Em algumas regiões é difícil e oneroso realizar várias pulverizações no cafeeiro uma vez que esta época também coincide com o período chuvoso. O que se tem observado na prática, é que muitos cafeicultores estão adotando misturas de tanque entre fungicidas ou inseticidas com nutrientes, visando associar o tratamento fitossanitário com correção da deficiência nutricional do cafeeiro.
A principal vantagem está na possibilidade de reduzir o número de pulverizações da lavoura, pois numa única aplicação pode ser feito tanto o controle de doenças ou pragas quanto o fornecimento de nutrientes essenciais para o cafeeiro reduzindo o custo final de produção.
Em muitos casos esta mistura de produtos não compromete o tratamento fitossanitário devido a ação curativa dos fungicidas sistêmicos, protetora do cobre e nutricional dos nutrientes. Entretanto os resultados de pesquisa têm indicado redução de 7 a 10% na eficiência dos fungicidas sistêmicos (Figura1).
A compatibilidade física e química entre os produtos deve ser observada quando estes forem associados à calda de pulverização. A compatibilidade física corresponde a formação de precipitados (grânulos) na calda pode levar, por exemplo, ao entupimento dos bicos de pulverizações e à perda de eficácia dos produtos.
Em relação a compatibilidade química é importante saber que em reações alcalinas (pH acima de 7,0) nas caldas de pulverizações pode ocorrer decomposição da maioria dos inseticidas e fungicidas, comprometendo a eficácia do tratamento. Cada produto apresenta uma faixa de pH (que varia entre 5,0 e 6,5) onde a sua atividade é otimizada.
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Figura 1- Incidência da ferrugem (%) em plantas de cafeeiro submetidas a aplicação de diferentes fungicidas (em vermelho) e a mistura destes com calda Viçosa - Viça Café (em verde) .
T1-Testemunha (sem fungicida); T2-Calda Viçosa (Viça Café); T3-Epoxiconazole+Piraclostrobina (Opera); T4-Epoxiconazole (Opus); T5-Trifloxistrobina+Ciproconazole (Sphere); T6-Triadimenol (Bayfidan); T7-Ciproconazole (Alto 100); T8- Ciproconazole+Azosxistrobina (Priori xtra); T9-Tetraconazole (Domark); T10-Tebuconazole (Folicur); T11- Flutriafol (Impact).
Fonte: Danival Ricardo Costa (dados não publicados)
Elementos não necessários na calda de pulverização além de aumentar custos, podem interferir na absorção foliar de outros produtos, inclusive dos fungicidas ou inseticidas sistêmicos. O cobre, por exemplo, compete reduzindo a absorção de zinco no cafeeiro.
Em condições de campo a correção da deficiência não é afetada porque a quantidade de zinco presente nas formulações prontas de micronutrientes (calda Viçosa, por exemplo) é um pouco mais elevada. Se os produtores optarem pela mistura de fungicidas com nutrientes, só devem ser utilizados micronutrientes em quantidades necessárias para corrigir a deficiência nutricional. Isto evita problema de fitotoxidez, principalmente em relação ao excesso de zinco e boro.
As misturas de fungicidas com nutrientes só devem ser utilizadas se realmente apresentarem vantagens econômicas em comparação ao uso dos fungicidas em separados. Podem ser utilizadas, por exemplo, quando os preços estão favoráveis ou quando o controle simultâneo de doenças e a correção da deficiência nutricional são necessários.
É importante relatar que o Ministério da Agricultura não regulamenta o uso da mistura de tanque para produtos fitossanitários, sendo permitidas o uso apenas as misturas prontas que estão disponíveis no mercado, como por exemplo, triazóis+estrobilurinas ou triazóis+inseticidas sistêmicos, dentre outras.
Isto porque há sempre o risco destas misturas resultarem em produtos não eficientes e mais tóxicos do que se fossem empregados separadamente. Além disso, aumenta a probabilidade da quantidade de resíduos ultrapassarem o limite tolerável para a cultura.
Atualmente existe uma preocupação mundial a respeito dos resíduos de pesticidas nos alimentos o que tem influenciado diretamente na comercialização mundial de determinados produtos agrícolas. Com o crescente aumento dos programas de certificação no cafeeiro acredita-se que esta prática não será permitida no futuro.
Não foi objetivo deste trabalho, incentivar o uso de tais misturas, mas levantar algumas considerações a respeito de uma prática que está se tornando cada vez mais comum na cafeicultura e carece de estudos sobre efeitos toxicológicos ao homem e ao ambiente.
Bibliografia consultada
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