Ante estes números expressivos, as questões que quero propor para discussão são:
- Será que somos eficientes?
- Será que os produtores precisam de tantas cooperativas?
Ainda simplificando a questão, o preço pelo qual o produtor comprará seus insumos será aquele pago pela cooperativa, menos as despesas incorridas, já que a cooperativa não visa lucro. Na ponta da venda o raciocínio é o mesmo, ou seja, o preço de venda será igual ao preço recebido pela cooperativa, menos as despesas.
Sendo assim, a competitividade da cooperativa será medida por obter o menor preço na compra do insumo e o maior preço na venda do produto, com a menor despesa possível.
Para atingir estes objetivos, são necessários, essencialmente, três tipos de recursos, a saber:
- Financeiros (Capital),
- Humanos (Inteligência) e
- Tecnológicos
- Não precisamos de tantas cooperativas, pois não somos eficientes.
O que precisamos é de maior eficiência na alocação dos escassos recursos de nossos produtores, que, em muitos casos, estão sustentando vaidades de dirigentes de cooperativas absolutamente ineficientes.
Em muitas cidades temos duas cooperativas de café. Temos muitas cooperativas com porte insuficiente para sobreviver e a maioria não está capacitada técnica e financeiramente. O maior empecilho para a modernização está nos próprios dirigentes destas cooperativas. Existe uma anedota que mostra esta realidade:
Seis grandes cooperativas americanas resolvem fazer um processo de fusão, já que estavam perdendo competitividade. Para tanto, resolvem contratar o melhor consultor do mundo. Preocupados com o custo e o tempo do processo perguntam ao consultor de quanto tempo necessitaria para resolver este problema e ele responde:
- Apenas um dia do meu trabalho.
Incrédulos, mas satisfeitos os seis presidentes se encontram para este dia de trabalho. O consultor, então, os coloca em uma sala e diz que eles só poderão sair após resolver 3 perguntas que ele colocará em um quadro e que, uma vez respondidas as perguntas, o processo de fusão terá superado seu principal obstáculo e o trabalho dele estará concluído. As três perguntas foram:
1. Como será o nome da nova cooperativa que irá surgir da fusão?
2. Em qual cidade ficará a matriz e a sede social?
3. Quem será o presidente da nova cooperativa?
Estas questões mostram a verdadeira dimensão do problema. Interesses pessoais, bairrismo e ilusão de poder, induzem a ação de dirigentes de cooperativas que perdem, ao longo, do tempo, a real dimensão da missão para a qual foram eleitos, que é defender os interesses econômicos de seus cooperados.
Em todos os setores da economia, em todo o mundo, as empresas estão se unindo. Por quê? Países se unem. Para quê? Vamos a alguns exemplos recentes:
- O Banco Itaú comprou operações do BankBoston no Brasil, Chile e Uruguai por um valor estimado de R$ 4,5 bilhões;
- O Bradesco compra operações do American Express no Brasil, por US$ 490 milhões;
- A Bayer vende a unidade de diagnósticos para a Siemens, por € 5,27 bilhões, para financiar parte da aquisição da Schering, por € 17 bilhões;
- A Arcelor se funde à Mittal Steel, formando uma nova empresa que irá produzir 10% do aço consumido no mundo;
- A Lenovo, empresa chinesa de computadores, comprou a divisão de computadores pessoais da IBM, por US$ 1,25 bilhão;
Por que as cooperativas continuam com a mesma imobilidade?
Será que estamos honrando os cargos para os quais fomos eleitos? Será que estamos atendendo às expectativas de nossos cooperados? Será que somos suficientemente competentes para atender às exigências do mercado?
Sei que a fusão de cooperativas pode ser um sonho utópico, mas o processo de reestruturação é uma necessidade, pode se dar de diferentes modos e traz, ao menos, três benefícios claros:
- Economia de escala,
- Poder de mercado e
- Influência política.
Com este objetivo, podemos visualizar três modelos. Fusão, Incorporação e Alianças Estratégicas entre cooperativas e não cooperativas.
Não sei qual modelo as cooperativas devem seguir. Se as fusões e aquisições são modelos mais radicais, ainda que mais eficientes, as alianças estratégicas podem ser um caminho que, no futuro, levem as cooperativas a adotar ações mais ousadas e de maior retorno aos seus associados.
Não sei qual deve ser o caminho, mas sei que não podemos ficar parados, sob pena de vermos mais cooperativas quebrarem, dívidas se acumularem, e produtores, principalmente os médios e grandes, buscando alternativas fora do sistema cooperativista, por entender que este não atende suas necessidades.
O desafio está posto. Se há quem discorde que se manifeste. Se não há, vamos agir, se pretendemos construir um cooperativismo mais forte, economicamente eficiente e socialmente justo.