Nas últimas safras, os custos de produção de café estão aumentando e se aproximando dos preços obtidos na venda dos cafés, mesmo considerando produtores e lavouras mais racionais. Isso indica que no campo, a atividade cafeeira tende a entrar em uma fase de pouca rentabilidade.
A observação do que tem ocorrido na evolução da cafeicultura brasileira ao longo dos anos mostra que essa evolução ocorre em ciclos, com fases de expansão e de retração, influenciados pelo balanço entre o preço do café e seu custo de produção.
Nos últimos anos, a lavoura cafeeira no Brasil vem mostrando um período bem definido de expansão, com novos plantios em maior escala e melhoria dos tratos nas lavouras, com consequente aumento das safras.
No mercado existem opiniões divergentes sobre a viabilidade econômica da expansão das safras de café. Uns dizem que ela é necessária para atender ao aumento do consumo projetado. Outros temem pela pressão dessa maior oferta, depreciando os preços. Aliás, isso já vem ocorrendo na expectativa da presente safra alta.
Como é difícil influir nos preços, cabe analisar como vem sendo os custos de produção dos cafés. Primeiro deve-se considerar que os custos são muito variáveis, conforme as condições particulares de cada região, do sistema de manejo das lavouras, do tipo e eficiência do produtor. No geral, os custos são muito influenciados pela produtividade da lavoura. Em anos de safra alta, são menores, e o contrário ocorre nos anos de baixa, o cafeicultor tendo que se basear na análise da produtividade média bienal.
O nível tecnológico do produtor e de suas lavouras, o uso de mecanização e de práticas racionais e que interfiram diretamente sobre a produtividade, são fatores importantes na redução dos custos de produção.
Um seminário recente sobre controle de custos de produção em fazendas de café, realizado no Sul de Minas, principal região produtora do País, com produtores de bom nível tecnológico, de tamanho médio a grande, evidenciou que, mesmo nessas propriedades bem assistidas e administradas, os custos estão ficando próximos aos preços recebidos. Em sete fazendas verificou-se que as despesas de custeio anual das lavouras variaram na faixa de 10 mil a 12,5 mil reais por ha, isto com colheita mecanizada e com produtividades na faixa de 30-36 sacas por há, portanto em condições bem superiores (cerca de 50% a mais) à média produtiva da cafeicultura brasileira. Estas despesas não consideraram quaisquer remunerações ao capital investido, nem ao empresário, apenas uma pequena depreciação dos equipamentos e da lavoura.
Os custos levantados pelo projeto Campo Futuro (UFLA/CNA), no Sul de Minas, na safra 2017, foram, respectivamente, de R$ 450,00 por saca em Sta Rita do Sapucai e R$ 462,00 em Guaxupé, naturalmente considerando o custo operacional total. O aumento verificado, de 2016 para 2017, foi de cerca de 8,4%. Para a safra de 2018, a mesma fonte estima, inicialmente, elevação de cerca de 4%, função dos aumentos nos preços dos fertilizantes, combustíveis e mão-de-obra.
Essa situação de custos pouco remuneradores se agrava quando analisada a questão da bienalidade da produtividade e das safras, com o problema adicional do produtor precisar de suporte financeiro, em função dos ciclos produtivos de altas e baixas safras em suas lavouras. Uma das fazendas controladas serve de exemplo disso. Em suas quatro últimas safras, embora a média produtiva seja de 35,5 scs/há, as produtividades sucessivas anuais foram de 50, 20, 58 e 14 sacas/ha.
Com safras médias de café na faixa de 45-55 milhões de sacas, e ainda com um potencial já instalado de cerca de 300 mil ha de lavouras novas, já implantadas e em formação, ainda não produtivas, embora boa parte tenha sido de renovação de lavouras velhas, eliminadas, a cafeicultura brasileira está adequada ao atendimento da sua demanda. Resta saber qual será efetivamente a evolução dessa demanda e do lado da oferta a influência do equilíbrio preços/custos, além do efeito imponderável das condições climáticas (frio, déficits hídricos, temperaturas altas etc), sempre um fator determinante nas safras futuras.