do solo, aumentando o pH, os teores de P, K, Ca2+, Mg2+ e carbono orgânico e diminuindo o teor de Al3+. Para o café conilon, Guarçoni M. et al. (2005) observaram que os teores de P no solo aumentaram em 315% e os de K em 189 % quando se passou de uma densidade de 2.222 plantas/ha para 5.000 plantas/ha, sendo que nas duas densidades de plantio as doses de nutrientes e os fertilizantes utilizados foram estritamente os mesmos. Vale ressaltar que uma lavoura com 5.000 plantas/ha de café conilon é considerada adensada.

Portanto, em plantios adensados de café, os teores de nutrientes no solo aumentam gradativamente, devido ao processo de ciclagem, à menor adsorção de P no solo e à maior retenção de nutrientes que eventualmente seriam perdidos do sistema, seja por erosão, seja por lixiviação. Esse fato já começa a emoldurar um novo quadro sobre o assunto, uma vez que as doses de nutrientes são recomendadas levando em consideração os teores presentes no solo, além da produtividade esperada.

Mas o aumento na fertilidade do solo não é a única modificação que ocorre no sistema. Pavan et al. (1994) destacam o incremento na densidade de raízes por área em plantios adensados, o que acarreta maior taxa de recuperação, pelas plantas, dos nutrientes aplicados, especialmente daqueles que apresentam maior mobilidade no solo. Além disso, atribuem ao elevado sombreamento, causado pelo adensamento, um aumento do conteúdo de água no solo, o que contribui para que os mecanismos de transporte de nutrientes no solo sejam favorecidos, facilitando sua absorção, além do efeito direto de uma maior absorção de água pelas plantas.

A soma dos fatores: aumento gradativo na fertilidade do solo, elevada taxa de recuperação de nutrientes e maior conteúdo de água no solo, indica apenas uma direção: maior aproveitamento dos fertilizantes aplicados em plantios adensados. Exatamente por isso, Pavan et al. (1994) obtiveram maior produtividade, em lavouras adensadas, com níveis médios de adubação, ao passo que, em lavouras plantadas em espaçamentos mais largos, o aumento da produção foi obtido com maiores níveis de adubação.

Essas observações dão suporte para que a prática de adubação geralmente adotada em lavouras adensadas seja gradualmente modificada. A partir disso, o amigo cafeicultor ficou um pouco decepcionado por seu pensamento estar equivocado. Mas, por outro lado, ficou muito satisfeito com as conclusões que apresentamos.

Conclusões

• Aplicando-se uma mesma dose de fertilizantes por área (kg/ha), a produtividade será maior em plantios adensados, quando comparados a plantios menos densos.

• Para uma mesma produção, podem-se reduzir as doses de fertilizantes por área (kg/ha) em plantios adensados, em relação às doses necessárias para plantios menos densos.

Literatura Citada

CANNELL, M. G. R. Physiology of coffee crop. In: CLIFFORD, M. N.; WILLSON, K. C. (Eds.). Coffee, botany, biochemistry and production of beans and beverage. London: Croom Helm, 1985. p. 108-134.

GUARÇONI M., A. ; BRAGANÇA, S.M. ; LANI, J. A. . Modificações nas características da fertilidade do solo causadas pelo plantio adensado de café conilon. In: XXXI Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, Guarapari - ES, 2005. Anais... XXXI Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, 2005. p. 208-209.

MIGUEL, A.E.; GARCIA, A.W.R.; CORREA, J.B. & FIORAVANTE, N. Efeito de três níveis de adubação N e K em cafeeiros Mundo Novo, Catuaí e Catimor, plantados em duas densidades de plantio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 10., Poços de Caldas, 1983. Anais... Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro do Café, 1983. p. 289-291.

PAVAN, M. A.; CHAVES, J. C. D.; ANDROCIOLI FILHO, A. Produção de café em função da densidade de plantio, adubação e tratamento fitossanitário. Turrialba, San José, v. 44, n. 4, p. 227-231, 1994.

PAVAN, M.A.; CHAVES, J.C.D.; SIQUEIRA, R.; ANDROCIOLI FILHO, A.; COLOZZI FILHO, A.; BALOTA, E.L. High coffee population density to improve fertility of an oxisol. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.34, n.3, p.459-465, 1999.

RENA, A. B.; NACIF, A. P.; GUIMARÃES, P. T. G. Fenologia, produtividade e análise econômica do cafeeiro em cultivos com diferentes densidades de plantio e doses de fertilizantes. In: ZAMBOLIM, L. (Ed.). Produção integrada de café. Viçosa: UFV, 2003. p. 133-196.

RENA, A. B.; NACIF, A. P.; GUIMARÃES, P. T. G.; BARTHOLO, G. F. Plantios adensados de café: aspectos morfológicos, ecofisiológicos, fenológicos e agronômicos. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 19, n. 193, p. 61- 70, 1998.

RODOSEVICH, S.R.; HOLT, J.; GHERSA, C. Physiological aspects of competition. In:______. Weed Ecology: implication for managements. New York. John Wille and sons, 1996. p. 217-301.

ANDRÉ GUARÇONI M.

D.Sc. em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa-MG. Pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper)

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MAIKEL DA SILVA SIMÃO

MUTUM - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 09/02/2017

no plantio adensado de cafe arabica irrigado consigo obter medias de  90 a 100 sacos por hectare facil facil  da variedade catucai 24 -137
ADELBER VILHENA BRAGA

CAMPESTRE - MINAS GERAIS

EM 30/12/2015

Excelente artigo!



Gostaria de saber o que você acha sobre reciclagem de nutrientes provenientes das folhas e sobre uso de reservas de "K" em profundidade...
ALEXANDRE MAGNO DE ALMEIDA

SÃO JERÔNIMO DA SERRA - PARANÁ - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 15/09/2010

Parabéns , esclarecedor seu artigo
ANTONIO CARLOS PRADO BARTHOLOMEI

JACUTINGA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 01/06/2010


considerando que temos controle apenas da "porteira para dentro", trabalhos como este vem nos dar alento e sobrevida ao nosso negócio café.
vamos agarrar este princípio com unhas e dentes.
BRUNO MANOEL REZENDE DE MELO

GUAXUPÉ - MINAS GERAIS - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 30/05/2010

Esclarecedor o trabalhor, considerando o exposto o cafeicultor que adotar tal manejo acaba ganhando duas vezes, primeira pela maior produtividade área e segunda por uma aplicação de fertilizantes equivalente por uma área menos adensada, além do plantio mais adensado oferecer mais proteção do solo, contra efeitos danosos dos intempéries.
PEDRO JORGE SANTOS SOUSA

BERIZAL - MINAS GERAIS

EM 25/01/2010

Trabalho com café adensado a cerca de 6 anos, o primeiro plantio feito em 2004 produziu em junho de 2006, uma média de 135 sacas beneficiados por hectare (22 hectares com 7512 plantas por hectare); a segunda produção em 2007 média de 79 sacas por hectare; 2008 média de 120 sacas; a área foi esqueletada em 50% ruas alternadas, e produziu em 2009 em alguns talhões 90 sacos por hectare e outros 30 sacos por hectare conforme a variedade utilizada. O grande entrave que considero para este sistema de plantio é o tratamento fitossanitário, pois carece de equipamentos, tornando necessário a utilização de mão de obra em quase todas os tratamentos efetuados na lavoura, e extrema dificuldade de deslocamento na lavoura o que favoreçe a infestação de pragas e doenças.
LUIZ PAULO VILELA DE OLIVEIRA

ITAGUARA - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 13/10/2009

Bom artigo, lembrando que a prática do adensamento reduz o efeito da bienualidade. Junto ao adensamento, uma boa saída para alguns casos é o uso das podas programadas, o que traz diminuição nos custos, principalmente com colheita.
GILBERTO ROSA DE SOUSA FILHO

NOVA VENÉCIA - ESPÍRITO SANTO

EM 14/09/2009

Deve-se usar a variedade arábica? Quantas plantas por ha?
NELSON BRUNI

SERRA NEGRA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 13/09/2009

Já que o cafeicultor não participa da fixação do preço de venda do produto, sobra-lhe somente a preocupação com a racionalização dos custos de produção.

Com este artigo, principalmente o pequeno cafeicultor pode tomar providencias que melhorem a produtividade e custos.

Parabéns.
ANDRÉ GUARÇONI M.

VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 11/09/2009

Agradeço, sinceramente, as palavras de incentivo dos amigos leitores. Isso mostra que nosso trabalho vem cumprindo o objetivo, ou seja, levar ao cafeicultor informações relevantes e completamente desprovidas de qualquer interesse, que não seja, apenas, aumentar sua lucratividade.

Abraço e muito sucesso a todos!

André Guarçoni M.
MAURICIO MANCUSO

GARÇA - SÃO PAULO - ESTUDANTE

EM 10/09/2009

Parabéns, André, pelo artigo muito bem escrito, que aborda um assunto extremamente importante na cafeicultura.

Pensando rapidamente, acredito que a maioria das pessoas pensariam como seu amigo produtor, que achava que deveria adubar mais o café adensado. Entretanto, você conseguiu mostar que existem trabalhos que comprovam o contrário. Provavelmente seu amigo e os demais produtores devem ter ficado muito contentes com o resultado, visto o preço dos fertilizantes químicos atualmente.

Parabéns novamente e sucesso!
CYRO TAKIUTE

MARÍLIA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 30/08/2009

Sou um médio produtor de café. Também gosto de analisar o mercado de café, porque uma mercadoria que movimenta Us$ 90 bilhões de dólares no mundo inteiro, e no Brasil emprega cerca de 8.000.000 (oito milhões) de pessoas no período de colheita em plena era industrial não é para se desprezar.

O problema todo são os encargos trabalhistas e a valorização da taxa de câmbio. Os preços internacionais do produto estão bons, mas o problema é que o cafeicultor brasileiro não recebe em dólares. e sim em reais. Na hora de se fazer a conversão em reais , o preço torna-se irrisório para o produtor brasileiro.

Resta ao cafeicultor brasileiro orar para que o Governo nos olhe aqui embaixo e rezar para o céu fazer chover na hora certa e abrir a florada no momento certo. Até a próxima colheita!
BRUNO

SERRA NEGRA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/08/2009

mto bom trabalho... mto técnico nas explicações sobre adubaçao! A cafeicultura brasileira precisa de uma reformulação de ideias como vc apresenta neste trabalho!

Caro amigo André, sou agrônomo recém-formado, trabalho na Casa da Agricultura de Serra Negra/SP, e acredito que precisamos trazer novas alternativas para a cafeicultura brasileira, pois a mesma está ficando desacreditada pelos produtores antigos. Trabalando com trabalhos técnicos como o seu, podemos mudar alguma coisa e criar alguma alternativa para baixar custos por área, como fornecer de modo correto e suficiente a lovouras adubações exatas e nao continuar jogando dinheiro fora em adubações como fazem!

Abraço e mto bom trabalho, parabéns...
CARLOS URBANO

CARATINGA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/08/2009

Parabéns, gostei deste pormenor em termo de plantio adensado e aplicação de fertilizante.
RODRIGO PEREIRA MARQUES

CAMPOS GERAIS - MINAS GERAIS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 26/08/2009

Dizem que atrás de um grande homen existe uma grande mulher. Atrás de um grande produtor existe o CaféPoint.
SILAS JOSE BARBOSA

TEÓFILO OTONI - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 26/08/2009

Valeu, mto bom.

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